A NOSSA ESPERA (Nos Batailles).
Bélgica/França, 2018. Direção:
Guillaume Senez. Com Romain Duris, Lucie
Debay, Laetitia Dosch, Cédric Vieira, Laurie Calamy. 99 min.
Um operário vivendo do chão de fábrica,
competente, dedicado ao seu trabalho, e também consciente de seus deveres e
responsabilidades junto aos seus colegas e subordinados. Atento à forma como a empresa trata seus
empregados, disposto a lutar por direitos, justiça, respeito e melhores
condições de trabalho. Esse é o
personagem Olivier (Romain Duris). Ou
melhor, a face trabalhista dele.
A outra face é a familiar, tão dura e cheia de
percalços como a do trabalho. O dinheiro
é restrito, dois filhos pequenos demandam cuidado e atenção permanentes. Mas enquanto a mãe Laura (Lucie Debay) está
presente, dá para levar. Só que um dia
ela some, sem deixar explicações, e a vida de Olivier se complica enormemente.
O que o filme do diretor belga Guillaume Senez explora em estilo
bem realista é a luta desse homem simples, operário, trabalhador, seu drama
familiar com seus filhos e a participação de sua mãe e de sua irmã. Uma história sobre abandono e perdas.
O título em português alude também á questão
da indefinição e da espera pelo possível retorno de Laura. Daí “A Nossa Espera”. O título original, porém, prefere enfatizar
as batalhas do personagem e de seu meio: “Nos Batailles”.
A narrativa faz uma boa conexão entre a vida
pessoal e o aspecto coletivo, social, mostrando como uma coisa interfere
fortemente na outra e como os valores se constroem, ou são vividos, lá e cá.
Um dilema moral muito relevante resultará
disso tudo, envolvendo não só o protagonista Olivier, mas também seus dois
filhos, que ainda pequenos experimentarão o significado da democracia. Enfim, “A Nossa Espera” é um filme político,
no sentido de que nossa atitude, nossas crenças, nossas ações, em casa ou no
trabalho, são políticas e têm repercussões na vida dos outros. Unanimidades são raras, por isso é preciso
negociar, cultivar a alteridade, respeitar as diferenças e os sentimentos.
Romain Duris, com seu talento e discrição,
constrói um Olivier fascinante, que a gente aprende a respeitar e torce por
ele. No entanto, ele não se comporta
como um herói. Ele luta para sobreviver
com dignidade e para dar conta de tudo, dentro dos seus limites e com suas
falhas. Como todo mundo. Só que, para alguns, a vida é mais penosa,
mais difícil. Às vezes, o desafio parece
grande demais! Mas a solução fácil pode
ser mais lesiva do que a dura batalha do dia a dia, com suas escolhas
complicadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário