Antonio Carlos
Egypto
EU TE LEVO.
Brasil, 2014. Direção: Marcelo
Müller. Com Anderson Di Rizzi, Rosi
Campos, Giovanni Gallo, Gabriela Palombo.
80 min.
“Eu Te Levo”, filme de Marcelo Müller, que também
trabalhou no roteiro, toma como ponto de partida a chamada Geração
Canguru, a dos jovens que permanecem
vivendo na casa dos pais até uma idade avançada, por não conseguirem encontrar
seus caminhos na vida e não serem capazes de prover o próprio sustento. Pesquisas indicam que cerca de 25% dos jovens
entre 25 e 34 anos ainda moravam com os pais, em 2014-2015, no Brasil.
Encontrar-se, fazer escolhas, decidir seu rumo na
vida, pode se tornar algo complexo, quando não encaminhado devidamente no
período da adolescência. No filme “Eu Te Levo”, o personagem Rogério (Anderson
Di Rizzi), de 29 anos, se depara com a morte do pai e a herança de uma loja com
a qual não se identifica, mas que representa muito, simbolicamente e como meio
de vida, para sua mãe. Ele tem um sonho
de criança, como ser bombeiro, e uma experiência com uma banda de rock, como
baterista, que ficou para trás.
Na realidade, seus caminhos são nebulosos, ele não
sabe o que quer. E os espectadores do
filme viverão esse dilema e essa angústia, embora não explicitada pelas ações
do personagem, da indecisão, da perda de rumo, com ele, que é o centro da
narrativa. Isso se dá de modo abafado,
já que Rogério é fechado, calado, prefere esconder mais do que compartilhar
coisas. Tudo assim fica ainda mais
difícil. Mas é interessante viver de
dentro a indecisão do protagonista.
Embora o filme pudesse explorar melhor as motivações e bloqueios do
personagem.
O jovem Cris (Giovanni Gallo), a quem Rogério dá
carona regularmente, a pedido de um amigo, é outro exemplo da Geração Canguru, um pouco mais jovem,
mas igualmente em busca de algo que não se sabe bem o que é, desviando-se
também do rumo que lhe foi traçado (ou que ele mesmo teria traçado?).
Rosi Campos, grande atriz, faz a mãe Marta com a
adequada intensidade, mas seu personagem não nos permite ir muito além do
clichê da mãe sofredora.
Um detalhe importante da trama chama a atenção para o
papel da ideologia nas escolhas profissionais.
Nas tratativas para chegar a se tornar bombeiro, Rogério é forçado a se
posicionar frente ao comportamento da polícia militar do Estado de São Paulo, a
quem pertence a corporação dos bombeiros.
O que complicará enormemente a sua escolha. Ou seja, os dramas e conflitos não são só
internos ao personagem. Dão-se
objetivamente nas instituições, na sociedade.
A produção “Eu Te Levo”, de Jundiaí, interior de São
Paulo, em preto e branco, põe em discussão uma questão real dos jovens,
sobretudo de classe média, que merece mesmo a nossa atenção, talvez ainda
carecendo de personagens mais aprofundados.
Para um primeiro longa-metragem como diretor, Marcelo Müller se saiu
muito bem. Sua já larga experiência como
roteirista certamente contribuiu para esse resultado.
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