DESTAQUES DA 41ª. MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA SP
Antonio Carlos
Egypto
O MOTORISTA DE
TÁXI, de Jang Hoon, da Coreia do Sul, é um belo filme, com uma narrativa
ágil e envolvente num tema político: a luta pela democracia em 1980 na cidade
de Gwangju, que produziu uma revolta, sobretudo estudantil, violentamente
reprimida pelas forças policiais e que foi escandalosamente manipulada pela
mídia, na ditadura militar então vigente.
O filme evolui para a aventura e a ação, passa um pouco pela comédia e
tem elementos sentimentais na sua bem resolvida trama. Está indicado pela
Coreia para a disputa do Oscar de filme estrangeiro.
Mas não espere perfeição. Há erros de continuidade, como o táxi que
recebeu uma série de balas na lataria e que aparece recuperado em cena
imediatamenbte posterior. São pecadilhos
que não comprometem o filme, que é empolgante e inteligente.
O MOTORISTA DE TÁXI |
À SOMBRA DA
ÁRVORE (ou DEBAIXO DA ÁRVORE), o
filme islandês, que também é o indicado ao Oscar de filme estrangeiro pelo seu
país, inspira-se no clássico curta de animação “Vizinhos” (1952), do canadense
Norman MacLaren. Quem se lembra
dele?
Aqui, a narrativa se concentra na disputa irracional
e intolerante entre vizinhos, mas acrescida por uma separação de casal
litigiosa, que complica as coisas. O que
pode a mente humana perturbada por incômodos produzir nas relações
face-a-face? No filme de Hafsteinn
Gunnar Sigurdsson, as personagens femininas mostram mais desequilíbrios do que
os homens. As feministas podem não
gostar disso, mas o filme funciona muito bem e os homens podem ser menos
loucos, mas são fracos e incompetentes.
ESPLENDOR,
o novo filme de Naomi Kawase, do Japão, tem a delicadeza e a afetividade que o
seu cinema costuma apresentar e a capacidade de lidar com os conflitos de forma
construtiva. A perda progressiva da
visão para um fotógrafo e as dificuldades que o trabalho de escrever versões de
filmes para deficientes visuais envolve são o mote de um encontro renovador
entre os dois personagens. Muito terrno
e bonito.
FELICITÉ,
de Alain Gomis, nos leva ao Congo, uma cantora e sua bela música, que convivem
com a pobreza e com a falta de atendimento digno à saúde que tornam dramática a
situação, quando o filho dela sofre um acidente grave. O filme conta essa história de forma fluida e
esteticamente elaborada, mas a cópia exibida estava escura demais, dificultando
o fruir dos detalhes, nas cenas noturnas.
Uma grande atriz protagoniza o longa de produção francesa, belga,
senegalesa, alemã e libanesa.
HUMAN
FLOW -- Não existe lar se não há para
onde ir, do multiartista chinês
Ai Wei Wei, que também assina o cartaz da 41ª. Mostra, é uma ampla reportagem
sobre o flagelo dos refugiados nos últimos tempos. O documentário, de produção alemã, percorreu
23 países em busca de mostrar as pessoas e os campos de refugiados e tudo o que
envolve essa grande tragédia da atualidade.
Basta dizer que são 65 milhões de pessoas no mundo que não têm um lar ou
como voltar a ele. Refugiados são as
pessoas que fogem da guerra, da fome, da miséria, da perseguição política e religiosa. Gente que não tem escolha e está sendo recebida
em fronteiras fechadas, muros e cercas de arame farpado.
O filme teve que editar um vastíssimio material, o
que o obrigou a ter de passar rápido por cada situação e não conseguiu
encontrar um personagem ou símbolo que alinhavasse a tragédia relatada. Quem
costura um pouco os capítulos é o próprio diretor, que interage com seu objeto
e é uma figura sensível e humanizadora.
AI WEI WEI no cinema do Shopping Frei Caneca |
TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME, o filme estadunidense, de
Martin McDonagh, tem uma história fascinante e uma personagem feminina forte e
decidida. Ela cobra das autoridades
policiais locais pelo assassinato da filha.
E o faz de modo competente e original, o que cria conflitos saborosos
por lá. O policial alvo das cobranças é
um personagem muito interessante, também.
Frances McDormand e Woody Harrelson são os principais destaques de um
filme que flui muito bem e mantém o suspense a que se propõe.
O JOVEM KARL MARX é um filme dirigido por
Raoul Peck, que esteve há pouco nos nossos cinemas, com “Eu Nâo Sou Seu
Negro”. Aqui, ele se debruça sobre a
vida e a obra de Karl Marx (1818-1883), que pode ser considerado, ao lado de
Sigmund Freud (1856-1939), a mais importante referência das ciências humanas
dos séculos XIX e XX. Trata também da
relação que Marx estabeleceu com seu parceiro de estudos e militância política,
Friedrich Engels (1820-1895), de grande peso e importância, de 1843 a 1848,
anos de juventude que culminaram nas revoluções europeias e no famoso manifesto
do partido comunista. O filme adota uma
narrativa clássica muito apropriada ao seu objetivo, que é também didático e
informativo. E o resultado é ótimo.
Correto na história e no estabelecimento dos conceitos que nasciam para
influenciar o mundo até os dias de hoje.
Produção franco-germânica.
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