Antonio Carlos Egypto
A MÃO DE DEUS (È Stata la Mano di Dio), Itália, 2021. Direção e roteiro: Paolo Sorrentino. Elenco: Filippo Scotti, Toni Servillo, Teresa
Saponangelo, Luisa Ranieri, Marion Joubert.
130 min.
“A Mão de Deus” não é um filme
religioso, nem nome de música de padre cantor.
A expressão remete, na verdade, ao famoso gol de mão de Maradona, da
seleção argentina, na Copa do Mundo de 1986.
Mas também não é um filme sobre futebol, embora se alimente dele, nem
mesmo sobre o grande craque mundial que foi Maradona, embora ele seja um
personagem importante da narrativa.
Então vamos lá. “A Mão de Deus” é um
painel da vida de um adolescente em Nápoles, nos anos 1980. Seu convívio com a família, mostrada de forma
caricata, na maior parte do tempo, incluindo pais amorosos, mas uma mãe que
vive pregando peças nos outros, um irmão mais velho mulherengo, uma tia jovem e
bonita, que toma sol nua diante de todos, e um exército de figuras obesas,
sobretudo as mulheres, da família e da vizinhança. Sem falar na nonna, desbocada, que só atua na base do palavrão. São tipos inspirados em Fellini, que é citado
e lembrado ao longo do filme, assim como outros diretores italianos, como
Franco Zeffirelli.
Por sinal, o destino do adolescente
Fabietto (Filippo Scotti) é ser diretor de cinema. Bingo!
É uma autobiografia de Paolo Sorrentino, o realizador do filme. Bem, pelo menos, inspirado na história
pessoal do cineasta com certeza o filme é.
As questões que movem o adolescente
estão lá, mostradas em várias sequências que exploram expressivamente o
ambiente e o período de vida de Fabietto, seus interesses e preocupações. Entre eles, o despertar da sexualidade, o amor
e perdas irreparáveis que vão dar um tom também de tragédia ao filme.
A característica marcante de “A Mão de
Deus” é, porém, a leveza, o humor. A
homenagem a Maradona é absolutamente natural, se considerarmos um adolescente
vivendo em plena época em que o jogador foi contratado pelo time de futebol do
Nápoles e alcançou tamanho êxito, a ponto de ficar conhecido como “o Rei de
Nápoles”. Era a glória, para preencher a
vida de um jovem naquele momento. Mas,
como tudo, isso também passa e, no advento da maioridade, a festa do campeonato
do time napolitano já não exerce o mesmo apelo de antes.
Quanto ao elenco, temos, no papel do
pai de Fabietto, Savério, o grande ator Toni Servillo, colaborador habitual do
diretor. Teresa Saponangelo faz a
divertida mãe Maria, a bela Luisa Ranieri explora sua sensualidade no papel da
desejada tia Patrícia e Marion Joubert faz Marchino, o irmão mais velho e
companheiro. Filippo Scotti, o
protagonista adolescente, onipresente na trama, segura muito bem o filme em sua
juventude. E todo o elenco adicional complementa
tudo muito bem e acrescentando mais alguns tipos característicos à história.
O filme é bonito visualmente, tem um
tom poético, mostra relacionamentos pessoais com muito afeto e bem à
italiana. Ou seja, com muita
efusividade, gritaria e dramaticidade.
E, naturalmente, envolvidos pela comida. Presta uma homenagem àquele
cinema italiano que encantou gerações, com seus mestres. Paolo Sorrentino é um desses nomes importantes
do cinema italiano na atualidade. “A
Grande Beleza”, de 2013, é um de seus trabalhos mais conhecidos. “A Mão de Deus” levou o Leão de Prata no
Festival de Veneza e está indicado à disputa do Oscar de filme internacional
pela Itália. É uma produção da Netflix,
está em exibição nos cinemas, mas estará disponível por lá, para os que assinam
o serviço de streaming.
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