terça-feira, 9 de junho de 2015

MINHA IRMÃ


Antonio Carlos Egypto



MINHA IRMÃ (L’Enfant d’en Haut).  Suíça, 2012.  Direção: Ursula Meier.  Com Léa Seydoux, Kacey Mottet Klein, Martin Compston, Gillian Anderson.  97 min.


Estamos nas montanhas suíças, em plena temporada de inverno, de esqui na neve.  Acorrem a essas estações pessoas de posses que ostentam lindos pares de esqui novinhos, óculos de proteção, luvas e outros tantos objetos atraentes, além de lanches variados. 

O garoto Simon (Kacey Mottet Klein), de 12 anos, vive num condomínio ao pé da montanha, com sua irmã mais velha, Louise (Léa Seydoux), e levanta dinheiro praticando pequenos roubos.  Os objetos roubados são revendidos por ali mesmo, os lanches, consumidos em casa, e com isso ele acaba sustentando a família.  Ou seja, a si mesmo e à irmã, que vive perdendo os precários empregos que arruma.



O garoto sobe e desce a montanha ao longo de toda a temporada, com eficiência e regularidade, como um pequeno trabalhador.  Encontra lá em cima sua subsistência, já que não dispõe de outros meios.  Vive só com a irmã.  O título original, O Garoto de Cima, alude a isso e representa melhor a história do que a tradução “Minha Irmã”. O personagem principal, que conduz toda a narrativa, e a quem acompanhamos do princípio ao fim, é o garoto, embora sua irmã tenha grande significado no caso.

Simon tem uma desenvoltura e ao mesmo tempo uma capacidade de desaparecer em meio aos turistas que é notável.  E, tendo que se virar praticamente sozinho na vida, aprendeu o meio de fazê-lo, de um jeito simples e fácil.  As vítimas mal se dão conta de que estão sendo roubadas e repõem os itens “perdidos” sem maiores problemas.  Mas é evidente que nem tudo sai como o esperado ou planejado. 



Para além dessa trama que estou apresentando, o filme trabalha, e muito bem, as questões de motivação e relacionamento humanos.  Como é um garoto  que, sentindo  a rejeição da mãe, desenvolve precocemente tanto um papel de trabalhador quanto o de ladrão?  Pré-adolescente ainda, já entrando em cheio no mundo do crime.  Por enquanto, por conta própria.  Mas já envolvendo meninos menores do que ele.

O que uma mãe que engravidou sem desejar, e muito cedo, faz com o fruto de seus desejos sexuais, despreparada, incapacitada para assumir um filho?  E como se dará a relação mãe-filho, se houver, numa situação como essa?

“Minha Irmã” é um filme que aborda com muita sensibilidade essa questão da gravidez na adolescência por um ângulo inusitado, mas perfeitamente compreensível.  E, ao mesmo tempo, provocador e desafiador.  É um filme que envolve, faz pensar.  Um trabalho de uma cineasta que, sendo mulher, tem mais condições de tratar do tema com conhecimento de causa.



A produção suíça “Minha Irmã”, vencedora do Urso de Prata no Festival de Berlim, e que representou a Suíça junto ao Oscar, tem no elenco o garoto Kacey Mottet Klein, muito bom, e Léa Seydoux, que já havia se destacado em “Azul É A Cor Mais Quente”, em 2013, e compõe aqui um personagem repleto de instabilidades, com muitas nuances, num belo desempenho.

Neste mês de junho, São Paulo recebe o 5º. Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo, com 16 produções recentes.  É muito oportuno que “Minha Irmã”, de 2012, entre em cartaz no mesmo período, em sessões regulares no Cinesesc.  É a Suíça mostrando que não faz só bons chocolates e relógios-cuco, mas muito bom cinema.

              

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