domingo, 10 de dezembro de 2017

NA DISPUTA PELO OSCAR ESTRANGEIRO

   
Antonio Carlos Egypto


O Oscar de melhor filme estrangeiro (ou de língua não inglesa) se dá a partir de uma pré-seleção, em que cada país, que assim o desejar, pode indicar o seu representante a cada ano.  São muitos os países que fazem essas indicações.  Alguns desses filmes indicados estão em cartaz nos cinemas do Brasil e podem ser conferidos.

THELMA (Thelma) é o indicado pela Noruega.  Dirigido por Joachim Trier, tem no elenco Eili Harboe, Kaya Wilkens, Henrik Rafaelsen.  Uma bela e caprichada produção, voltada para o terreno do mistério e dos fenômenos sobrenaturais.  Na linha do pensamento que cria a realidade.  Thelma (Eili Harboe) é uma garota estranha, desencontrada, solitária.  Ela pode até encontrar o amor em outra mulher, mas seus superpoderes podem acabar levando-a ao crime.  Quantas vezes não desejamos coisas perigosas?  E se fosse possível criá-las, até mesmo contra a própria vontade?  Por razões inconscientes, ou por impulso?  O tema é bem trabalhado, o que torna o filme instigante, além de plasticamente belo.  116 min.




BARREIRAS (Barrage) é o indicado de Luxemburgo.  Dirigido por Laura Schroeder, tem uma equipe composta praticamente só por mulheres, protagonizado por atrizes, e trata de um drama sobre a questão da maternidade.  Nele, a personagem Catherine (Isabelle Huppert) parte da Suíça para Luxemburgo, em busca de retomar a maternidade.  Vai lutar para ser a mãe de sua filha Alba (Lolita Chammah, filha de isabelle Huppert também na vida real), de quem não soube cuidar no passado e, talvez,  não saiba ainda.  Alba ficou sob os cuidados da avó materna, Elisabeth (Themis Pauwels).  Mãe e filha se confrontam em duas gerações, oscilando entre o carinho e o distanciamento.  A temática é boa, as atrizes, ótimas, mas ao filme falta ritmo, intensidade dramática e entusiasmo.  Permanece numa zona cinzenta, que induz à platitude.  112 min.

VERÃO 1993 (Estiu 1993) é o indicado para concorrer pela Espanha.  O filme é dirigido pela cineasta catalã Carla Simón, em seu primeiro longa.  É também um filme sobre mulheres, mas numa outra faixa de vida: a infância.  O foco é Frida (Laia Artigas), de apenas 6 anos de idade, que sofre a perda dos pais e vai de Barcelona para o interior da Catalunha, enfrentar essas perdas na propriedade rural dos tios, convivendo também com a pequena Anna (Paula Robles).  No elenco, David Verdaguer, como Esteve, e Bruna Cusí, como Marga, fazem o casal de tios.  O filme é muito competente, ao nos colocar no mundo de Frida.  Sabemos o que ela sabe, vemos o que ela vê, vivemos o que ela vive e sentimos o que ela sente.  É um belo exercício de empatia, que faz bem para qualquer pessoa.  Em que pese a dor inevitável da situação retratada.  O trabalho com as atrizes mirins, especialmente Laia Artigas, a protagonista, é maravilhoso.  Ela sustenta o filme de modo admirável.  Carla Simón mostrou grande talento para lidar com crianças em cena.  O resultado merece ser conhecido pelo público.  97 min.




MULHERES DIVINAS (Die Göttliche Ordnung) é o indicado pela Suíça.  Uma vez mais, é dirigido por uma mulher, Petra Volpe, em seu segundo longa, e trata do direito ao voto feminino no país, só legalmente efetivado pelos homens na incrível data de 07 de fevereiro de 1971.  Um absurdo para um país desenvolvido como a Suíça.  O filme mostra que, numa pequena cidade, as coisas eram ainda mais ridículas, em pleno período de movimentos sociais que sacudiram a Europa, especialmente a França, em 1968.  O filme é quadradinho na concepção, mas envolve e atinge o público.  No elenco, Marie Leuenberger, Max Simonischek, Rachel Braunschweig, Sibylle Brunner.  96 min.

Outros indicados, que também estão sendo exibidos, já foram comentados por aqui, a grande maioria, em matérias referentes à 41ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.  O representante argentino é ZAMA, de Lucrécia Martel, que está chegando aos cinemas agora.  O impactante THE SQUARE, de Ruben Östlund, representa a Suécia.  GLORY, de Kristina Groseva e Peter Valchanov, é o ótimo representante da Bulgária.  Tem ainda FÉLICITÉ, de Alain Gomis, indicado pelo Senegal, e O MOTORISTA DE TÁXI, de Jang Hoon, um belo trabalho que representa a Coreia do Sul.  Todos esses concorrentes do nosso BINGO, O REI DAS MANHÃS, de Daniel Rezende, (e o próprio BINGO) podem ser acessados, por quem não os leu, no campo de pesquisa do blog, digitando o nome do filme ou o do diretor, por exemplo.  E há muitos outros concorrentes que ainda não vi ou não foram exibidos.  A disputa é grande.  Afinal, há bom cinema em todo o mundo e aparecer no Oscar é sempre muito vantajoso, em termos de visibilidade e distribuição mundo afora.




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