As ditaduras, a intolerância e a violência
marcam presença em vários filmes da 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo, de forma direta. E estão
presentes em muitos outros filmes que tratam do cotidiano, dos amores e
rancores que marcam a existência das pessoas, especialmente as mais
vulneráveis.
O documentário espanhol O SILÊNCIO DOS OUTROS traz à baila a luta eterna por justiça,
decorrente dos crimes de lesa-humanidade, praticados por Francisco Franco e
seus seguidores, a partir da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e por cerca de
40 anos de um regime opressor do tipo fascista. O filme, dirigido pela
espanhola Almudena Carracedo e pelo norte-americano Robert Bahar, passa também
pela situação chilena e a culpabilidade de Pinochet, que dependeu de um
processo internacional. Como o que está
em curso na Argentina, sobre o regime franquista.
Se há mortos insepultos na longa jornada obscura
do franquismo na Espanha, também não faltam lembranças terríveis de um regime
opressor comunista, como o do Khmer Vermelho, no Cambodja, nos anos 1970. Lá a perseguição, a fome e a morte foram a
marca de um regime obscurantista e equivocado, como nos tem mostrado o cineasta
cambodjano Rithy Pahn, um verdadeiro mestre do cinema atual. Seu documentário TÚMULOS SEM NOME é doloroso, mas visualmente criativo , com uma
forma muito atraente, o que dá ainda mais força ao que é narrado. Porque é belo e competente.
TÚMULOS SEM NOME |
A ficção polonesa ERA UMA VEZ EM NOVEMBRO, de Andrzej Jakimowski, foca nos personagens
da mãe e de um filho jovem que, por conta de mudanças radicais nas políticas
habitacionais do país, se tornam moradores de rua ou sem-teto. E aí ficam expostos à violência da
sociedade. O filme se dedica a mostrar
com clareza a intolerância e o recurso à violência pesada, por parte da extrema
direita, que usa lemas como “Deus, honra e pátria” e palavras de ordem, como
“matar os vermelhos com a foice e o martelo”. O neonazismo mostrando a sua
cara, ao tomar as ruas e agredir, entre outros, o centro cultural alternativo,
onde os sem-teto encontravam algum tipo de acolhimento. Cenas reais das guerras e protestos
nacionalistas que tomaram Varsóvia em novembro de 2013 são mescladas a ótimas
sequências ficcionais. Tudo muito
preocupante e assustador.
Nem a zona rural norte-americana escapa à
violência política do cotidiano. Uma
família abandonada pela mãe e em que o pai é totalmente incompetente para
cuidar de si mesmo e do filho adolescente, revela aspectos do desemprego, dos
baixos salários, da exploração de menores e do abandono a que estão sujeitos os
indivíduos numa sociedade individualista e conservadora. Tudo começa de modo até convencional, com o
menino se apegando a um cavalo velho explorado pelo seu patrão. Mas o que vai aparecendo em nada se assemelha
àquelas sessões da tarde da TV. É um
sistema sórdido o que é mostrado aqui no contexto rural estadunidense. A ROTA
SELVAGEM é dirigido pelo cineasta inglês Andrew Haigh.
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