segunda-feira, 9 de novembro de 2020

MEU BALANÇO DA #44 MOSTRA

Antonio Carlos Egypto

 

Como já afirmei aqui, mais de uma vez, sempre fui um frequentador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que foi para mim uma verdadeira escola de cinema.  Fiz isso por mais de 40 anos, todos os anos, vendo o máximo de filmes que podia.  Já há um bom tempo, minha média tem girado em torno de 50 ou 60 filmes por edição.

 

Aí veio a pandemia, o fechamento dos cinemas, mas havia a esperança de que até outubro fosse possível realizar a Mostra.  Logo se viu que não e, como tudo tem que ser providenciado com muita antecedência, Renata de Almeida e a equipe da Mostra resolveram realizá-la pela primeira vez on line.  De um lado, fiquei muito feliz.  Apesar de tudo, a Mostra resistia e aconteceria.  De outro, temia pelos problemas.  Nunca me entusiasmei por streaming, ver cinema em casa sempre foi por meio do DVD, geralmente para conhecer filmes que já não estavam disponíveis ou para rever filmes conhecidos e importantes.  Como fazer com as oscilações de Internet, o travamento na hora de assistir?  Daria para ver quantos filmes dessa forma? E como avaliá-los assim?  Sem falar nas famosas interrupções domésticas.




 

O que não tem remédio remediado está.  Não é assim que diz o ditado?  Pois é, se é a única maneira de ver os filmes da Mostra, vamos a ela.  Até porque de nada adiantaria se tivesse sido mantido o esquema presencial.  Mesmo com os cinemas abertos, eu não teria coragem de passar horas e horas nas salas, enfrentando aglomerações, ar condicionado e tudo o mais.  Iria simplesmente saltar esse ano, pela primeira vez.

 

A frustração foi grande, porque a Mostra é uma oportunidade de conviver com pessoas, que a gente só de vez em quando, alguns só nessa época.  De rever os conhecidos cinéfilos de sempre.  De conversar sobre filmes com desconhecidos. A troca de informações, de ideias é importante. E a falta que faz a imprescindível tela grande e o som da sala de cinema.

 

Bem, encarei a nova proposta e, para minha surpresa, deu tudo muito certo.  O esquema montado pela 44ª. Mostra foi muito competente e profissional.  Os filmes entravam e rodavam muito bem.  As orientações recebidas funcionaram.  Foram raros, diminutos, os problemas.  Acabei me acostumando a ver os filmes na tela do notebook, e gostando.

 

Tanto é verdade, que acabei de contar o que consegui ver desde a semana anterior à Mostra, com cabines virtuais, até a repescagem e foram 50 filmes, exatamente.  Ou seja, ficou na média do que eu costumava assistir nos cinemas.  Não é a mesma coisa, mas não posso negar que gostei da experiência.

 

A 44ª. Mostra manteve a qualidade, mesmo com pouco mais da metade dos títulos usualmente exibidos.  Foram 198 filmes, quando outras edições chegaram a alcançar perto de 400 títulos.  Reduziu-se o cardápio para escolha.  Considerando, porém, que, quando a oferta é muita a gente se perde, acho que perdemos pouco.  Não pretendo trocar a sala de cinema pelo cinema em casa e espero que a próxima edição da Mostra possa se realizar no esquema habitual.

 

No entanto, se houve perdas, também houve ganhos.  Acredito que muitas pessoas puderam conhecer um pouco da Mostra e possam ter descoberto a sua importância.  Os que se acomodam em casa desta vez puderam conhecer um cinema menos comercial, mais elaborado, em sua produção mais atual.  E quem está fora de São Paulo não precisou vir até aqui ou deslocar-se para acompanhar a Mostra.  O Brasil inteiro pôde usufruir da Mostra on line.  Já vi gente reivindicando a manutenção do esquema virtual nas próximas edições, visando a alcançar uma abrangência nacional.

 

Viajar atualmente também é um problema e envolve riscos.  Tudo está mudando, se ajustando, até que possamos encontrar um modus vivendi  com o novo coronavírus.  A vacina vai ajudar, não vai resolver tudo.  Depende de nós o que faremos no novo estilo de vida.  Cultura para todos, sem aglomeração?  Difícil, não?  A cultura virtual é uma solução provisória, pois nada pode substituir o contato humano, na arte e na vida. Quem viver, verá.

 




FILMES QUE LEVARAM PRÊMIOS NESSA MOSTRA

 

Júri Internacional – Novos Diretores

Ficção: EIYMOFE - ESSE É O MEU DESEJO (Nigéria)

Documentário: 17 QUADRAS (Estados Unidos)

Menção Honrosa ao documentário brasileiro: CHICO REI ENTRE NÓS e à atriz Thiessa Woinbackk, de VALENTINA.

 

Prêmio do Público

Ficção internacional: NÃO HÁ MAL ALGUM (Irã)

Ficção nacional: VALENTINA

Documentário internacional: WELCOME TO CHECHNYA (Estados Unidos)

Documentário nacional: CHICO REI ENTRE NÓS

 

Prêmio da Crítica

Melhor filme estrangeiro: MOSQUITO (Portugal)

Melhor filme nacional: GLAUBER, CLARO

 

Prêmio Abraccine para diretores brasileiros estreantes

ÊXTASE, de Moara Passoni

@mostrasp




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