sábado, 27 de agosto de 2022

MARIA, NINGUÉM SABE QUEM SOU EU

        Antonio Carlos Egypto

 

 



MARIA, NINGUÉM SABE QUEM SOU EU.  Brasil, 2021.  Direção e roteiro: Carlos Jardim.  Documentário com Maria Bethânia.  100 min.

 

 

Maria Bethânia é um ícone da cultura brasileira, desde 1964, quando substituiu Nara Leão no espetáculo Opinião e apresentou uma interpretação arrebatadora de “Carcará”, de João do Vale e José Cândido.  Já lá se vão 57 anos de uma carreira como cantora, intérprete e declamadora de autores, como Fernando Pessoa, Clarice Lispector e Mia Couto, entre tantos outros. Bethânia é muito conhecida e amada por um público tão amplo quanto o Brasil, sem contar o seu sucesso no exterior.

 

Por tudo isso, soa estranho o título do documentário, em que uma vez mais se homenageia a artista, realizado por Carlos Jardim: “Maria, ninguém sabe quem eu sou”.  Como assim?  Claro que sabemos quem ela é.  O que esse título sugere é que algo novo e original sobre ela seria revelado.  O documentário se vale de um depoimento inédito, longo, recente, muito articulado, inteligente e perspicaz, que ela deu ao filme.  Mas o que ficamos sabendo que não se conhecia?  Muito pouco, detalhes de uma vida muito rica, alguns aspectos pessoais menos abordados.  E só.  Absolutamente não justifica o título.  Podemos chamá-lo até de propaganda enganosa.

 

Será que por isso seria melhor não ir ver “Maria, ninguém sabe quem eu sou”?  Não, de modo algum.  Além de ouvi-la falar, o que é muito bom, pode-se rever muitas gravações de shows, espetáculos e ensaios que nos mostram a amplitude e o bom gosto de seu repertório e dos textos declamados.

 

Podemos revê-la ao longo de cinco décadas de trabalho, em momentos muito interessantes, famosos ou não, em que ela mostra sua forte presença nos palcos, algo marcante e decisivo em sua vida e carreira, que ela também comenta na entrevista/depoimento.

 

Há ainda um conjunto de cinco textos sobre a importância de Maria Bethânia para a cultura brasileira, escritos por Ferreira Gullar, Nelson Motta, Fauzi Arap, Caio Fernando Abreu e Reynaldo Jardim, interpretados por ninguém menos do que a grande dama do nosso teatro, Fernanda Montenegro.

 

Como se vê, não é pouco o que nos oferece o documentário de Carlos Jardim.  O que não cabe mesmo é o título desse filme.  Melhor ignorá-lo.




 

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