sábado, 24 de maio de 2014

O QUE OS HOMENS FALAM

Antonio Carlos Egypto




O QUE OS HOMENS FALAM (Una Pistola En Cada Mano).  Espanha, 2012.  Direção: Cesc Gay. Com Ricardo Darín, Javier Cámara, Eduard Fernández, Alberto San Juan, Candela Peña.  95 min.



O filme “O Que os Homens Falam” trata da crise da identidade masculina nos tempos atuais.  Tempos de dúvidas, inseguranças, insucessos e perdas para os homens.  O que os distancia do papel heróico do provedor, machão, corajoso, que não teme, nem chora.  Isso sempre foi uma bobagem, mas cultivada também pelo cinema, como lembra o próprio filme, ao citar a figura de John Wayne.

Aqui, não.  O filme começa com um homem na faixa dos 40 anos, que chora ao fundo do elevador e, por acaso, se depara com um amigo de tempos passados.  Se a fragilidade de um, ainda que financeiramente bem sucedido, precisa do apoio de um psicoterapeuta, ao outro faltam emprego, dinheiro, mulher e filhos.  E esse segue sendo o espírito do filme, que não reluta em tratar de temas, como o ser enganado pelas mulheres, se dar mal com elas, o peso dos divórcios, as oportunidades perdidas, a agressão doméstica dirigida a elas, todas as inseguranças afetivas e até a disfunção erétil.




Contando assim, “O Que os Homens Falam” parece um tratado psicólogico, mas não é nada disso.  O filme é profundo, sim, porque vasculha a vulnerabilidade masculina dos dias de hoje, mas o faz com muito humor e leveza.  Basta dizer que o gênero do filme é a comédia.  Evidentemente, não se trata de nenhuma comédia maluca, destrambelhada, incontrolável.  É tudo muito sutil e muito bem construído, com talento e simplicidade.

O diretor catalão Cesc Gay, do também ótimo “Krámpack”, de 2000, é um craque em climas de relacionamento.  Sabe como introduzir uma estranheza, uma surpresa, um desapontamento.  Trabalha com o inesperado e as reações que daí decorrem, em cenas marcantes, algumas bem engraçadas, outras que podem comover, mas que, de qualquer modo, nos levam a refletir sobre o que se está vendo.  Para isso, conta com um roteiro, do qual é coautor com Tomás Aragay, muito bem escrito e com um grande trunfo: os diálogos.  Não há nada melhor no filme do que os diálogos inteligentes e afiados, que sustentam todas as situações e personagens muitíssimo bem.




“O Que os Homens Falam” é um filme com diversas histórias independentes, autônomas.  Poderia sofrer com isso, porque sempre uma situação é mais interessante do que a outra, ou o desempenho dos atores, num episódio, é mais convincente do que em outro.  Mas o fio condutor comum da crise da masculinidade une tudo e valoriza cada uma das histórias mostradas.  Aliás, todas muito boas.  O diretor até reuniu a maior parte dos personagens numa festa ao final, mas absolutamente não precisava disso para dar sentido ao seu filme.




De todo modo, a narrativa não seria tão convincente se não pudesse contar com um elenco de peso.  E aí não há dúvida, o talento dos atores e atrizes faz com que o filme tenha um brilho especial.  O argentino Ricardo Darín é destaque num elenco espanhol que tem Javier Cámara, Luís Tosar, Eduardo Noriega, Alberto San Juan, Leonardo Sbaraglia, Eduard Fernández, Jordi Mollá, além do time feminino, que tem as ótimas Candela Peña, Leonor Watling e Clara Segura.  Não se pode pedir mais.  É vida inteligente no cinema contemporâneo.  Sem firulas, efeitos mirabolantes ou grande orçamento.  Desta vez, proveniente da Espanha.



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