sexta-feira, 15 de abril de 2022

O TRAIDOR

  Antonio Carlos Egypto

 

 



O TRAIDOR (Il Traditore), Itália, 2019.  Direção: Marco Bellocchio.  Elenco: Pierfrancesco Favino, Maria Fernanda Cândido, Fabrizio Ferracane, Luigi Lo Cascio, Jonas Bloch.  153 min.

 

A história de Tommaso Buschetta (1928-2000) está sendo contada no filme “O Traidor”, dirigido pelo grande realizador italiano Marco Bellocchio.  Esse dirigente do alto escalão da máfia siciliana teve fortes relações com o Brasil, o que dá ao filme um interesse maior para o nosso público.  Buschetta foi casado com uma brasileira, Maria Cristina de Almeida Guimarães, papel de Maria Fernanda Cândido em “O Traidor”.  Morou no Brasil de 1949 a 1956, quando teve uma fábrica de vidro, com pouco sucesso.  Retornou a Palermo e passou ao contrabando de drogas e assassinatos, junto com outros mafiosos.  Voltaria a viver aqui nos anos 1970, mas foi preso e deportado para a Itália em 1972.  Voltou novamente ao Brasil nos anos 1980, quando uma guerra generalizada acontecia entre chefes mafiosos sicilianos , pelo controle do tráfico de heroína.  Enquanto estava refugiado no Brasil, seus filhos e irmãos seriam assassinados.  Ele seria o próximo? Novamente preso e extraditado, encontra-se com o juiz Giovanne Falcone em Roma e resolve falar, denunciar o que sabia sobre a Cosa Nostra, e isso acabou sendo um tsunami que envolveu a organização criminosa.

 

A história, que é contada com riqueza de detalhes em “O Traidor”, é complexa, cheia de nuances, vai-e-vens, e envolve um personagem ambíguo: grande bandido, herói, covarde, traidor.  O fato é que ele teve um papel importantíssimo na história da máfia e as notícias que circularam por aqui à época não davam a dimensão exata da figura.  “O Traidor” cumpre a função de retratar Tommaso Buschetta em seus diversos aspectos, ângulos e significados muito bem.  Segue uma narrativa mais clássica, descritiva, apesar das idas e vindas no tempo.  É longo, havia muito o que contar, porém exige que o interesse no tema e, principalmente, no personagem sejam grandes por parte do espectador.  O filme não perde o ritmo, é ágil, tem um elenco muito bom, capitaneado por Pierfrancesco Favino e com Maria Fernanda Cândido como coprotagonista e com a participação também de Jonas Bloch.  Afinal, é uma coprodução com o Brasil e foi filmado parcialmente aqui.

 

Eu diria que é um bom filme, mas um filme menor na filmografia de Bellocchio, que já dirigiu trabalhos como “Vincere”, de 2009, “Bom dia, Noite”, de 2003, “Belos Sonhos”, de 2016, “Diabo no Corpo”, de 1986, “Henrique IV”, de 1984.  E o octogenário diretor tem um novo filme, que em breve será lançado por aqui, “Marx Pode Esperar”, de 2021.  Enfim, sempre vale a pena dar atenção aos filmes de Marco Bellocchio.  Talento e experiência ele tem de sobra.



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