SOBIBOR (Sobibor). Rússia, 2018. Direção: Konstantin
Khabenskiy. Com Konstantin Khabenskiy,
Christopher Lambert, Mariya Kozhevnikava, Philippe Reinhardt, Michalina Olszanska. 110 min.
Sobibor foi um campo de concentração conduzido
pela Alemanha nazista na Polônia, nos anos de 1942 e 1943, que chegou a
exterminar cerca de 250 mil prisioneiros judeus, de diversas
nacionalidades. Entre eles, os russos. Foi um prisioneiro de guerra soviético, o
oficial Alexander Pechersky, que conseguiu realizar o impensável: organizar um
motim de detentos que assassinou os doze principais comandantes alemães do
campo e resultou numa fuga em massa, de 300 pessoas, na única ação desse tipo
bem sucedida durante toda a Segunda Guerra Mundial.
Ainda que muitos dos fugitivos tenham sido
mais tarde capturados e mortos, foi um feito e tanto. Os compatriotas de Pechersky que sobreviveram
engrossaram as linhas defensivas russas na guerra. Não surpreende que Alexander Pechersky tenha
se tornado um grande herói russo, postumamente premiado com a Ordem de Bravura,
e que hoje é celebrado nos livros escolares de História, dá nome a uma Fundação,
teve um busto inaugurado em 2017, uma exposição no Museu da Vitória e vários
livros já foram publicados sobre os fatos. Um poema “Luca“ dedicado à rebelião deu origem
a uma campanha internacional de resgate dessa memória e dos atos corajosos,
heróicos, de todo o grupo comandado por Pechersky. Uma ação que conseguiu ser realizada apesar do estrito controle de
uma prisão tenebrosa, envolvendo diferentes idiomas.
Neste filme russo “Sobibor”, de 2018,.
dedicado ao 75º aniversário da rebelição no campo de concentração nazista, o
elenco representa essa diversidade de línguas, os personagens falam russo,
alemão, polonês, holandês e iídiche. Um
trabalho de peso, em busca da autenticidade, que exigiu bastante do diretor e
também ator do filme, Konstantin Khabenskiy.
O processo de criação, reconstrução, desse episódio
foi especialmente complicado, apesar da existência de objetos, fotos,
informações escritas e outras. Sobibor foi inteiramente destruído, para que
nada de sua estrutura física restasse, e o terreno recebeu o plantio de muitas
árvores. O filme consegue recuperar essa
estrutura física histórica, o que é importante para que o espectador tenha a
dimensão dos fatos nos espaços correspondentes.
Direção de arte, fotografia e um elenco de peso dão à produção grande
sustentação.
“Sobibor” é eficiente, ao mostrar o cotidiano,
a realidade do campo de extermínio, os sentimentos dos personagens, e alcança
bom resultado em termos de ação e suspense, ao mostrar como a revolta se formou
e se desenvolveu.
A questão do heroísmo numa luta para combater
o mal escapa ao clichê, na medida em que o nazismo conseguiu ser pior do que a
mais cruel das ficções poderia imaginar.
Assim, esse movimento político de extrema direita, variante requintada
do fascismo, acabou virando a própria representação desse mal. Os que conseguiram combatê-lo e vencê-lo,
ainda que parcialmente, certamente merecem a designação de heróis.
O filme foi baseado no livro “Alexander Pechersky:
Breakthrough to Imortality”, de Ilya Vasilyev, que inclui as memórias de Pechersky
e o poema “Luca”, de Mark Geylikman. O
autor é chefe da Fundação Pechersky e produtor criativo do filme. Apesar de o assunto ser pouco conhecido e
difundido internacionalmente, “Sobibor” não é o primeiro filme sobre o
tema. Em 1987, Rutger Hauer protagonizou
o filme britânico – iugoslavo, “Fuga de Sobibor”, que não alcançou grande
repercussão. Agora, com “Sobibor” tendo representado a Rússia na disputa do
Oscar de filme estrangeiro, é provável que o filme conquiste uma parcela de
público mundial mais expressiva.
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