segunda-feira, 2 de agosto de 2021

ABE

Antonio Carlos Egypto

 

ABE.  Brasil, 2019.  Direção: Fernando Grostein Andrade.  Com Noah Schnapp, Seu Jorge, Dagmara Dominczyk, Arian Moayed, Gero Camilo.  86 min.

 

 “Abe”, filme brasileiro dirigido por Fernando Grostein Andrade, apresentado como comédia dramática, na realidade não é tão engraçado, nem tão dramático.  É um filme dirigido a adolescentes, a partir de seu protagonista: um garoto de 12 anos de idade, de classe alta, que vive no Brooklin, Estados Unidos.  Ele é um aficionado pela comida, gosta de cozinhar, testar sabores, ou seja, estamos falando de gastronomia.  Só que ele tem um talento especial para a coisa e é em torno disso que a narrativa segue.

 

Curiosamente, Abe (Noah Schnapp) não tem amigos, exceto virtualmente. Suas andanças são em busca de aperfeiçoar seu talento culinário e sua vida gira em torno da família.  Uma cena mostra seu aniversário com familiares dos dois lados, pai, mãe e avós, e só.

 

Pelo lado da mãe, ele é judeu e se chama Avraham (em hebraico) ou Abraham (em inglês).  Pelo lado do pai, é muçulmano e chamado de Ibrahim (em árabe), sendo que o pai, na verdade, não é religioso, é ateu.  Por tudo isso, ele escolheu ser chamado de Abe.  Pelo menos, é o que ele gosta.

 



Os problemas decorrentes dessas identidades diversas aparecem como conflitantes, a partir da própria comida.  Ele não sabe se pratica o jejum do Ramadan, come porco ou faz bar mitzvah.  As refeições, quando reúnem os dois lados da família, sempre acabam mal. Vai daí que Abe resolve se dedicar à fusão gastronômica, com a ajuda de um chef brasileiro, vivido por Seu Jorge, a partir da ideia de que misturar sabores pode unir as pessoas.  Será que funcionará?

 

Ideias como essa perpassam a trama, com frases do tipo autoajuda: “seja você mesmo”, “a família a gente não escolhe” e outras do gênero.  É raso, mas pode funcionar para os mais jovens.  O uso e abuso das mensagens de Internet, a colocação de palavras na tela, em ritmo acelerado, dialogam justamente com esse público.

Há um evidente bom gosto na trilha sonora que acompanha as peripécias de Abe e seus relacionamentos com adultos.  A música parece se dirigir mais aos adultos do que aos que têm doze anos.  Conta com o talento de Jacques Morelembaum, música até de Tom Jobim, e termina já nos créditos finais muito bem, com a milonga “Moro Judio”, de Jorge Drextler.

 

Que adolescentes se identificarão com um personagem como esse, num filme brasileiro, falado em inglês, eu não sei.  Parece muito distante de representar a realidade dos jovens brasileiros, mesmo dos que são ricos e vivem, ou viveram, no exterior. Embora o filme não deixe de mostrar que mesmo futuros chefs de cozinha bem aquinhoados de posses e talento culinário tenham que ralar, trabalhar muito e fazer coisas chatas, difíceis ou sem glamour.  Menos mal.

 



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