Antonio
Carlos Egypto
GRANDES OLHOS (Big
Eyes). Estados Unidos, 2014. Direção: Tim Burton. Com Amy Adams, Christoph Waltz, Kristen
Ritter, Terence Stamp. 106 min.
Dos trabalhos do diretor Tim Burton sempre se espera
algo inusitado, uma estranheza, uma excentricidade. Em “Grandes Olhos”, essa expectativa não
chega a se cumprir. Exceto pelos grandes
e marcantes olhos que a personagem-pintora Margaret Keane (Amy Adams) coloca
nas crianças que retrata em seus quadros.
A história relatada pelo filme, de forma linear, é
inspirada em fatos reais e diz respeito a uma farsa da qual a própria Margaret
participou. Seu marido, o também pintor
Walter Keane (Christoph Waltz), assumiu publicamente a autoria dos quadros dos
grandes olhos, que foram fazendo grande sucesso de vendas, com a conivência da
verdadeira autora. Eram os anos 1950 e
as relações de gênero ainda se mostravam muito desequilibradas. Mesmo assim, o que explicaria o comportamento
dela? Esse é o principal interesse do
roteiro. O que é muito apropriado.
O caso acaba nos tribunais, como se poderia
imaginar. É nesse ponto que o filme
derrapa. As cenas do tribunal não
convencem, não têm credibilidade. O
início imediato e inverossímil de um julgamento em que o réu e o advogado se
confundem dá margem a trapalhadas que soam constrangedoras, não
engraçadas. E a solução final estava tão
à vista, tão evidente, tão esperada, que se tornou óbvia e sem maior interesse.
É possível que os fatos relatados no tribunal pelo
filme até contenham elementos verdadeiros do processo e que sejam fiéis a
detalhes da realidade. Mesmo nesse caso,
as cenas não se justificam, poderiam ter sido muito melhor conduzidas, e se o
final era tão previsível uns bons cortes aliviariam a sensação de algo que se
arrasta sem qualquer necessidade. Uma
montagem mais ágil poderia contar tudo aquilo em poucos planos.
O casal de protagonistas está muito bem. Christoph Waltz enfatiza na sua atuação o
lado sedutor, marqueteiro e malandro do seu personagem. Amy Adams destaca, com seu desempenho
contido, a insegurança e a submissão de seu personagem, capaz de permanecer
assim mesmo diante de um talento reconhecido pelas pessoas e pelo mercado,
gerando altos lucros e possibilitando um estilo de vida luxuoso. É daí que provém todo o interesse da trama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário