segunda-feira, 19 de outubro de 2020

ALGUNS FILMES DA #44 MOSTRA

Antonio Carlos Egypto

 

 

Entre os filmes da chamada Perspectiva Internacional da 44ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, este ano on line, www.mostra.org,  já posso destacar KUBRICK POR KUBRICK, um documentário que, com certeza, vai deliciar os cinéfilos em geral e os admiradores da obra do cineasta Stanley Kubrick (1928-1999) em particular.

 


KUBRICK



Aqui, a obra de Kubrick é abordada, filme a filme, de “Medo e Desejo” (1953) a “De Olhos Bem Fechados” (1999).  Passando, claro, por “Spartacus” (1960), Lolita (1962), “Dr. Fantástico” (1964), “2001, Uma Odisseia no Espaço” (1968), “Laranja Mecânica” (1971), “Barry Lyndon” (1975), “O Iluminado” (1980), “Nascido Para Matar” (1987) e outros.  Um grande legado, que vai sendo comentado pelo próprio diretor, em diferentes entrevistas ao crítico francês Michel Ciment, um dos poucos que teve esse acesso privilegiado a um artista que detestava dar declarações e entrevistas sobre seus filmes.  Portanto, um material raro.  Complementado pelo acervo da família, com comentários de quem trabalhou com ele, como intérprete, técnico, fotógrafo, músico, etc. Permite que se faça uma radiografia eficiente do trabalho e da busca desse criador em dialogar com aquilo que o mobilizava diante do mundo, a partir das obras literárias que ele apreciava e levava às telas.  De uma perspectiva autoral muito evidente e com uma capacidade de inovar nos mais diversos gêneros, do melodrama ao filme de guerra, da ficção científica ao terror, do filme de época ao futurista.  Um belo trabalho do diretor francês Gregory Monro, condensado em 73 minutos muito bem aproveitados.

 

COZINHAR, F*DER, MATAR, da República Tcheca, dirigido por Mira Fornay, é uma provocação interessante.  Começa fazendo relações de uma coisa que leva a outra, sem ter nada que ver uma com a outra.  E vai por essa toada surreal o tempo todo, experimentando diferentes versões de uma situação que tem por base o desencontro no casamento.  O próprio protagonista transita entre os gêneros.  Muitas inversões e revisões acompanham uma narrativa que não chega a ser caótica, porém é confusa.  Mas também, divertida, ao longo de seus 116 minutos. 

 

Entre os filmes de Novos Diretores, realizando seu primeiro ou segundo longa, dá para indicar LUA VERMELHA, da Espanha, de Lois Patiño, de narrativa bastante lenta e rarefeita, ao se situar numa vila da costa da Galícia, parada no tempo.  Aqui o mar é o o monstro, Rúbio, o marinheiro desaparecido, um fantasma, onipresente nas histórias que envolvem sangue, o que é incorporado pela lua vermelha.  Ou seja, cinema fantástico, com toques sobrenaturais, em alto grau. O clima é de poesia e de contemplação. O principal mérito do filme é a beleza plástica da fotografia.  Que pode se perder um pouco, na tela do computador.  84 minutos.



LUA VERMELHA


 

Um outro trabalho interessante vem da Índia, dirigido por Balaji Vembu Chelli, O TREMOR.  Em econômicos 71 minutos, conta a história de um fotojornalista jovem que, ao receber a missão de cobrir um terremoto numa pequena vila distante, vê suas chances de se destacar na profissão.  Acompanhamos sua longa viagem de carro por belas locações de natureza, que já valem a nossa atenção, enquanto ele procura o terremoto que parece não querer se mostrar.  Ao contrário do que se vê muito na produção de Bollywood, um filme simples, discreto, sem música ou dança, nem roupas extravagantes. Modesto, mas legal.

 

O documentário 17 QUADRAS, estadunidense, de Davy Rothbart, retrata o que acontece a uma família negra, vivendo numa região perigosa de Washington, D.C., que se situa a 17 quadras do Capitólio, em que um assalto resulta na morte de um jovem promissor, aos 19 anos. Ele filmava cenas familiares e a realidade nada fácil da pobreza e do preconceito.  Sua morte muda o rumo de toda a família.  Mas as gravações prosseguem ao longo de muitos anos, o que permite entender a saga familiar por gerações.  Essa realidade particular não deixa de ser representativa de uma nação em crise, como revelam os problemas raciais atuais nos Estados Unidos.  É mais um trabalho de diretor novo, que vale conferir.  95 minutos.

@mostrasp



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