Antonio Carlos Egypto
Como já afirmei aqui, mais de uma vez,
sempre fui um frequentador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que
foi para mim uma verdadeira escola de cinema.
Fiz isso por mais de 40 anos, todos os anos, vendo o máximo de filmes
que podia. Já há um bom tempo, minha
média tem girado em torno de 50 ou 60 filmes por edição.
Aí veio a pandemia, o fechamento dos
cinemas, mas havia a esperança de que até outubro fosse possível realizar a
Mostra. Logo se viu que não e, como tudo
tem que ser providenciado com muita antecedência, Renata de Almeida e a equipe
da Mostra resolveram realizá-la pela primeira vez on line. De um lado, fiquei
muito feliz. Apesar de tudo, a Mostra resistia
e aconteceria. De outro, temia pelos
problemas. Nunca me entusiasmei por streaming, ver cinema em casa sempre foi
por meio do DVD, geralmente para conhecer filmes que já não estavam disponíveis
ou para rever filmes conhecidos e importantes.
Como fazer com as oscilações de Internet, o travamento na hora de
assistir? Daria para ver quantos filmes
dessa forma? E como avaliá-los assim?
Sem falar nas famosas interrupções domésticas.
O que não tem remédio remediado
está. Não é assim que diz o ditado? Pois é, se é a única maneira de ver os filmes
da Mostra, vamos a ela. Até porque de
nada adiantaria se tivesse sido mantido o esquema presencial. Mesmo com os cinemas abertos, eu não teria
coragem de passar horas e horas nas salas, enfrentando aglomerações, ar
condicionado e tudo o mais. Iria
simplesmente saltar esse ano, pela primeira vez.
A frustração foi grande, porque a
Mostra é uma oportunidade de conviver com pessoas, que a gente só de vez em quando,
alguns só nessa época. De rever os
conhecidos cinéfilos de sempre. De conversar
sobre filmes com desconhecidos. A troca de informações, de ideias é importante.
E a falta que faz a imprescindível tela grande e o som da sala de cinema.
Bem, encarei a nova proposta e, para
minha surpresa, deu tudo muito certo. O
esquema montado pela 44ª. Mostra foi muito competente e profissional. Os filmes entravam e rodavam muito bem. As orientações recebidas funcionaram. Foram raros, diminutos, os problemas. Acabei me acostumando a ver os filmes na tela
do notebook, e gostando.
Tanto é verdade, que acabei de contar
o que consegui ver desde a semana anterior à Mostra, com cabines virtuais, até
a repescagem e foram 50 filmes, exatamente.
Ou seja, ficou na média do que eu costumava assistir nos cinemas. Não é a mesma coisa, mas não posso negar que
gostei da experiência.
A 44ª. Mostra manteve a qualidade,
mesmo com pouco mais da metade dos títulos usualmente exibidos. Foram 198 filmes, quando outras edições
chegaram a alcançar perto de 400 títulos.
Reduziu-se o cardápio para escolha.
Considerando, porém, que, quando a oferta é muita a gente se perde, acho
que perdemos pouco. Não pretendo trocar
a sala de cinema pelo cinema em casa e espero que a próxima edição da Mostra
possa se realizar no esquema habitual.
No entanto, se houve perdas, também
houve ganhos. Acredito que muitas
pessoas puderam conhecer um pouco da Mostra e possam ter descoberto a sua
importância. Os que se acomodam em casa
desta vez puderam conhecer um cinema menos comercial, mais elaborado, em sua
produção mais atual. E quem está fora de
São Paulo não precisou vir até aqui ou deslocar-se para acompanhar a
Mostra. O Brasil inteiro pôde usufruir
da Mostra on line. Já vi gente reivindicando a manutenção do
esquema virtual nas próximas edições, visando a alcançar uma abrangência
nacional.
Viajar atualmente também é um problema
e envolve riscos. Tudo está mudando, se
ajustando, até que possamos encontrar um modus
vivendi com o novo coronavírus. A vacina vai ajudar, não vai resolver
tudo. Depende de nós o que faremos no
novo estilo de vida. Cultura para todos,
sem aglomeração? Difícil, não? A cultura virtual é uma solução provisória,
pois nada pode substituir o contato humano, na arte e na vida. Quem viver, verá.
FILMES
QUE LEVARAM PRÊMIOS NESSA MOSTRA
Júri
Internacional – Novos Diretores
Ficção: EIYMOFE - ESSE É O MEU DESEJO (Nigéria)
Documentário: 17 QUADRAS (Estados Unidos)
Menção Honrosa ao documentário
brasileiro: CHICO REI ENTRE NÓS e à
atriz Thiessa Woinbackk, de VALENTINA.
Prêmio
do Público
Ficção internacional: NÃO HÁ MAL ALGUM (Irã)
Ficção nacional: VALENTINA
Documentário internacional: WELCOME TO CHECHNYA (Estados Unidos)
Documentário nacional: CHICO REI ENTRE NÓS
Prêmio
da Crítica
Melhor filme estrangeiro: MOSQUITO (Portugal)
Melhor filme nacional: GLAUBER, CLARO
Prêmio
Abraccine para diretores brasileiros estreantes
ÊXTASE, de Moara Passoni
@mostrasp
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