sexta-feira, 26 de outubro de 2018

POLÍTICA E OPRESSÃO NA 42ª. MOSTRA

Antonio Carlos Egypto


As ditaduras, a intolerância e a violência marcam presença em vários filmes da 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, de forma direta.  E estão presentes em muitos outros filmes que tratam do cotidiano, dos amores e rancores que marcam a existência das pessoas, especialmente as mais vulneráveis.

O documentário espanhol O SILÊNCIO DOS OUTROS traz à baila a luta eterna por justiça, decorrente dos crimes de lesa-humanidade, praticados por Francisco Franco e seus seguidores, a partir da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e por cerca de 40 anos de um regime opressor do tipo fascista. O filme, dirigido pela espanhola Almudena Carracedo e pelo norte-americano Robert Bahar, passa também pela situação chilena e a culpabilidade de Pinochet, que dependeu de um processo internacional.  Como o que está em curso na Argentina, sobre o regime franquista.

Se há mortos insepultos na longa jornada obscura do franquismo na Espanha, também não faltam lembranças terríveis de um regime opressor comunista, como o do Khmer Vermelho, no Cambodja, nos anos 1970.  Lá a perseguição, a fome e a morte foram a marca de um regime obscurantista e equivocado, como nos tem mostrado o cineasta cambodjano Rithy Pahn, um verdadeiro mestre do cinema atual.  Seu documentário TÚMULOS SEM NOME é doloroso, mas visualmente criativo , com uma forma muito atraente, o que dá ainda mais força ao que é narrado.  Porque é belo e competente.



TÚMULOS SEM NOME


A ficção polonesa ERA UMA VEZ EM NOVEMBRO, de Andrzej Jakimowski, foca nos personagens da mãe e de um filho jovem que, por conta de mudanças radicais nas políticas habitacionais do país, se tornam moradores de rua ou sem-teto.  E aí ficam expostos à violência da sociedade.  O filme se dedica a mostrar com clareza a intolerância e o recurso à violência pesada, por parte da extrema direita, que usa lemas como “Deus, honra e pátria” e palavras de ordem, como “matar os vermelhos com a foice e o martelo”. O neonazismo mostrando a sua cara, ao tomar as ruas e agredir, entre outros, o centro cultural alternativo, onde os sem-teto encontravam algum tipo de acolhimento.  Cenas reais das guerras e protestos nacionalistas que tomaram Varsóvia em novembro de 2013 são mescladas a ótimas sequências ficcionais.  Tudo muito preocupante e assustador.

Nem a zona rural norte-americana escapa à violência política do cotidiano.  Uma família abandonada pela mãe e em que o pai é totalmente incompetente para cuidar de si mesmo e do filho adolescente, revela aspectos do desemprego, dos baixos salários, da exploração de menores e do abandono a que estão sujeitos os indivíduos numa sociedade individualista e conservadora.  Tudo começa de modo até convencional, com o menino se apegando a um cavalo velho explorado pelo seu patrão.  Mas o que vai aparecendo em nada se assemelha àquelas sessões da tarde da TV.  É um sistema sórdido o que é mostrado aqui no contexto rural estadunidense.  A ROTA SELVAGEM é dirigido pelo cineasta inglês Andrew Haigh.



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