quarta-feira, 14 de junho de 2023

A HISTÓRIA DA MINHA MULHER

Antonio Carlos Egypto

 

 



A HISTÓRIA DA MINHA MULHER (Afeleségem Története).  Hungria, 2021.  Direção: Ildeikó Enyedi.  Elenco: Gijs Naber, Léa Seydoux, Louis Garrel, Sergio Rubini, Jasmine Trinca.  169 min.

 

“A História da Minha Mulher” é o que podemos chamar de cinemão.  Uma produção elaborada, que envolveu diversos países: França, Alemanha, Itália, além da Hungria, com um elenco internacional.  É um roteiro adaptado pela cineasta húngara Ildeikó Enyedi, a partir de um romance antigo, de 1946: The Story of My Wife: the reminiscences of Captain Storr, do também húngaro Milan Fust.

 

O filme é longo, tem quase três horas de duração e está dividido em sete capítulos.  Não conheço o romance original, que aliás é inédito no Brasil, mas tudo indica que se trata de uma adaptação ampla e fiel do livro.  Os capítulos se sucedem contando uma história de amor complicada, cheia de altos e baixos, estranha desde a sua concepção, e que se valeu da distância entre os amantes, enquanto sobreviveu.

 

A narrativa foca na figura do Capitão Jacob Storr, vivido pelo ator holandês Gijs Naber, em que a sutileza da atuação, cheia de nuances, enriquece de detalhes o personagem do Capitão, com grande naturalidade.  As constantes viagens, deixando sua mulher em terra firme (até porque ela não ia quando podia acompanhá-lo), acentuam a saudade, o desejo e o que é fatal: a desconfiança e o ciúme.

 

A mulher do Capitão, Lizzy, vivida pela atriz francesa Léa Seydoux, que tem estado em destaque em produções cinematográficas atuais, mostra uma ambiguidade e uma inconstância no seu amor.  Ao mesmo tempo em que se mostra visceral e manipuladora em momentos decisivos da vida desse casal.  Um objeto de ciúme do Capitão Storr é o jovem Dedin, vivido pelo badalado ator francês Louis Garrel, em pequeno papel, uma figura que alia charme a ociosidade e poucos escrúpulos.


 



Vamos acompanhando a trajetória dessa relação amorosa, sempre a partir da visão do Capitão.  O que traz uma sensação interessante, já que ele oscila em seus sentimentos, dúvidas, comportamentos, e o seu vai-e-vem na questão amorosa impregna o filme do começo ao fim.

 

Quem gosta de acompanhar uma história bem contada, com clareza e sem atropelos, que vai se desenrolando por meio de diálogos, em geral claros e diretos, vai apreciar o filme.  Quem valoriza mais o visual, que transmite a trama, também não vai se decepcionar: a beleza e o significado do mar nas mãos da diretora húngara também preenchem o filme de expressões e de sentimentos diversos, colocando o Capitão no clima dos diferentes momentos da relação amorosa.  As locações na cidade de Budapeste também contribuem para o visual atraente de “A História da Minha Mulher”.

 

Chama a atenção a enorme quantidade de cenas em que se fuma no filme.  Impressionante.  O cigarro parece um personagem adicional da história, já que está onipresente em praticamente todas as sequências.  Achei desmedido isso.  O filme, exibido no Festival de Cannes, concorreu à Palma de Ouro, mas não levou.



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