Antonio
Carlos Egypto
O PEQUENO FUGITIVO (Little Fugitive). Estados
Unidos, 1953. Direção e roteiro: Morris
Engel, Ruth Orkin e Ray Ashley. Com Richie Andrusco, Rickie
Brewster, Winifred Cushing, Jay Williams.
80 min.
“O Pequeno Fugitivo” é uma pequena joia cinematográfica,
produzida em 1953, que nunca foi exibida no Brasil e agora chega aos nossos
cinemas em cópia restaurada. O filme foi
premiado com o Leão de Prata, no Festival de Veneza 1953, recebeu elogios do
famoso crítico André Bazin e foi citado por François Truffaut como um dos
inspiradores da nouvelle vague. E é bom o bastante para ser apreciado com
todo o interesse sessenta anos depois de sua concepção.
Trata-se de uma produção, com uma bela fotografia em
preto e branco, que retrata as aventuras de um menino de 7 anos, Joey (Richie
Andresco), em Coney Island. Em meio às
atrações de uma praia e de um parque de diversões, ele transforma uma fuga num
grande brinquedo, em que os perigos o estão rondando a todo instante.
O mote da fuga remete à ingenuidade e à fantasia
infantil. Joey crê na brincadeira de seu
irmão mais velho, Lennie (Rickie Brewster), de que o teria matado ao manejar
uma arma. Os garotos da turma o
amedrontam, fazendo-o crer que será preso, e aí começa sua aventura.
É muito interessante ver o filme hoje, porque ele nos
leva à Nova York dos anos 1950, cheia de detalhes. Mostra roupas, trajes de banho e hábitos de
banhistas numa praia e a relatividade dos perigos de uma época em que um garoto
de 7 anos ainda podia passar a noite dormindo na areia, sem grandes
consequências.
Mas o melhor de tudo é como as coisas acontecem e são
mostradas no filme. Com muita
naturalidade e leveza, sem as amarras determinadas pelo modo clássico de contar
histórias no cinema. Com a simplicidade
de produção que caracterizou o neorrealismo, mas sem o enfoque social que o
marcava. Focado no mundo interno e nas
ações de uma criança, que se move em função do que lhe parece verdadeiro, mas
que nunca deixa de ser marcadamente criança.
Isso vale para o protagonista, mas também para o seu irmão e para as
outras crianças que aparecem no filme. O
medo, o desespero, a fuga, a sobrevivência, a procura incessante, o remorso, a
necessidade de enganar a mãe e evitar uma punição, tudo isso é vivido de forma
lúdica, como é característico das crianças.
Ou seja, o que pode até ser trágico vira brinquedo.
Um admirável trabalho realizado por pessoas que não
fizeram história no cinema, a começar pelo ator mirim, Richie Andrusco, ótimo,
que não fez carreira e foi cuidar da sua vida, fazendo outra coisa. Hoje, já idoso e aposentado, pode se lembrar
com alegria desse filme tão cativante que ele protagonizou, aos 7 anos de idade:
“O Pequeno Fugitivo”.
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