sexta-feira, 20 de agosto de 2021

A 200 METROS_MOSTRA ÁRABE

Antonio Carlos Egypto

 

 A 16ª. Mostra Árabe de Cinema 2021 acontece de forma on line e gratuita no site do Sesc Digital.  Está apresentando produções recentes e inéditas marcadas pela diversidade dos países árabes. Ocorre de 20 de agosto a 16 de setembro.  A cada sexta-feira estreia um novo filme, que permanece disponível durante sete dias.  Para assisti-los, é só se inscrever no site e, a partir daí, acessar sescsp.org.br/cinemaemcasa.  Nesta semana, já está em cartaz, até quinta-feira, “A 200 Metros”, filme palestino, cujo comentário segue abaixo.

 

 



A 200 METROS (200 meters).  Palestina, 2020.  Direção: Ameen Nayfeh.  Com Ali Suliman, Anna Unterberger, Motaz Malhees, Mahmond Abu Aita, Lana Zreik.  97 min.

 

A trama de “A 200 Metros” envolve relações familiares, questões de saúde, dificuldades nos deslocamentos, aspectos pessoais que perpassam por desconfianças e preconceitos.  O eixo disso tudo, no entanto, é um só: as barreiras – controles, muros – que separam e que limitam os palestinos em seu próprio território, controlados por Israel.

 

Mustafá (o famoso ator palestino Ali Suliman) é um palestino casado com uma mulher israelense e com três filhos.  Nessa circunstância, ele teria o direito de adotar identidade israelense, o que lhe permitiria liberdade de movimentos.  Mas ele não quer abrir mão de sua origem palestina.  É, inclusive, criticado por isso.  Com essa decisão, ele fica dependente de um cartão de circulação, que deve ser constantemente renovado, e da autorização de entrada em Israel para trabalhar, por exemplo.

 

A mulher e as crianças podem circular mais facilmente, mas o trabalho dela implica viver em Israel.  Enquanto isso, ele permanece na Cisjordânia, com a mãe.  A família se comunica à distância, por luzes, na maior parte dos dias, quando ela e as crianças não vêm.  São só 200 metros de distância.  Entre eles, uma fronteira e um muro eletrificado.

 



Apesar de passar por controles diversos, digitais, detecção de metais, etc., ele pode ir a Israel desde que esteja com o cartão de passe em dia.  Mas o que pode acontecer diante de um imprevisto, se ocorrer um esquecimento?  Ou seja, se o cartão não tiver sido atualizado, como deve acontecer periodicamente?  Bem, será necessário, então, realizar uma aventura “ilegal” de 200 kms para chegar do lado de lá.

 

Com essa premissa, o filme acompanha a viagem de Mustafá em busca de sua família, especialmente de seu filho que precisa dele num momento crítico.  Além da mulher e das outras duas crianças, suas filhas, que o esperam ansiosamente.  A ansiedade dele também é grande, porque se trata de um pai presente e amoroso.

 

“A 200 Metros” se torna, assim, um drama familiar, com conotações políticas intensas, e é também um road-movie e uma aventura.  Elementos suficientes para interessar e envolver o espectador.  Além disso, entramos num contexto cultural bem diferente do nosso e aprendemos, convivendo com diversos personagens que circulam na região, reunidos num transporte “alternativo”, sujeito a todo tipo de dificuldades.  Por ali aparecem até mesmo uma cineasta e turista alemã e seu namorado de origem palestina, realizando filmagens.

 

A narrativa deixa algumas coisas no ar, não amarra tudo o que poderia e deveria, sendo linear, como é o caso.  Ainda assim, o conjunto é bem convincente, a produção é boa, a direção, segura, e o elenco, competente.  Vale a pena conhecer o filme, escolhido pela Jordânia para concorrer ao Oscar 2021 de filme internacional, e acompanhar a Mostra, que sempre traz produtos atraentes e variados sobre o mundo árabe, o que acrescenta bastante em termos de informação e de reflexão.  E em termos de diversão, também.

 

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