segunda-feira, 27 de março de 2017

EU TE LEVO


Antonio Carlos Egypto




EU TE LEVO.  Brasil, 2014.  Direção: Marcelo Müller.  Com Anderson Di Rizzi, Rosi Campos, Giovanni Gallo, Gabriela Palombo.  80 min.


“Eu Te Levo”, filme de Marcelo Müller, que também trabalhou no roteiro, toma como ponto de partida a chamada  Geração Canguru,  a dos jovens que permanecem vivendo na casa dos pais até uma idade avançada, por não conseguirem encontrar seus caminhos na vida e não serem capazes de prover o próprio sustento.  Pesquisas indicam que cerca de 25% dos jovens entre 25 e 34 anos ainda moravam com os pais, em 2014-2015, no Brasil. 

Encontrar-se, fazer escolhas, decidir seu rumo na vida, pode se tornar algo complexo, quando não encaminhado devidamente no período da adolescência.  No filme  “Eu Te Levo”, o personagem Rogério (Anderson Di Rizzi), de 29 anos, se depara com a morte do pai e a herança de uma loja com a qual não se identifica, mas que representa muito, simbolicamente e como meio de vida, para sua mãe.  Ele tem um sonho de criança, como ser bombeiro, e uma experiência com uma banda de rock, como baterista, que ficou para trás. 

Na realidade, seus caminhos são nebulosos, ele não sabe o que quer.  E os espectadores do filme viverão esse dilema e essa angústia, embora não explicitada pelas ações do personagem, da indecisão, da perda de rumo, com ele, que é o centro da narrativa.  Isso se dá de modo abafado, já que Rogério é fechado, calado, prefere esconder mais do que compartilhar coisas.  Tudo assim fica ainda mais difícil.  Mas é interessante viver de dentro a indecisão do protagonista.  Embora o filme pudesse explorar melhor as motivações e bloqueios do personagem.





O jovem Cris (Giovanni Gallo), a quem Rogério dá carona regularmente, a pedido de um amigo, é outro exemplo da Geração Canguru, um pouco mais jovem, mas igualmente em busca de algo que não se sabe bem o que é, desviando-se também do rumo que lhe foi traçado (ou que ele mesmo teria traçado?).

Rosi Campos, grande atriz, faz a mãe Marta com a adequada intensidade, mas seu personagem não nos permite ir muito além do clichê da mãe sofredora.

Um detalhe importante da trama chama a atenção para o papel da ideologia nas escolhas profissionais.  Nas tratativas para chegar a se tornar bombeiro, Rogério é forçado a se posicionar frente ao comportamento da polícia militar do Estado de São Paulo, a quem pertence a corporação dos bombeiros.  O que complicará enormemente a sua escolha.  Ou seja, os dramas e conflitos não são só internos ao personagem.  Dão-se objetivamente nas instituições, na sociedade.


A produção “Eu Te Levo”, de Jundiaí, interior de São Paulo, em preto e branco, põe em discussão uma questão real dos jovens, sobretudo de classe média, que merece mesmo a nossa atenção, talvez ainda carecendo de personagens mais aprofundados.  Para um primeiro longa-metragem como diretor, Marcelo Müller se saiu muito bem.  Sua já larga experiência como roteirista certamente contribuiu para esse resultado.



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