sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Elle

Tatiana Babadobulos



ELLE (Elle). França, Alemanha e Bélgica, 2016. Direção: Paul Verhoeven. Com Isabelle Huppert, Laurent Lafitte, Anne Consigny. 130 min.



“Elle”, de Paul Verhoeven, é um filme perturbador. Não convém falar da história, pois pode perder o impacto. Mas alguma coisa é possível dizer sem estragar…
O longa-metragem é estrelado pela atriz francesa Isabelle Huppert. Ela vive Michèle, uma mulher empoderada que sabe o que quer. Nos negócios, comanda uma empresa de videogames. Trabalha com jovens e não tem receio de dizer o que vale e o que não vale no desenho de um novo jogo.
Na vida pessoal, Michèle é separada, mas tem ciúme do ex-marido, Rochard (Charles Berling), com quem tem um filho adulto. O filho, aliás, é o que mais dá dor de cabeça no dia a dia. Namora uma moça que está prestes a ter um filho, mas ele não tem um bom emprego que poderá dar sustento à família. Depende, pois, da ajuda da mãe.
Por falar em mãe, Michèle implica com a sua própria mãe, que tem um relacionamento com uma rapaz muitos e muitos anos mais jovem…
Os relacionamentos, pessoal e empresarial, não são o foco do longa dirigido por Verhoeven, que ficou bastante conhecido por seu filme “Instinto Selvagem”. Sim, aquela produção norte-americana dos anos 1990 no qual Sharon Stone faz aquela sensual cruzada de pernas que ficou marcada na história do cinema…


O mote de “Elle” é o que acontece na primeira cena: Michèle, deitada no chão de sua casa, em Paris, acaba de ser violentada por um homem mascarado. A cena do seu gato observando o ato é o suficiente para o espectador entender o que está acontecendo.

O que vai prender a plateia do início ao fim da produção é a maneira como a personagem encara o estupro e como ela lida com essa violência, na ânsia de descobrir quem é o agressor.
As cenas fortes do estupro são tratadas com maestria por Verhoeven. Além de “Instinto Selvagem”, o realizador holandês, que viveu muitos anos nos Estados Unidos, dirigiu longas de ação e de ficção científica como “Robocop” (1987) e “O Vingador do Futuro” (1990). Ele aplica, de certa maneira, o aprendizado anterior na obra atual, mesmo que o longa seja mais intimista e não tenha nada de ação.



Seja na música que sobe no momento do ataque, seja no movimento de câmera quando Michèle começa a lutar contra o agressor. Sua impressão está lá. E Isabelle Huppert dá conta do recado, supera a demanda quando interpreta uma mulher madura, empoderada, que não se acovarda nem quando há medição de força física.
“Elle” é um filme feminino, provocador e imperdível.
Depois de receber a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2016, o longa é o representante da França no Oscar de melhor filme estrangeiro. E Isabelle Huppert concorre ao prêmio de melhor atriz dramática no Globo de Ouro, cuja entrega será feita no domingo, dia 8 de janeiro de 2017.

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