sexta-feira, 4 de outubro de 2013

PREENCHENDO O VAZIO

                         

Antonio Carlos Egypto



PREENCHENDO O VAZIO (Lemale et há halal).  Israel, 2012.  Direção: Rama Burshtein.  Com Hadas Yaron, Yiftach Klein, Irit Sheleg.  87 min.



Casamentos arranjados fazem parte da história da humanidade praticamente desde os seus primeiros tempos e, em alguns lugares, permanecem existindo e definindo expectativas e padrões de conduta.

“Preenchendo o Vazio”, o filme israelense que ganhou o troféu Bandeira Paulista da 36ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e prêmio de atriz em Veneza 2012, para Hadas Yaron, focaliza a realidade de famílias hassídicas ortodoxas de Tel Aviv, em que o casamento arranjado está em pleno vigor.  E recebe a orientação e o aval dos rabinos.  Mas há algum espaço para expectativas de que se possa construir um arranjo a partir de um desejo ou de uma fantasia amorosa.  A constatação de um enamoramento pode vir a ser chancelada pela família, ou pelo rabino, desde que não contrarie os interesses ou os princípios estabelecidos.  Ou até pode vir a calhar.  Mas, se não for assim, os sonhos terão de se desfazer.



É nesse contexto cultural, étnico e religioso, que vai se situar o conflito da protagonista Shira, de 18 anos de idade, que pretende se casar com alguém da sua idade e procura conhecer possíveis ou prováveis pretendentes.  Já tem alguém em vista e um casamento em perspectiva.  Ocorre que sua irmã mais velha, Esther, de 28 anos, morre ao dar à luz o primeiro filho.  Isso irá afetar de modo decisivo as pretensões de Shira.

Yochai, o marido de Esther, com um bebê para cuidar e educar, busca um segundo casamento arranjado, que o levaria a deixar Israel e partir para a Bélgica.  Mas, se Shira pudesse ocupar o lugar da irmã mais velha, isso talvez fosse mais conveniente para todos.  Será também para Shira?  Afinal, ela precisaria aceitar tal arranjo.



É a partir dessa decisão, e do drama que aí se coloca, que o filme desenvolve uma trama eficiente, que, apesar de todas as conotações judaicas envolvidas, aborda um conflito amoroso que poderia estar em qualquer lugar.  Ressalvadas as características específicas de cada povo ou situação histórica, o conflito entre o desejo e a obrigação, e também a possibilidade de união desses dois polos, é uma dimensão muito presente nos dramas amorosos. É o que alimenta o interesse pela história e seu desenlace.

A diretora Rama Burshtein, já em seu primeiro longa-metragem, mostra sensibilidade na abordagem cuidadosa e respeitosa do tema.  Ressalta as ansiedades e angústias femininas num mundo onde elas não têm poder suficiente para decidir suas vidas.  Mas também ressalta o sofrimento masculino diante da perda, do desamparo e da possível rejeição feminina.  Faz uma boa construção de personagens envolvidos por uma boa história.


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