terça-feira, 7 de janeiro de 2014

CONFISSÕES DE ADOLESCENTE

                         
Antonio Carlos Egypto



CONFISSÕES DE ADOLESCENTE.  Brasil, 2013.  Direção: Daniel Filho e Cris D’Amato.  Com Sophia Abrahão, Malu Rodrigues, Bella Camero, Clara Tiezzi, Cássio Gabus Mendes.  96 min.


Já houve tempo em que as adolescentes faziam seus diários, falando dos seus sentimentos e intimidades a si próprias e, eventualmente, a quem tivesse acesso ao seu caderno secreto.  Dos diários de Maria Mariana resultaram uma peça de teatro, reencenada em várias oportunidades, um livro e uma série de TV de sucesso, veiculada pela TV Cultura em várias temporadas e reexibida em outras redes de TV: “Confissões de Adolescente”.  Há mais de vinte anos está em evidência a experiência de uma jovem, suas três irmãs e seu pai, contando o universo adolescente com sinceridade e amplitude.

Agora é a vez de o cinema abordar essa história toda, num longa, com um óbvio desafio.  Os adolescentes mudaram muito, não tanto no que representa seu universo constitutivo, mas principalmente nas formas de expressão.  Os diários deram lugar às redes sociais, onde tudo que se posta, textos e fotos, se torna público e passível de interação, crítica e manipulação.  De modo que essas confissões envolvem hoje a divulgação consciente de uma imagem que se quer projetar.  Há sinceridade nisso?



Adolescentes, muitas vezes avaliando mal as consequências e buscando vender boa imagem na rede, acabam sendo, por ingenuidade, vítimas de violências nada virtuais.  Em todo caso, essa é a forma que têm hoje os diários.  E foi o modo como o filme se estruturou.

Tudo que envolve o mundo adolescente de classe média está presente por meio das personagens femininas, que são quatro irmãs que variam entre 13 e 19 anos.  Isso permite cobrir desde o primeiro beijo de língua às questões de estudo e emprego da época da faculdade.  O painel que é mostrado em “Confissões de Adolescente” é bem amplo e toca em todos os pontos sensíveis dessa faixa de idade.  Estão lá, por exemplo, as frustrações da primeira transa, a gravidez inesperada, a questão do aborto, o relacionamento com os meninos, o convívio familiar, inclusive dificuldades para manter o padrão de vida.  Nada é aprofundado, mas tudo é mostrado.  Os adolescentes, os garotos inclusive, vão se identificar com as situações encenadas na ficção, vão se divertir e poderão parar para pensar em algumas coisas.  O filme consegue ser atual, sem dar resposta ou moralizar nada.  O que, sem dúvida, é um mérito de um produto dirigido aos adolescentes.  É uma película dinâmica e inteligente.



O elenco jovem se sai muito bem, na tarefa de representar a garotada do século XXI com base em material original do século XX, em que pese o número excessivo de personagens.  Maria Mariana, a autora do texto, faz participação especial, assim como Deborah Secco, Daniele Valente e Georgina Góes, que viveram na adolescência a série de TV.  Cássio Gabus Mendes está ótimo como o pai das meninas.  A direção é do mesmo Daniel Filho que respondeu pela série e foi grande entusiasta da ideia, desde a primeira encenação teatral.  Cris D’Amato divide com ele a direção do longa.

O resultado é um filme atraente para os jovens, especialmente os de classe média ou alta.  O universo da adolescência em estratos menos favorecidos, que tem questões mais graves e vitais, não está lá.  Nada contra, contanto que não tomemos o universo classe média como representativo da adolescência como um todo.  É sempre bom lembrar que não há uma adolescência, mas várias.  Que terão muitas coisas em comum, mas necessidades e prioridades diferentes.


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