Antonio Carlos Egypto
OS BELOS DIAS (Les
Beaux Jours). França, 2013. Direção: Marion Vernoux. Com Fanny Ardant, Laurent Laffite, Patrick Chesnais, Jean-François
Stévenin, Catherine Lachens. 94
min.
A sempre bela, e talentosa, Fanny Ardant, no papel de
Caroline, é a protagonista de “Os Belos Dias”, mais um filme que se debruça
sobre questões da chamada Terceira Idade, em tempos de envelhecimento
populacional mundial.
Caroline chega aos 60 anos e decide se aposentar, sem
saber muito bem o que fazer com o tempo que agora é o que ela mais tem. Claro, é o momento de repensar a vida, os
caminhos existenciais. Ocorre que a
todos parece incomodar esse tal tempo livre dos idosos. Numa sociedade que vive correndo contra o
tempo, parece uma provocação. Como o
marido, vivido pelo ótimo ator Patrick Chesnais, continua ativo em seu
trabalho, parece haver aí um problema.
“O que minha mãe vai fazer da vida?”, devem ter
pensado suas duas filhas, na faixa dos 30 anos de idade. Então, nada melhor do que oferecer a ela,
como presente, a inscrição num clube dirigido à Terceira Idade. Lá, onde ela poderá frequentar com alegria,
desde aulas de informática ou cerâmica, a bailes com música de sua época. Parece perfeito! E o nome do clube revela essa pretensão de
oferecer o melhor, o mais perfeito: Os
Belos Dias.
Só que ninguém perguntou a Caroline se era isso que
ela queria ou que poderia fazê-la feliz.
Ela frequenta o tal clube sem o menor entusiasmo, sentindo-se um peixe
fora d’água e sem paciência para o clima do ambiente. Até que o professor de informática, um jovem
com cerca de 30 anos, como suas filhas, Julian (Laurent Laffite) demonstra
interesse por ela e lhe passa uma cantada,
como ela diz. Quem sabe daí belos dias,
de fato, poderão surgir. Mas também
novos conflitos e problemas. Desafios
importantes e verdadeiros, que irão preencher essa nova fase da vida da
personagem.
O filme, dirigido por Marion Vernoux, capta muito bem
os dilemas de Caroline e ressalta o que está em jogo nos sentimentos,
inseguranças e ambiguidades da personagem.
Sem se esquecer de mostrar o dinamismo e a alegria da descoberta.
Uma mulher, aos 60 anos de idade, hoje em dia, pode
estar em sua plenitude, até mesmo amorosa, e talvez não caiba nos estereótipos
com que se procura encaixar o envelhecimento.
Tudo se passa como se todos os idosos fossem semelhantes ou estivessem
bem representados com as bengalas que invariavelmente os acompanham, nos ícones
visuais dos espaços destinados a eles.
Mas certamente não é assim. A
vida é muito mais complexa e variada do que se pode ver nas representações
estereotipadas que, no entanto, costumam servir para alimentar cenas
cômicas. Pode até ser engraçado, mas é
superficial e falseia a realidade. “Os
Belos Dias” questiona esses estereótipos e o faz num filme elegante, conduzido
por um ótimo elenco.
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