quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

PAPA FRANCISCO:CONQUISTANDO CORAÇÕES


Antonio Carlos Egypto




PAPA FRANCISCO: CONQUISTANDO CORAÇÕES (Francisco: El Padre Jorge).  Argentina/Espanha, 2015.  Direção: Beda DoCampo Feijóo.  Com Darío Grandinetti, Silvia Abascal, Anabella Agostini, Gabriel Gallicchio, Leonor Manso.  105 min.



O papa Francisco é uma figura pública das mais admiráveis da atualidade.  Por seu despojamento, sua simplicidade ao exercer o poder que tem, pela procura por ouvir, acolher e entender mais do que julgar ou restringir as pessoas e a diversidade humana.  É um homem que pratica o que prega e o faz com humildade.  Sua inserção neste nosso cada vez mais insensato mundo trouxe um sopro de tolerância e liberdade, que há muito se fazia necessário, sobretudo partindo da poderosa Igreja Católica.

Chega a seu quarto ano de papado e ganha uma cinebiografia para celebrá-lo.  O personagem é cativante e merece o apoio que tem recebido dos homens e mulheres de bem, sejam religiosos ou não.  O problema que esse tipo de filme pode trazer é ser chapa-branca e servir apenas à propaganda ou propagação de uma religião.  Ou só falar aos já convertidos.  O título em português: “Papa Francisco: Conquistando Corações” só reforça essa impressão marqueteira.  No entanto, o título original é outra coisa: “Francisco: El Padre Jorge” e corresponde muito melhor ao que é o filme e ao personagem que retrata.




Jorge Bergoglio, o padre Jorge, que se tornou papa, o primeiro da América Latina, é uma pessoa forjada no convívio com as questões sociais de uma região empobrecida.  Sendo um homem de ir às ruas e ao contato com as pessoas, desenvolveu sensibilidade para ir muito além da doutrina e suas regras, o que seu antecessor Bento XVI, Joseph Ratzinger, não demonstrava.  O filme mostra isso e coloca claramente os dois polos, o inovador e o conservador, mas não só não faz qualquer crítica ao papa que renunciou como cita uma fala de Francisco, colocando como corajoso e revolucionário o seu ato surpreendente de renúncia.  Certamente não convinha a crítica direta ou a comparação de estilos.  Seria quase afrontoso fazê-lo, tão gritante é essa diferença.

Da mesma maneira, o filme cita os escândalos da pedofilia na igreja e o do Banco do Vaticano, mas não lida com esses temas.  Do casamento gay nem se fala.  A questão do aborto aparece numa cena do papa, confortando uma fiel, que chorava e se dizia arrependida de ter tirado o feto.  Terrível, mas algo passível de ser acolhido ou perdoado.  A questão é mais complexa e pode dispensar essa culpa toda, mas já há algum avanço aí.




De resto, o filme mostra a evolução do padre Jorge em cenas muito menos convincentes sobre a sua juventude, relações familiares e interesse por eventuais namoradas do que na sua vida adulta de padre, bispo, cardeal de Buenos Aires.  Em parte, porque o ator que faz o jovem padre Jorge, Gabriel Gallicchio, não é muito expressivo no papel, enquanto o grande ator argentino Darío Grandinetti encarna magistralmente o papa Francisco.  Já conhecido do público brasileiro por filmes como “Fale Com Ela” e “Julieta”, ambos de Pedro Almodóvar, ou “Relatos Selvagens”, de Damián Szifron.

A narrativa explora o período que envolve o conclave que elegeu Ratzinger e depois, o que elegeu Bergoglio, por meio do relacionamento do padre Jorge com a jornalista Ana, papel da ótima atriz espanhola Silvia Abascal, cuja parceria com Grandinetti resulta estupenda.




A trama está longe de apresentar uma história simplificada ou adocicada.  Mostra os conflitos, as dificuldades e as questões que envolveram Bergoglio e a ditadura militar argentina, incluindo as denúncias feitas quando o atual papa assumiu.  Explica e defende o papel que ele teve naquela ocasião, junto aos padres jesuítas sequestrados, além de outros atos de solidariedade que, como mostra o filme, parecem não só comuns como definidores da personalidade e da atuação do padre Jorge.

Enfim, é um filme que se vê e se aprecia muito bem e que não entra naquela categoria indesejável de filme religioso de propaganda.  É uma boa produção, dirigida por Beda DoCampo Feijóo, cineasta nascido em Vigo, na Espanha, mas radicado na Argentina desde que era bebê, para onde se mudou sua família.  Baseou-se no romance Pope Francis, Life and Revolution, de Elisabetta Pique, jornalista argentina, nascida em Florença, na Itália, correspondente do jornal La Nación, no Vaticano.



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