Antonio Carlos
Egypto
A 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo trouxe entre as suas 300 opções filmes de grande categoria e alto
padrão. Quantos? Quais?
Aí depende de cada um ou do que cada um conseguiu ver, dentro de suas
possibilidades. Mesmo os que fazem a
cobertura jornalística, crítica, do evento estão limitados a um número restrito
de títulos. No meu caso, foram 62 filmes
de longa-metragem, ou seja, em torno de 20% da oferta. Minhas conclusões estão, portanto, sujeitas a
essa amostra.
Dentre os filmes de que mais gostei, que
percebi como mais trabalhados, aprofundados, criativos ou inovadores, constato
que a grande maioria deles estará presente no circuito comercial dos cinemas,
após a Mostra. Alguns podem demorar, mas
outros já estão estreando. É bom
isso? Se você olhar para o copo meio
vazio, dirá que a Mostra tem muitas pré-estreias, quando o que muitos buscam
são as filmografias mais distantes, menos conhecidas, ou os filmes que só se
podem ver na Mostra, que não estarão disponíveis logo mais. No entanto, se você olhar o copo meio cheio,
verá que o circuito comercial é hoje muito mais sensível do que no passado aos
grandes diretores e aos filmes que se destacam nos festivais pelo mundo. O que nos permite usufruir da qualidade dos
filmes da Mostra, ao longo de todo o ano.
Registre-se que esse é também um mérito da própria Mostra que, no
passado, era praticamente a única janela para diversificar e arejar a exibição
nos cinemas. Depois disso, que remonta
ao período de grande censura na ditadura militar, muita coisa mudou.
A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS |
Conquistamos a liberdade e a democracia, que
espero permaneçam no nosso horizonte, com força para rechaçar qualquer ameaça
que se apresente. Temos hoje na cidade
de São Paulo uma riqueza cultural muito grande, mostras de cinema variadas, que
se apresentam uma após a outra, durante todo o ano, além das salas que exibem o
cinema de qualidade, que foi um dia quase exclusividade da Mostra. O nosso ambiente cinematográfico se
enriqueceu, arejou. Se alcançam sucesso
expressivo de público ou se os filmes permanecem em cartaz pelo tempo
necessário para serem reconhecidos, recomendados e apreciados, é uma outra
questão. Afinal, o gosto médio sempre
foi, e sempre será, medíocre. E o
tilintar da bilheteria (ainda existe isso?) não é um bom conselheiro,
culturalmente falando.
O que a 42ª. Mostra também trouxe de muito
relevante foi o papel das mulheres no cinema.
Além de muitos filmes realizados pelo gênero feminino, a temática das
mulheres teve presença marcante nas narrativas de filmes realizados por
homens. Com sentido libertário e
reconhecendo a força das mulheres em todos os campos. O feminismo nunca esteve tão em evidência,
sendo percebido como uma luta prioritária em todo o mundo. Em algumas regiões do globo, ainda na fase da
denúncia dos preconceitos, da falta de lugar e de espaço na vida pública, onde
fundamentalismos ainda conseguem dar o tom, por conta de raízes culturais,
patriarcais e religiosas. Ao que parece,
no entanto, avança-se em todos os lugares.
As questões que perpassam os gêneros,
reconhecendo-os como construções culturais, também ganham progressivamente mais
e mais espaço. Os transgêneros são
personagens relevantes em muitas tramas.
A diversidade se expressa, o racismo é mostrado e combatido. Isso tudo num mundo em que a violência e a
opressão se fazem muito presentes. E de
forma ruidosa, com o avanço da extrema direita, dos neonazistas, do drama
humano pungente dos imigrantes. Aqui,
mais uma vez, é possível olhar para o copo, vendo-o meio vazio ou meio cheio.
Bem, pelo menos o cinema como espaço de
reflexão, realizado com talento no mundo todo, é um maravilhoso refresco para
os dias conturbados em que vivemos. E a
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo sempre deu uma forte contribuição
para isso, sem sombra de dúvida.
Minha lista de favoritos, ou os 10 filmes que
mais apreciei, exibidos na 42ª. Mostra, em ordem de preferência:
A
ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS, de Nuri Bilge Ceylan, Turquia.
ASSUNTO
DE FAMÍLIA, de
Hirokazu Kore-Eda, Japão.
CULPA,
de Gustav Möller, Dinamarca.
ROMA,
de Alfonso Cuarón, México.
EM
CHAMAS, de Chang-dong Lee, Coreia do Sul.
NUESTRO
TIEMPO, de Carlos Reygadas, México.
INFILTRADO
NA KLAN, de Spike Lee, Estados Unidos.
GUERRA
FRIA, de Pawel Pawlikowski, Polônia.
UMA
MULHER EM GUERRA, de Benedikt Erlingsson, Islândia.
ERA
UMA VEZ EM NOVEMBRO, de Andrzej Jakimowski, Polônia.
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