terça-feira, 18 de agosto de 2015

A DOCE VIDA


Antonio Carlos Egypto





A DOCE VIDA (La Dolce Vita).  Itália, 1960.  Direção: Federico Fellini.  Com Marcello Mastroianni, Anouk Aimée, Anita Ekberg, Magali Nöel, Yvonne Furneaux, Alain Cuny.  174 min.


Federico Fellini (1920-1993) foi um dos maiores criadores de toda a história do cinema.  Iniciou sua trajetória como cineasta dentro do neorrealismo e suas propostas de captar a realidade de forma direta, nas ruas, geralmente com atores amadores, respondendo de forma objetiva e reflexiva ao cenário de escassez de recursos, desilusões e desgastes, do pós-Segunda Guerra Mundial, especialmente no contexto italiano.


 


No entanto, Fellini evoluiu daí para um cinema de invenção, criando universos próprios e dando extraordinário espaço à imaginação.  Afinal, a realidade não nos é dada, ela é percebida, captada, recordada, construída.  O mundo felliniano de personagens exagerados, excêntricos, estranhos, circenses, nos leva a pensar em tudo que nos diz respeito, que nos cerca, o nosso imaginário, o inconsciente, o inusitado da vida.

Essa história toda parece ter se estabelecido de forma evidente num dos grandes clássicos do diretor: o lendário “A Doce Vida”, de 1960.  Nele, Fellini inventa um ambiente em que a burguesia romana da época, entediada e vazia, se alimenta de festas, orgias, aventuras amorosas, num mundo de aparências e falsidades, sem sentido.  Embora imaginado, era um retrato da angústia existencial do período.




Lá estavam também a prostituição, a homossexualidade, o travestismo, o strip-tease de socialites, o vandalismo dos ricos e um punhado de outros elementos verdadeiramente escandalosos para a época.

“A Doce Vida” introduziu a ideia e a prática dos paparazzi, que invadem, como abutres e de forma  antiética, a vida privada, em busca de fotos e reportagens de fofoca sobre os famosos ou de desgraças que possam render grana.




Mas o que faz de “A Doce Vida” um filme atual e brilhante é a estrutura como foi criado e montado.  As sequências são absolutamente notáveis, aparentemente independentes entre si, mas formando um conjunto cheio de sentido.

A sequência em que Anita Ekberg entra na Fontana di Trevi e traz Marcello Mastroianni para a água, após ele chegar com um copo de leite para o gato, é histórica e jamais foi esquecida.  Ela, por si só, vale por todo o filme, claro.  Mas dezenas de outras encantarão o espectador que se dispuser a percorrer os 174 minutos de um filme que prende a atenção todo o tempo de projeção.  E a gente ainda quer mais.




A ótima fotografia de Otello Martelli, em preto e branco, é outro grande atributo do filme.  Sem falar no trabalho excepcional desse grande ator que foi Marcello Mastroianni, verdadeiramente inesquecível.  E, claro, Anita Ekberg, deslumbrante, Anouk Aimée, ótima.  Como se não bastasse, ainda tem a música maravilhosa de Nino Rota.

“A Doce Vida” é um programa obrigatório para os jovens que ainda não o viram.  E se torna um evento especial para os que podem revê-lo, agora novamente na tela do cinema, em cópia restaurada de excelente qualidade.  Fiz a experiência de vê-lo, mais uma vez, no telão, e adorei.







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