Antonio
Carlos Egypto
PREENCHENDO O VAZIO (Lemale et há halal). Israel, 2012.
Direção: Rama
Burshtein. Com Hadas Yaron, Yiftach
Klein, Irit Sheleg. 87 min.
Casamentos arranjados fazem parte da história da
humanidade praticamente desde os seus primeiros tempos e, em alguns lugares,
permanecem existindo e definindo expectativas e padrões de conduta.
“Preenchendo o Vazio”, o filme israelense que ganhou
o troféu Bandeira Paulista da 36ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
e prêmio de atriz em Veneza 2012, para Hadas Yaron, focaliza a realidade de
famílias hassídicas ortodoxas de Tel Aviv, em que o casamento arranjado está em
pleno vigor. E recebe a orientação e o
aval dos rabinos. Mas há algum espaço
para expectativas de que se possa construir um arranjo a partir de um desejo ou
de uma fantasia amorosa. A constatação
de um enamoramento pode vir a ser chancelada pela família, ou pelo rabino,
desde que não contrarie os interesses ou os princípios estabelecidos. Ou até pode vir a calhar. Mas, se não for assim, os sonhos terão de se
desfazer.
É nesse contexto cultural, étnico e religioso, que
vai se situar o conflito da protagonista Shira, de 18 anos de idade, que
pretende se casar com alguém da sua idade e procura conhecer possíveis ou prováveis
pretendentes. Já tem alguém em vista e
um casamento em perspectiva. Ocorre que
sua irmã mais velha, Esther, de 28 anos, morre ao dar à luz o primeiro
filho. Isso irá afetar de modo decisivo
as pretensões de Shira.
Yochai, o marido de Esther, com um bebê para cuidar e
educar, busca um segundo casamento arranjado, que o levaria a deixar Israel e
partir para a Bélgica. Mas, se Shira
pudesse ocupar o lugar da irmã mais velha, isso talvez fosse mais conveniente
para todos. Será também para Shira? Afinal, ela precisaria aceitar tal arranjo.
É a partir dessa decisão, e do drama que aí se
coloca, que o filme desenvolve uma trama eficiente, que, apesar de todas as
conotações judaicas envolvidas, aborda um conflito amoroso que poderia estar em
qualquer lugar. Ressalvadas as
características específicas de cada povo ou situação histórica, o conflito
entre o desejo e a obrigação, e também a possibilidade de união desses dois
polos, é uma dimensão muito presente nos dramas amorosos. É o que alimenta o
interesse pela história e seu desenlace.
A diretora Rama Burshtein, já em seu primeiro
longa-metragem, mostra sensibilidade na abordagem cuidadosa e respeitosa do
tema. Ressalta as ansiedades e angústias
femininas num mundo onde elas não têm poder suficiente para decidir suas
vidas. Mas também ressalta o sofrimento
masculino diante da perda, do desamparo e da possível rejeição feminina. Faz uma boa construção de personagens
envolvidos por uma boa história.
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