Antonio
Carlos Egypto
MINHA IRMÃ (L’Enfant
d’en Haut). Suíça, 2012. Direção: Ursula Meier. Com Léa Seydoux, Kacey Mottet Klein, Martin
Compston, Gillian Anderson. 97 min.
Estamos nas montanhas suíças, em plena temporada de
inverno, de esqui na neve. Acorrem a
essas estações pessoas de posses que ostentam lindos pares de esqui novinhos,
óculos de proteção, luvas e outros tantos objetos atraentes, além de lanches
variados.
O garoto Simon (Kacey Mottet Klein), de 12 anos, vive
num condomínio ao pé da montanha, com sua irmã mais velha, Louise (Léa
Seydoux), e levanta dinheiro praticando pequenos roubos. Os objetos roubados são revendidos por ali
mesmo, os lanches, consumidos em casa, e com isso ele acaba sustentando a
família. Ou seja, a si mesmo e à irmã,
que vive perdendo os precários empregos que arruma.
O garoto sobe e desce a montanha ao longo de toda a
temporada, com eficiência e regularidade, como um pequeno trabalhador. Encontra lá em cima sua subsistência, já que
não dispõe de outros meios. Vive só com
a irmã. O título original, O Garoto de Cima, alude a isso e
representa melhor a história do que a tradução “Minha Irmã”. O personagem
principal, que conduz toda a narrativa, e a quem acompanhamos do princípio ao
fim, é o garoto, embora sua irmã tenha grande significado no caso.
Simon tem uma desenvoltura e ao mesmo tempo uma
capacidade de desaparecer em meio aos turistas que é notável. E, tendo que se virar praticamente sozinho na
vida, aprendeu o meio de fazê-lo, de um jeito simples e fácil. As vítimas mal se dão conta de que estão
sendo roubadas e repõem os itens “perdidos” sem maiores problemas. Mas é evidente que nem tudo sai como o
esperado ou planejado.
Para além dessa trama que estou apresentando, o filme
trabalha, e muito bem, as questões de motivação e relacionamento humanos. Como é um garoto que, sentindo a rejeição da mãe, desenvolve precocemente
tanto um papel de trabalhador quanto o de ladrão? Pré-adolescente ainda, já entrando em cheio
no mundo do crime. Por enquanto, por
conta própria. Mas já envolvendo meninos
menores do que ele.
O que uma mãe que engravidou sem desejar, e muito
cedo, faz com o fruto de seus desejos sexuais, despreparada, incapacitada para
assumir um filho? E como se dará a
relação mãe-filho, se houver, numa situação como essa?
“Minha Irmã” é um filme que aborda com muita
sensibilidade essa questão da gravidez na adolescência por um ângulo inusitado,
mas perfeitamente compreensível. E, ao
mesmo tempo, provocador e desafiador. É
um filme que envolve, faz pensar. Um
trabalho de uma cineasta que, sendo mulher, tem mais condições de tratar do
tema com conhecimento de causa.
A produção suíça “Minha Irmã”, vencedora do Urso de
Prata no Festival de Berlim, e que representou a Suíça junto ao Oscar, tem no
elenco o garoto Kacey Mottet Klein, muito bom, e Léa Seydoux, que já havia se
destacado em “Azul É A Cor Mais Quente”, em 2013, e compõe aqui um personagem
repleto de instabilidades, com muitas nuances, num belo desempenho.
Neste mês de junho, São Paulo recebe o 5º. Panorama
do Cinema Suíço Contemporâneo, com 16 produções recentes. É muito oportuno que “Minha Irmã”, de 2012,
entre em cartaz no mesmo período, em sessões regulares no Cinesesc. É a Suíça mostrando que não faz só bons
chocolates e relógios-cuco, mas muito bom cinema.
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