segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

A NOSSA ESPERA

Antonio Carlos Egypto





A NOSSA ESPERA (Nos Batailles).  Bélgica/França, 2018.  Direção: Guillaume Senez.  Com Romain Duris, Lucie Debay, Laetitia Dosch, Cédric Vieira, Laurie Calamy.  99 min.


Um operário vivendo do chão de fábrica, competente, dedicado ao seu trabalho, e também consciente de seus deveres e responsabilidades junto aos seus colegas e subordinados.  Atento à forma como a empresa trata seus empregados, disposto a lutar por direitos, justiça, respeito e melhores condições de trabalho.  Esse é o personagem Olivier (Romain Duris).  Ou melhor, a face trabalhista dele.

A outra face é a familiar, tão dura e cheia de percalços como a do trabalho.  O dinheiro é restrito, dois filhos pequenos demandam cuidado e atenção permanentes.  Mas enquanto a mãe Laura (Lucie Debay) está presente, dá para levar.  Só que um dia ela some, sem deixar explicações, e a vida de Olivier se complica enormemente.

O que o filme do diretor belga Guillaume Senez explora em estilo bem realista é a luta desse homem simples, operário, trabalhador, seu drama familiar com seus filhos e a participação de sua mãe e de sua irmã.  Uma história sobre abandono e perdas.




O título em português alude também á questão da indefinição e da espera pelo possível retorno de Laura.  Daí “A Nossa Espera”.  O título original, porém, prefere enfatizar as batalhas do personagem e de seu meio: “Nos Batailles”.

A narrativa faz uma boa conexão entre a vida pessoal e o aspecto coletivo, social, mostrando como uma coisa interfere fortemente na outra e como os valores se constroem, ou são vividos, lá e cá.

Um dilema moral muito relevante resultará disso tudo, envolvendo não só o protagonista Olivier, mas também seus dois filhos, que ainda pequenos experimentarão o significado da democracia.  Enfim, “A Nossa Espera” é um filme político, no sentido de que nossa atitude, nossas crenças, nossas ações, em casa ou no trabalho, são políticas e têm repercussões na vida dos outros.  Unanimidades são raras, por isso é preciso negociar, cultivar a alteridade, respeitar as diferenças e os sentimentos.

Romain Duris, com seu talento e discrição, constrói um Olivier fascinante, que a gente aprende a respeitar e torce por ele.  No entanto, ele não se comporta como um herói.  Ele luta para sobreviver com dignidade e para dar conta de tudo, dentro dos seus limites e com suas falhas.  Como todo mundo.  Só que, para alguns, a vida é mais penosa, mais difícil.  Às vezes, o desafio parece grande demais!  Mas a solução fácil pode ser mais lesiva do que a dura batalha do dia a dia, com suas escolhas complicadas.





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