O MELHOR ESTÁ POR VIR (Le Meilleur Reste à Venir). França, 2018.
Direção: Mathieu Delaporte e Alexandre De la Patellière. Com Fabrice Luchini, Patrick
Bruel, Zineb Triki, Pascalle Arbillot.
118 min.
“O Melhor Está Por Vir” é uma comédia,
uma boa comédia, sobre a amizade e também sobre a morte, ou sobre a expectativa
diante dela.
Dois grandes atores sustentam a
narrativa muitíssimo bem. Fabrice
Luchini, no papel de Arthur, com seu comportamento mais convencional e
certinho, e Patrick Bruel, no papel de César, mais solto e farrista. Arthur e César são amigos de infância,
daqueles que se complementam em suas diferenças. Um aprende muito com o outro e eles, via negociação,
acabam se entendendo e aceitando fazer coisas que um, em princípio, não gostava
ou não queria e, o que é melhor, sempre se divertindo com isso. Enfim, um tem muito a ganhar na companhia do
outro e eles sabem, pelo menos intuitivamente, disso.
A graça da história é que, por uma
circunstância mal explicada, pelo não dito, pela falta de coragem ou de
oportunidade, coisas não se esclarecem.
A consequência é que um fica achando que o outro é que está com uma doença
terminal e ambos decidem que há coisas importantes a fazer ou a aproveitar
antes que a morte chegue, já que ela deve chegar logo. Um amigo não abandona o outro nessa hora e,
juntos, eles vão viver situações não só engraçadas, mas de grande relevância
para a vida de cada um deles.
As sequências são bem construídas,
interessantes, curiosas, perfeitamente verossímeis e engraçadas. Trata-se de um roteiro bem bolado,
inteligente e politicamente correto. Ou
seja, sem ser apelativo, vulgar, sem atacar ou ofender a diversidade. Ao contrário, se divertindo ao defender a
diversidade. Humor pode ser respeitoso e
dar margem a reflexão, além de celebrar coisas importantes como, no caso, o
valor da amizade. Tirando sarro das
situações, sem babaquice nem pieguismo.
Lidando de forma concreta e realista com a perspectiva da morte, sem ser
lúgubre, nem inconsequente. Embora a
inconsequência esteja presente nas maluquices que eles aprontam, pelo jeito,
desde crianças.
Um filme muito bom de se ver, sem
maiores inovações, mas um entretenimento bem feito e que consegue ultrapassar o
limite do mero entretenimento, falando de coisas importantes com leveza.
A dupla de diretores que trabalham
juntos já há alguns anos talvez esteja refletindo algo da própria
experiência. Não sei. Mas parece, pelo fluxo das cenas e pela
afetividade que transborda dos personagens.
Claro que com atores tão talentosos como esses tudo flui muito mais
fácil. O fato é que o filme deu certo. Despretensioso, mas convincente.
EFEMÉRIDES
Os 100 anos de nascimento do mestre
italiano do cinema, Federico Fellini, merecem ser amplamente comemorados, como
estão fazendo o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) e o Cinesesc, reexibindo
sua obra genial. Reencontrar-se com (ou
conhecer) essa filmografia absolutamente especial e única deve ser mesmo um
objetivo de todos, ao longo deste ano.
Seja de que forma for, por meio do DVD, do streaming, VOD. O que
importa é não deixar passar esse momento tão propício dessa efeméride para
usufruir do seu talento, sofisticar o desfrutar cinematográfico e também
homenageá-lo pela figura importante que foi para todo mundo.
Outros nomes importantes do cinema
também fariam 100 anos em 2020: o crítico francês e estudioso de cinema André
Bazin, o ator norte-americano Walter Mathau e o ator e diretor brasileiro
Anselmo Duarte, o único que pôde ostentar a Palma de Ouro em Cannes pelo seu “O
Pagador de Promessas”. Aliás, que tal
revê-lo e aos muitos filmes que ele estrelou, ao longo da vida artística?
A arte e a literatura brasileiras
estão presentes na vida de todos pelo trabalho de Clarice Lispector e João
Cabral de Melo Neto, pelas gravações da magnífica cantora Elizeth Cardoso e
pela pintora e escultura Lygia Clark.
Todos fariam 100 anos também.
A excepcional cantora portuguesa
Amália Rodrigues também faz parte desse time de nascidos em 1920. Assim como o escritor Isaac Asimov e Karol
Wojtyla, o papa João Paulo II.
Se recuarmos 100 anos mais, vamos
encontrar o nascimento de Friedrich Engels, o revolucionário alemão que
compartilhou uma grande obra com Karl Marx (1818-1883).
Recuando mais 50 anos, chegamos ao
maior homenageado da música neste ano. O gênio de Ludwig van Beethoven nasceu
há 250 anos e será largamente executado ao longo de 2020 em todos os cantos do
mundo e também no Brasil. A Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo, a OSESP, dará total destaque à obra de
Beethoven. Aliás, já vem fazendo isso
desde o final do ano passado.
Em tempos de estupidez e ignorância,
nada melhor do que celebrar a beleza da arte e da escrita. Para lembrar que temos motivo de sobra para
nos orgulharmos da humanidade. Apesar de
tudo.
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