Antonio
Carlos Egypto
AMANTES ETERNOS (Only
Lovers Left Alive). Estados Unidos,
2013. Direção e roteiro: Jim
Jarmusch. Com Tilda Swinton, Tom Hiddleston, Mia
Wasikowska, Anton Yelchin, John Hurt. 122
min.
Uma história de amor que dura séculos, como a de Adam
(Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton) não chega a ser surpresa, num filme de
vampiros. Adam and Eve? Seriam os vampiros mais ancestrais do nosso
planeta? Não importa muito.
O que mais me chamou a atenção no filme “Amantes
Eternos”, de Jim Jarmusch, foi o modo como ele trata das velhas e conhecidas
questões vampirescas que sempre estiveram presentes na história do cinema e nas
suas constantes atualizações.
Vampiros do século XXI , refinados e sofisticados, já
não saem por aí atacando as jugulares das pessoas. Que coisa mais primitiva e arriscada! Muito mais elegante e atual é subornar um
profissional de saúde de um bom hospital, o que garante não só a boa qualidade
do sangue, como já o entrega devida e adequadamente embalado para transporte e
armazenagem. E, em vez de se lambuzar
todo de sangue, que tal sorvê-lo convenientemente em pequenas taças, como se
faz com o melhor vinho? Também é
possível inovar e fazer picolés de sangue em forma de sorvete, mantidos no
congelador.
Vampiros sofisticados será que ainda têm medo de
alho? Não se vê alho no filme e, a não
ser por uma frase en passant, o
assunto já não se coloca. E aquela
história de cruzes e outros símbolos religiosos, capazes de destruir os seres
vampirescos? Esqueça, isso é um papo
antigo, que lembra o período medieval das caças às bruxas. Bem, é claro que os vampiros se lembrarão não
apenas desse episódio histórico, mas de muitos outros que eles viveram nos
últimos quinhentos anos. Só que o mundo
mudou e eles mudaram, também. Hoje, os medos e os perigos que os envolvem são
outros.
É preciso evitar a luz solar, viver à noite, afinal,
isso é da natureza dos vampiros por todos os séculos. Mas um risco maior, atualmente, é o do sangue
contaminado. Especialmente num mundo
globalizado não se pode consumir qualquer sangue, não. Isso, sim, é capaz de pôr fim à existência de
um vampiro que, por exemplo, foi contemporâneo de Shakespeare e, como ele,
escritor: Marlowe (John Hurt).
O problema também é que nem todos os vampiros
alcançam o nível dos nossos protagonistas.
Ava (Mia Wasikowska), a irmã mais nova de Eve, é um caso sério: é
bagunceira, nunca se sacia e não resiste a uma jugular atraente. A ponto de matar seu fornecedor. Uma coisa é morder e vampirizar a presa,
outra, é matá-la. Tudo tem limite.
Quanto aos zumbis, os mortos-vivos que convivem com
os vampiros, eles podem estar em qualquer lugar, seja na indústria do cinema,
em Los Angeles, seja na indústria fonográfica, e atrapalhar muitas coisas. Mas também podem ser muito úteis em diversas
situações, como a relação entre Adam e Ian (Anton Yelchin), que aparece no
filme, demonstra.
Essas são questões que surgem no filme “Amores
Eternos”. Eu pincei algumas das que me
pareceram mais atraentes. Elas perpassam
a história de amor, dando-lhe um sabor especial (epa!). Não significa que façam do filme uma
comédia. “Amantes Eternos” tem muito
humor, mas se desenvolve num registro sério e romântico, até com baixo
astral. Adam, por exemplo, é um vampiro
sofisticado, que compõe e adora música e instrumentos musicais maravilhosos e
especiais, mas é um ser desanimado com a vida, depressivo. Coisas que acontecem com o passar de tanto tempo. Só mesmo o reencontro com Eve poderá
mudá-lo. Então, não espere agilidade,
rapidez, correria. Afinal, os vampiros
têm todo o tempo do mundo, quando o sangue está à disposição e devidamente
armazenado. Essa estabilidade será
rompida e aí as coisas se complicam. Nem
por isso o filme se acelera, mas o suspense cresce.
Se você gostou do que apresentei neste meu relato,
não vai deixar de ver esse filme, claro.
Se você acha tudo isso irrelevante, tente uma outra estreia
cinematográfica. Simples assim.
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