domingo, 25 de janeiro de 2015

GRANDES OLHOS


Antonio Carlos Egypto




GRANDES OLHOS (Big Eyes).  Estados Unidos, 2014.  Direção: Tim Burton.  Com Amy Adams, Christoph Waltz, Kristen Ritter, Terence Stamp.  106 min.


Dos trabalhos do diretor Tim Burton sempre se espera algo inusitado, uma estranheza, uma excentricidade.  Em “Grandes Olhos”, essa expectativa não chega a se cumprir.  Exceto pelos grandes e marcantes olhos que a personagem-pintora Margaret Keane (Amy Adams) coloca nas crianças que retrata em seus quadros.




A história relatada pelo filme, de forma linear, é inspirada em fatos reais e diz respeito a uma farsa da qual a própria Margaret participou.  Seu marido, o também pintor Walter Keane (Christoph Waltz), assumiu publicamente a autoria dos quadros dos grandes olhos, que foram fazendo grande sucesso de vendas, com a conivência da verdadeira autora.  Eram os anos 1950 e as relações de gênero ainda se mostravam muito desequilibradas.  Mesmo assim, o que explicaria o comportamento dela?  Esse é o principal interesse do roteiro.  O que é muito apropriado.

O caso acaba nos tribunais, como se poderia imaginar.  É nesse ponto que o filme derrapa.  As cenas do tribunal não convencem, não têm credibilidade.  O início imediato e inverossímil de um julgamento em que o réu e o advogado se confundem dá margem a trapalhadas que soam constrangedoras, não engraçadas.  E a solução final estava tão à vista, tão evidente, tão esperada, que se tornou óbvia e sem maior interesse.




É possível que os fatos relatados no tribunal pelo filme até contenham elementos verdadeiros do processo e que sejam fiéis a detalhes da realidade.  Mesmo nesse caso, as cenas não se justificam, poderiam ter sido muito melhor conduzidas, e se o final era tão previsível uns bons cortes aliviariam a sensação de algo que se arrasta sem qualquer necessidade.  Uma montagem mais ágil poderia contar tudo aquilo em poucos planos.

O casal de protagonistas está muito bem.  Christoph Waltz enfatiza na sua atuação o lado sedutor, marqueteiro e malandro do seu personagem.  Amy Adams destaca, com seu desempenho contido, a insegurança e a submissão de seu personagem, capaz de permanecer assim mesmo diante de um talento reconhecido pelas pessoas e pelo mercado, gerando altos lucros e possibilitando um estilo de vida luxuoso.  É daí que provém todo o interesse da trama.


Nenhum comentário:

Postar um comentário