Antonio Carlos Egypto
Bong Joon-ho |
Assistir à cerimônia de entrega do
Oscar nem sempre é uma experiência interessante. Além dos excessos e cafonices do evento, é
comum trazer frustração para quem quer ver reconhecido o que o cinema produz de
melhor em todo o mundo.
Aí começa o problema. Para o Oscar, existe o cinema falado em
língua inglesa, principalmente o dos Estados Unidos, e os filmes estrangeiros,
ou seja, o resto do mundo. Nunca houve
real reconhecimento da qualidade e diversidade da produção cinematográfica
mundial, na premiação do Oscar. Já há
algum tempo, pode-se constatar que, entre os melhores filmes lançados a cada
ano, há uma maioria de filmes que não são falados em inglês.
Pois bem, parece que, finalmente, o
Oscar teve de reconhecer essa realidade.
Em 2020, muita coisa já mudou. E
a festa consagrou o grande filme do ano de 2019, “Parasita”, de Bong Joon-ho,
da Coreia do Sul. A começar pelas
indicações, foram 6 para o filme, o que é incomum. O prêmio, que se chamava melhor filme estrangeiro, mudou para melhor filme internacional. Isso muda a perspectiva. “Parasita” foi indicado não só a melhor filme
internacional, como a melhor filme, apesar de falado em coreano. O mais incrível é que venceu nas duas
categorias, um atestado de sua superioridade incontestável. Mais do que isso, venceu na categoria de
melhor roteiro original, muito importante no conjunto da premiação. E, ainda, Bong Joon-ho venceu como melhor
diretor, o que é outra grande surpresa e reconhecimento.
O diretor coreano, simpático e
comunicativo, quando recebeu o Oscar de roteiro comemorou o primeiro prêmio na
história para o cinema da Coreia do Sul e avisou que iria beber para comemorar
o dia todo. Quando recebeu o prêmio de
filme internacional, brincou que dobraria a promessa. Mas ficou pasmo ao ver que venceu também como
diretor, e a ninguém menos do que Martin Scorsese, seu mestre inspirador e de
quem ele estudou os filmes para se aperfeiçoar.
Manifestou isso, homenageou Scorsese e também os outros concorrentes,
Tarantino, Sam Mendes e Todd Phillips.
Ao final do evento, a surpresa maior
da escolha de melhor filme coroou a 92ª. edição do Oscar como histórica e sinal
de novos e mais abertos ares. Apesar de
que os prêmios ainda privilegiam claramente os homens brancos, mas algo já está
mudando, pelo menos na cerimônia, as
mulheres e os negros tiveram participação destacada. Sem falar, é claro, dos orientais, os grandes
vencedores.
Equipe de PARASITA |
A vitória tão ampla de “Parasita” não
possibilitou que “Honeyland”, indicado como melhor documentário e melhor filme,
tivesse alguma chance e “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, ficou para trás e
também não levou com Antonio Banderas como ator.
O nosso representante, “Democracia em
Vertigem”, documentário de Petra Costa, não levou o prêmio, ficou para
“American Factory”, um favorito com a chancela de Obama. Mas foi notável a sua indicação entre os 5
melhores documentários realizados no ano passado em todo o mundo.
Lamentei a ausência de “O Irlandês”,
de Scorsese, e de “Dois Papas”, de Fernando Meirelles, entre os premiados. Foram trabalhos que mereciam maior
reconhecimento. Principalmente no caso
de roteiro adaptado, em que o vencedor foi o medíocre “Jojo Rabbit”, uma bem
intencionada, mas fraca, esculhambação dos absurdos das ideias nazistas,
operando na cabeça de um menino que tem Hitler como amigo imaginário.
Antes da cerimônia, muitos apregoavam
que “1917”, de Sam Mendes, estaria muito bem cotado para vencer. Esse vaticínio me preocupou. Afinal, “1917” não passa de um bom filme de guerra,
que nos leva a viver junto com dois soldados a missão um tanto suicida que eles
recebem. Como Sam Mendes optou por
longos planos-sequência que passam a sensação de um filme sem cortes e isso
exige muito preparo, planejamento e um trabalho insano, é o que poderia ser
premiado. Acontece que “1917” está longe
de ser um dos grandes filmes do ano, apesar do esforço. Os prêmios técnicos para efeitos visuais,
mixagem de som e fotografia, estão de bom tamanho para o filme.
O ótimo “Coringa”, outro que de início
frequentou a lista de favoritos levou 2 Oscars, trilha sonora e melhor ator
para o grande desempenho de Joaquin Phoenix.
Parece pouco, para um filme que “causou”, como se diz por aí. “Era uma Vez em Hollywood”, do badalado e por
vezes superestimado Quentin Tarantino, ganhou o prêmio de design de produção e o de ator coadjuvante para Brad Pitt. OK. Um filme que não vi, “Ford vs Ferrari”,
sobre automobilismo, conquistou um importante prêmio de montagem e o de edição
de som. A conferir.
De resto, houve uma pulverização de
prêmios que alcançou vários filmes.
Elton John ganhou pela canção original do filme “Rocketman”, que não
concorria, mesmo, em outras categorias.
Achei merecido. “Judy, Muito Além
do Arco-Íris” valeu o prestigiado prêmio de atriz para Renée Zellweger, que faz
Judy Garland com muita força e mergulhando na figura e nos conflitos e
problemas da sua decadência, que é o que o filme focaliza. Seu desempenho é o que “Judy” tem de
melhor. É um produto convencional, que
se vale da emoção para ganhar as plateias, sobretudo as que acompanharam a
carreira daquela grande estrela. Para
atriz coadjuvante, o Oscar escolheu Laura Dern, de “História de um Casamento”,
uma veterana grande atriz, sem dúvida.
“Adoráveis Mulheres”, de Greta Gerwig,
uma bela produção, ficou com o prêmio de figurino, realmente muito bonito e
caprichado. Para “O Escândalo” foi o
Oscar de cabelo e maquiage e “Toy Story 4” foi escolhido a melhor animação.
Espero que as mudanças no Oscar
prossigam, de modo a abranger realmente a diversidade e os quesitos artísticos,
tanto quanto os quesitos comerciais, que conhecemos.
Gostei, imensamente, de receber suas ÓTIMAS Informações pois , apesar de ter varado noite em busca ( acesso no you Tube!!) consegui apenas, alguns flashs!!!! mas pouco vi " ao vivo" as entregas, etc etc... Estava com muita vontade de ver e,vem especial, o documentário : DEMOCRACIA em DECLIVE!!!!! Essa Sua crítica já veio quebrar minha frustração pois tem muita observação importantíssima!!! GRATA!!! MUITO. GRATA!!!! Vou ver se consigo ver uma reopise!! assina: MARIA NAVARRRO DE MESQUUTA
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