Antonio
Carlos Egypto
O QUE OS HOMENS FALAM (Una Pistola En Cada Mano).
Espanha, 2012. Direção: Cesc Gay.
Com Ricardo Darín, Javier Cámara, Eduard Fernández, Alberto San Juan, Candela
Peña. 95 min.
O filme “O Que os Homens Falam” trata da crise da
identidade masculina nos tempos atuais.
Tempos de dúvidas, inseguranças, insucessos e perdas para os
homens. O que os distancia do papel
heróico do provedor, machão, corajoso, que não teme, nem chora. Isso sempre foi uma bobagem, mas cultivada
também pelo cinema, como lembra o próprio filme, ao citar a figura de John
Wayne.
Aqui, não. O
filme começa com um homem na faixa dos 40 anos, que chora ao fundo do elevador
e, por acaso, se depara com um amigo de tempos passados. Se a fragilidade de um, ainda que
financeiramente bem sucedido, precisa do apoio de um psicoterapeuta, ao outro
faltam emprego, dinheiro, mulher e filhos.
E esse segue sendo o espírito do filme, que não reluta em tratar de
temas, como o ser enganado pelas mulheres, se dar mal com elas, o peso dos
divórcios, as oportunidades perdidas, a agressão doméstica dirigida a elas,
todas as inseguranças afetivas e até a disfunção erétil.
Contando assim, “O Que os Homens Falam” parece um
tratado psicólogico, mas não é nada disso.
O filme é profundo, sim, porque vasculha a vulnerabilidade masculina dos
dias de hoje, mas o faz com muito humor e leveza. Basta dizer que o gênero do filme é a
comédia. Evidentemente, não se trata de
nenhuma comédia maluca, destrambelhada, incontrolável. É tudo muito sutil e muito bem construído,
com talento e simplicidade.
O diretor catalão Cesc Gay, do também ótimo
“Krámpack”, de 2000, é um craque em climas de relacionamento. Sabe como introduzir uma estranheza, uma
surpresa, um desapontamento. Trabalha
com o inesperado e as reações que daí decorrem, em cenas marcantes, algumas bem
engraçadas, outras que podem comover, mas que, de qualquer modo, nos levam a
refletir sobre o que se está vendo. Para
isso, conta com um roteiro, do qual é coautor com Tomás Aragay, muito bem
escrito e com um grande trunfo: os diálogos.
Não há nada melhor no filme do que os diálogos inteligentes e afiados,
que sustentam todas as situações e personagens muitíssimo bem.
“O Que os Homens Falam” é um filme com diversas
histórias independentes, autônomas.
Poderia sofrer com isso, porque sempre uma situação é mais interessante
do que a outra, ou o desempenho dos atores, num episódio, é mais convincente do
que em outro. Mas o fio condutor comum
da crise da masculinidade une tudo e valoriza cada uma das histórias
mostradas. Aliás, todas muito boas. O diretor até reuniu a maior parte dos
personagens numa festa ao final, mas absolutamente não precisava disso para dar
sentido ao seu filme.
De todo modo, a narrativa não seria tão convincente
se não pudesse contar com um elenco de peso.
E aí não há dúvida, o talento dos atores e atrizes faz com que o filme
tenha um brilho especial. O argentino
Ricardo Darín é destaque num elenco espanhol que tem Javier Cámara, Luís Tosar,
Eduardo Noriega, Alberto San Juan, Leonardo Sbaraglia, Eduard Fernández, Jordi
Mollá, além do time feminino, que tem as ótimas Candela Peña, Leonor Watling e
Clara Segura. Não se pode pedir
mais. É vida inteligente no cinema contemporâneo. Sem firulas, efeitos mirabolantes ou grande
orçamento. Desta vez, proveniente da
Espanha.
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