quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO

                          
                  
Antonio Carlos Egypto





12 ANOS DE ESCRAVIDÃO (12 Years A Slave).  Estados Unidos, Reino Unido, 2013.  Direção: Steve McQueen.  Com Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Brad Pitt, Benedict Cumberbatch, Lupita Nyong’o.  133 min.


A escravidão enquanto regime econômico pressupunha o domínio e posse de seres humanos por outros, como meio de produção.  A compra e venda de escravos, um negócio.  Aos escravos, nenhum direito, tratamento cruel e degradante, nenhuma voz.  Uma mancha indelével na história da humanidade, desde a Antiguidade e que chegou à Idade Moderna marcada pelo tráfico e escravidão dos negros da África, o que persistiu até o final do século XIX em grande parte do mundo.  Se é que podemos dizer que hoje, em pleno século XXI, ela tenha sido definitivamente abolida em todos os cantos.  Denúncias de trabalho escravo vivem sendo feitas sem cessar.



Suas consequências, de qualquer modo, estão aí evidenciadas nas manifestações racistas, principalmente, contra os negros.  Preconceito e discriminação de vários matizes, inclusive os econômicos, desafiam nossa pretendida evolução civilizatória. Muito apropriado que um ainda jovem e excelente cineasta negro, Steve McQueen, que já nos deu uma obra de peso como “Shame”, de 2011, tenha se ocupado com o máximo de realismo da brutalidade da escravidão.

O filme “12 Anos de Escravidão” conta a história verdadeira de Salomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem negro livre do Estado de Nova York, nos Estados Unidos de antes da Guerra Civil Americana (1861-1865), que é sequestrado e vendido como escravo para o sul escravocrata e assim permanece pelos 12 anos do título do filme.  Northup tinha estudo e uma habilidade: tocava violino.  Foi ele mesmo que escreveu a história de sua vida como escravo, após ser resgatado na Louisiana, em 1853.  O texto foi publicado em 1859, às vésperas da Guerra Civil.  E, a julgar pelo filme, deve estar cheio de detalhes das agruras, maus tratos e violência sofridos por esse homem.  Uma denúncia, um grito de revolta.



O relato da história de Salomon Northup é cru, vai direto ao ponto, não doura a pílula.  A crueldade que daí emana só faz se acentuar pelo desempenho minimalista espetacular do ator protagonista, Chiwetel Ejiofor, vencedor do BAFTA, do Globo de Ouro e indicado ao Oscar por esse desempenho.  Destaque também para a atuação de Michael Fassbender, como o perverso dono de escravos, e Brad Pitt, como o abolicionista canadense que abre caminho para a libertação de Northup.

Steve McQueen optou por uma forma de realismo que, ao simplesmente mostrar de forma clara, com detalhes, e se permitindo o tempo necessário para que se possa sentir o que se passa, berra a plenos pulmões.  Sem nunca exagerar na mise-en-scène, mas sempre privilegiando o desenrolar dos acontecimentos e os sentimentos do seu protagonista.  Me faz lembrar de “O Grito”, o quadro famoso de Edvard Munch, de 1893, que, apenas visto, nos revela um grito ensurdecedor (aqui, pelo expressionismo).



Não sei se podemos dizer que haja algo de novo na narrativa de Northup, algo de que não tínhamos notícia que tivesse acontecido.  Infelizmente, essa história é conhecida.  Mas vivenciá-la por meio de um cinema bem construído é tocante e capaz de mexer com qualquer um.

“12 Anos de Escravidão” foi escolhido como melhor filme, na categoria drama, no Globo de Ouro.  Ganhou o BAFTA de melhor filme britânico (é uma coprodução com os Estados Unidos) e tem tudo para levar vários Oscar, está indicado em 9 categorias.


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