Antonio
Carlos Egypto
O Retrato de Adele Bloch-Bauer I de Gustav Klimt |
A
DAMA DOURADA (Woman In Gold). Estados Unidos/Inglaterra, 2014. Direção: Simon Curtis. Com Helen Mirren, Ryan Reynolds, Daniel
Brühl. 107 min.
“A Dama Dourada” não é um grande filme, mas tem
elementos suficientes para interessar os espectadores. A começar por uma boa história, real, que
envolve personagens muito charmosos e culturalmente relevantes.
Que história é essa?
A da recuperação do quadro Retrato
de Adele Bloch-Bauer, de Gustav Klimt, pela senhora judia Maria Altmann
(Helen Mirren), que vem a ser a sobrinha da pessoa retratada no quadro. Esse e mais alguns trabalhos do grande pintor
austríaco foram roubados da rica família vienense, de quem Maria foi a única
sobrevivente. E permaneciam na Áustria, até que ela, setenta anos após ter
fugido de avião de Viena para os Estados Unidos, resolveu reclamar o direito à
obra de arte, ensejando uma das mais célebres disputas do espólio nazista. E que se resolveu recentemente, no final dos
anos 1990.
O Retrato de
Adele Bloch-Bauer I, de 1907, é o quinto quadro mais caro do mundo, uma
obra fulgurante da arte moderna, considerada a Mona Lisa da Áustria. Gustav Klimt
(1862-1918) era um pintor simbolista, sintonizado com os tempos da art noveau e com as mudanças que o fim
do século XIX e o início do XX representavam para a Viena, em que Sigmund Freud
(1856-1939) revolucionava a visão do ser humano, a partir de sua concepção da
psicanálise.
Klimt produzia pinturas espetaculares, feitas para
decorar ambientes requintados, obras figurativas que recusavam a arte
acadêmica. Era filho de um modesto
ourives, o que o levou a trabalhar com ouro, como no quadro em questão, e no
não menos famoso O Beijo, realizado
no mesmo ano ou no ano seguinte, 1908.
Como tirar da Áustria uma obra tão importante? Era uma tarefa quase impossível, apesar da
disposição anunciada pelo governo austríaco de reparar as perdas e injustiças
sofridas por muitas famílias, no período da ocupação nazista do país. Trabalho para um intrépido, mas inexperiente,
jovem advogado, Randy Schoenberg (Ryan Reynolds), ninguém menos do que um neto
do grande compositor austríaco clássico, Arnold Schoenberg (1874-1951). Com uma história como essa, envolvendo
personagens fascinantes e grandes expressões artísticas, difícil não se
interessar.
Ao desenvolver essa trama, centrada na questão das
obras de arte, “A Dama Dourada” também trata da retomada de um passado
esquecido, renegado pela personagem Maria Altmann, que nunca havia retornado a
seu país de origem, nos setenta anos que se passaram. Envereda pelo caminho dos filmes de tribunal,
mostrando as disputas jurídicas ocorridas na Áustria e nos Estados Unidos. E, de quebra, passeia pela lindíssima cidade
de Viena e suas construções que revelam um passado grandioso e hoje se
constituem em bela atração turística.
Outro elemento motivador é o ótimo elenco que dá vida
a esses personagens. A presença de Helen
Mirren, interpretando Maria Altmann, é o ponto alto do filme. Ela é brilhante. Mas Ryan Reynolds também
está muito bem como o advogado e o ator alemão Daniel Brühl faz um papel
complementar importante, e é muito bom também, como um austríaco disposto a
ajudar a reparar os crimes cometidos durante a II Guerra Mundial.
O filme segue uma narrativa clássica, adaptando o
livro A Dama Dourada: a extraordinária história da obra-prima de Gustav Klimt, retrato de Adele Bloch-Bauer, da
jornalista Anne-Marie O’Connor.
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