Antonio Carlos Egypto
CIDADÃOS DO MUNDO (Lontano Lontano). Itália, 2020.
Direção: Gianni Di Gregorio. Com
Gianni Di Gregorio, Giorgio Colangeli,
Ennio Fantastichini, Daphne Scoccia.
91 min.
Em tempos de prevalência do mundo
rural sobre o mundo urbano, no Brasil, dizia-se que a galinha do vizinho era
mais gorda ou punha mais ovos. É uma
maneira de fantasiar sobre aquilo que não se conhece direito, invejar o que não
se tem, criar expectativa sobre aquilo que poderíamos ser, ou ter. A comédia
italiana “Cidadãos do Mundo”, de Gianni di Gregorio, brinca com questões como
essa, de um modo leve, mas também explicativo, quase didático.
Os personagens centrais são três
homens idosos, dispostos a mudar de vida, insatisfeitos com o que têm, de uma
maneira ou de outra. Gianni Di Gregorio,
diretor, corroteirista e também ator do filme, faz o professor que ensinava
latim antes de se aposentar. E que
garante que seus alunos ainda se recordam do que aprenderam com ele. Os vencimentos de aposentado, porém, não
satisfazem.
Giorgetto (Giorgio Colangeli) reclama
ainda mais da aposentadoria, obtida mais por idade do que por tempo de serviço,
já que, ao que parece, ele nunca trabalhou de fato. Ele, junto com o irmão, herdaram uma banca de
frutas, mas não quer saber de trabalhar lá.
A partir dessa insatisfação, Giorgetto
e o professore se encontram com outro
companheiro disposto a mudar de vida: Attilio (Ennio Fantastichini), que não
tem aposentadoria, vive de comercializar móveis e objetos antigos.
O trio decide, então, que está na hora
de sair da Itália, em busca de um lugar ideal, aprazível, sem grandes problemas
climáticos, nem guerras ou terrorismo, onde, com o dinheiro que têm, possam
viver melhor, aproveitar melhor a vida.
Que lugar seria esse? Eles
resolvem pedir ajuda a outro amigo/conhecido, que lhes dá informações. Começando pelo preço da cerveja, em
euros. Escolher o lugar já é um grande
problema, porém, os cidadãos do mundo, na verdade, são provincianos, para quem
os próprios arredores europeus são desconhecidos e a quem falta tudo para tomar
as providências necessárias para tais câmbios de vida.
É aí que a narrativa explora o quanto
é preciso planejar e considerar tudo o que envolve essa viagem e mudança de
país, ainda que não precisem ir para muito longe de Roma. Desfazer-se de casa e dos objetos, vendê-los
para angariar dinheiro, tentar transferir a aposentadoria para outro lugar,
livrar-se do passado, dos familiares, do cachorro. Dá tanto trabalho e vai-se revelando cada vez
mais incerto, e duvidoso quanto aos ganhos, que o trio balança. Cada um a seu modo tem medo do que
engendraram.
Como toda ação que visa à mudança,
novas descobertas surgem, no mundo real e no mundo interno, que interferem nos
planos originais. Fica bem interessante
acompanhar o processo vivido por esses três senhores, maduros, porém ingênuos e
despreparados para o que se propuseram a fazer.
O espectador vive com cada um deles um pequeno drama, situações que
beiram o constrangimento, e a gente sorri, mas lamenta por eles.
O que não quer dizer que não
encontrarão um modo de resolver a questão que passe pelo humanismo e pela
empatia, características que foram marcantes no cinema italiano e que ainda
encontramos na filmografia recente do país, como é o caso aqui.
Gianni Di Gregorio, diretor do ótimo
“Almoço em Agosto”, de 2009, e corroteirista de “Gomorra”, de 2008, bom ator
também, compõe com seus companheiros de cena um trio cativante de personagens
que têm vida e anseios legítimos enquanto pessoas idosas, que podem ser um
tanto trapalhões, mas são boa gente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário