domingo, 14 de setembro de 2014

O PEQUENO FUGITIVO


Antonio Carlos Egypto




O PEQUENO FUGITIVO (Little Fugitive).  Estados Unidos, 1953.  Direção e roteiro: Morris Engel, Ruth Orkin e Ray Ashley.  Com Richie Andrusco, Rickie Brewster, Winifred Cushing, Jay Williams.  80 min.



“O Pequeno Fugitivo” é uma pequena joia cinematográfica, produzida em 1953, que nunca foi exibida no Brasil e agora chega aos nossos cinemas em cópia restaurada.  O filme foi premiado com o Leão de Prata, no Festival de Veneza 1953, recebeu elogios do famoso crítico André Bazin e foi citado por François Truffaut como um dos inspiradores da nouvelle vague.  E é bom o bastante para ser apreciado com todo o interesse sessenta anos depois de sua concepção.



Trata-se de uma produção, com uma bela fotografia em preto e branco, que retrata as aventuras de um menino de 7 anos, Joey (Richie Andresco), em Coney Island.  Em meio às atrações de uma praia e de um parque de diversões, ele transforma uma fuga num grande brinquedo, em que os perigos o estão rondando a todo instante.

O mote da fuga remete à ingenuidade e à fantasia infantil.  Joey crê na brincadeira de seu irmão mais velho, Lennie (Rickie Brewster), de que o teria matado ao manejar uma arma.  Os garotos da turma o amedrontam, fazendo-o crer que será preso, e aí começa sua aventura.




É muito interessante ver o filme hoje, porque ele nos leva à Nova York dos anos 1950, cheia de detalhes.  Mostra roupas, trajes de banho e hábitos de banhistas numa praia e a relatividade dos perigos de uma época em que um garoto de 7 anos ainda podia passar a noite dormindo na areia, sem grandes consequências.

Mas o melhor de tudo é como as coisas acontecem e são mostradas no filme.  Com muita naturalidade e leveza, sem as amarras determinadas pelo modo clássico de contar histórias no cinema.  Com a simplicidade de produção que caracterizou o neorrealismo, mas sem o enfoque social que o marcava.  Focado no mundo interno e nas ações de uma criança, que se move em função do que lhe parece verdadeiro, mas que nunca deixa de ser marcadamente criança.  Isso vale para o protagonista, mas também para o seu irmão e para as outras crianças que aparecem no filme.  O medo, o desespero, a fuga, a sobrevivência, a procura incessante, o remorso, a necessidade de enganar a mãe e evitar uma punição, tudo isso é vivido de forma lúdica, como é característico das crianças.  Ou seja, o que pode até ser trágico vira brinquedo.




Um admirável trabalho realizado por pessoas que não fizeram história no cinema, a começar pelo ator mirim, Richie Andrusco, ótimo, que não fez carreira e foi cuidar da sua vida, fazendo outra coisa.  Hoje, já idoso e aposentado, pode se lembrar com alegria desse filme tão cativante que ele protagonizou, aos 7 anos de idade: “O Pequeno Fugitivo”.




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