sexta-feira, 11 de novembro de 2016

BALANÇO DA 40a MOSTRA I


Antonio Carlos Egypto


Num festival como a 40ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que exibiu 322 filmes, como fazer um balanço?  Eu vi bastante este ano.  Foram 58 filmes, sendo 54 longas e 4 curtas.  Entretanto, muitas outras pessoas que também viram muita coisa fizeram uma seleção muito diferente da minha.  É aquela história: uns veem a tromba, outros, as pernas ou o rabo, mas ninguém consegue ver o elefante.  Em todo caso, não vou me furtar a destacar o que foi mais importante dentro do que eu pude ver.  Por sinal, em postagens anteriores, já comentei vários filmes da Mostra. 

Não faltaram bons filmes, mas, para mim, não houve nenhuma grande surpresa.  Alguns dos melhores que foram exibidos são produções caras, destinadas a um público mais amplo do que os chamados filmes experimentais, de reflexão, de arte.  E que já estão, ou em breve estarão, no circuito exibidor. 


THE HANDMAIDEN


ELLE, de Paul Verhoeven, ANIMAIS NOTURNOS, de Tom Ford, BELOS SONHOS, de Marco Bellocchio, DEPOIS DA TEMPESTADE, de Hirokazu Kore-Eda, O IGNORANTE, de Paul Vecchiali, A GAROTA DESCONHECIDA, dos irmãos Dardenne, O PLANO DE MAGGIE, de Rebecca Miller, e THE HANDMAIDEN, de Park-Chan-Wook, já foram comentados aqui.

13 MINUTOS, de Oliver Hirschbiegel, o mesmo diretor de “A Queda – Os Últimos Dias de Hitler”, foca agora Hitler pela ótica do carpinteiro Georg Elser, que em 1939 tentou mudar a história e assassinar o ditador, instalando com sucesso uma bomba no local onde ele fez um discurso.  Errou por 13 minutos. Foi alguém que enxergou tudo que estava ainda por vir e resolveu agir antes de que fosse tarde.  O filme já está nos cinemas e merece ser visto.


13 MINUTOS


O APARTAMENTO, do já conhecido e respeitado cineasta iraniano Asghar Farhadi, também estará brevemente nos cinemas.  Ele volta a lidar com um dilema moral.  Filma bem e nos apresenta uma fotografia exuberante, luminosa.  Mas há alguns excessos comportamentais e na evolução da narrativa que merecem reparo.  Ainda assim, belo filme.

MA’ROSA, do filipino Brillante Mendoza, já também conhecido do público, é um trabalho forte, que lida com pobreza, crime, prisão, polícia e corrupção.  A estrutura, toda montada na captação de dinheiro por uma causa, é muito similar à do seu outro trabalho, “Lola”, de 2009, o que compromete um pouco o filme.  Mas funciona.


ZERO DAYS


ZERO DAYS, de Alex Gibney, é um filme verborrágico que cansa pelo excesso de palavras, mas nos mostra uma coisa muito grave: a guerra cibernética é um fato presente e altamente destruidor. Assustador.  Vale conferir.

MORTE EM SARAJEVO, de Danis Tanovic, da Bósnia, com prêmios importantes em Berlim, também deve ser lançado.  As tensões do Hotel Europa, preparando uma festa de gala para lembrar o assassinato do arquiduque Ferdinando na Primeira Guerra Mundial, trata com ironia dos conflitos insolúveis e do colapso da União Europeia.

Os documentários GAGA – O AMOR PELA DANÇA, de Tomer Heymann, MIFUNE: O ÚLTIMO SAMURAI, de Steven Okazaki, e PITANGA, de Beto Brant e Camila Pitanga, devem aportar logo nos cinemas. Assim como a comédia O REI DOS BELGAS, de Peter Brosens e Jessica Woodworth.  São bons programas cinematográficos, que já comentei por aqui.


MARTÍRIO


O documentário nacional MARTÍRIO, de Vincent Carelli, aborda a política indigenista dos governos brasileiros junto aos índios Guarani-Kaiowá, que sempre buscam recuperar suas terras sagradas e são tratados como invasores.  Constatamos que, de Getúlio Vargas a Dilma Rousseff, pouca coisa mudou no massacre a que estão sujeitas as populações indígenas frente aos interesses do agora assim chamado agronegócio.  O filme é denso e informativo, embora muito longo.  Merecia uma edição mais enxuta, o que seria mais eficaz para os seus objetivos.

Quanto aos filmes que não sabemos se entrarão no circuito exibidor, ou quando isso possa vir a acontecer, deixo para abordar no próximo texto.


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