Antonio Carlos
Egypto
HESTÓRIAS DA PSICANÁLISE. Brasil, 2015.
Direção: Francisco Capoulade.
Documentário. 96 min.
Impossível falar do documentário que trata de Freud,
sua leitura e aplicação no Brasil, sem se referir ao esdrúxulo título dado ao
filme: “Hestórias (sic) da
Psicanálise – Leitores de Fred”. Com hestórias, tenta-se criar um neologismo
para abarcar o fato de que aborda questões históricas da psicanálise no Brasil
e relata casos e situações ficcionais, invenções ou brincadeiras que fizeram
parte disso. Para evitar escrever
Histórias e Estórias da Psicanálise, tascaram logo Hestórias.
Faz sentido?
Eu acho que não. Para começar, a
palavra estória não vingou na língua
portuguesa, foi uma ideia infeliz, não aprovada, nem recomendada, por quem se
expressa em bom português. Os
dicionários, quando a registram, geralmente o fazem criticamente. A palavra história
abarca todo o sentido que se pretendeu considerar aqui.
O cinema hoje já nem mais concebe documentário e
ficção como coisas totalmente diferentes.
Todo fato comporta não só interpretações várias, mas memórias e
lembranças que são inevitavelmente seletivas e a verdade, como tal, se
perde. Há um diálogo, uma fusão, um
questionamento e uma integração do documentário com a ficção. Os filmes refletem esse amálgama de fatos,
situações, encenações, personagens, que se confundem no real, no imaginário,
oriundos do mundo interno ou da dimensão sociológica, sem delimitações claras.
Isso posto, é bem intencionada a ideia de aproximar
Freud de um público mais amplo do que o dos profissionais da área. Já que o povo diz que “Freud explica”, que
tal entender um pouco quem foi ele e por que ele jamais teve a intenção de
explicar tudo, como imagina o leigo.
Para isso, o diretor Francisco Capoulade,
psicanalista e documentarista, não poupou esforços e foi atrás de um grande
número de entrevistados ilustres, como Christian Dunker, Lya Luft, Joel Birman,
André Medina Carone, Leopold Nosek, Monique David-Mérard, Mário Eduardo Costa
Pereira, Paulo Sérgio Rouanet, Miriam Chnaiderman, Marcelo Masagão e muitos
outros. Filmou cenas de mar por dentro,
foi até as ruas de Viena, procurando contextualizar o universo de Freud também
nessas imagens.
No entanto, o filme não vai além de ser um
documentário bastante convencional, em que os depoimentos, sejam de que tipo
forem, ocupam quase todo o espaço e, se sucedendo um após o outro e alternando
as falas, vão interessar muito a quem já faz parte desse universo, mas se
tornarão cansativos para o público em geral.
Além de que algumas questões, embora relevantes, são eruditas. A discussão de como se leu Freud em
português, a partir da tradução em inglês do original alemão e, com isso, se introduziram
distorções conceituais, dificilmente envolverá os que não se utilizam da obra,
brilhante, genial, de Freud para objetivos profissionais.
É verdade que o trabalho do grande pensador vai muito
além do que a sua aplicação na análise de pacientes, aqui ou em qualquer outro
canto do mundo. Mas não será dessa forma
que se conseguirá alcançar uma dimensão maior de popularização da obra
freudiana. O documentário “Hestórias da
Psicanálise” vai interessar aos psicanalistas, psicólogos, psiquiatras e outros
médicos e educadores, em função das informações sobre a psicanálise no Brasil e
pelas falas inteligentes dos ilustres entrevistados. Como cinema, nada de novo, além do título
despropositado.
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