quinta-feira, 19 de setembro de 2013

FOXFIRE – CONFISSÕES DE UMA GANGUE DE GAROTAS

                          

Antonio Carlos Egypto



FOXFIRE – CONFISSÕES DE UMA GANGUE DE GAROTAS (Foxfire – Confession d’un gang de filles).  França, 2012.  Direção: Laurent Cantet.  Com Katie Coseni, Raven Adamson, Briony Glassco, Ali Liebert, Madeleine Bisson, Claire Mazerolle.  143 min.


Que as meninas – e as mulheres – sofrem nas mãos dos homens ninguém tem dúvida.  Assédio, estupro, desrespeito, humilhação.  As mulheres, com bastante frequência, são tratadas como objetos.  Desejadas e, ao mesmo tempo, desrespeitadas.

O machismo gera raiva e pede reação.  Uma reação que pode vir de meninas bem jovens, na faixa dos 15 anos de idade.  E, à medida que surte efeito, não só reforça o comportamento como evidencia a necessidade de umas ajudarem as outras a se vingarem dos homens que as desrespeitam.



Foi assim que nasceu Foxfire, a gangue de garotas concebida por Joyce Carol Oates, no livro que se tornou um best-seller e recebe agora sua segunda adaptação cinematográfica.  Desta vez, a cargo de Laurent Cantet, o diretor do brilhante e premiado “Entre os Muros da Escola”, de 2008.

A trama é contada por uma das meninas da gangue, Maddy (Katie Coseni), que vai relatando sua experiência com as garotas até se afastar do grupo e saber dele tempos depois. Quem comanda a gangue com determinação e um componente alucinado e autodestrutivo é Margareth (Raven Adamson).  Da vingança, ela parte (e leva o grupo) para uma vida comunitária independente, na Nova York  dos anos 1950, romanticamente inspirada nos relatos do avô socialista, que discute o lugar de Deus na vida das pessoas, e que lembra com nostalgia os ideais e lutas que o moveram no começo do século XX.



Essa referência ideológica, que leva até à ideia de que Margareth possa ter se integrado ao grupo revolucionário liderado por Fidel Castro em Sierra Maestra e participado da conquista do poder em Cuba, no final da década retratada, é o que de menos consistente tem a história.

Tudo o que a gangue de garotas vive é uma experiência, primeiro, de aprender a lidar com homens e colocá-los em seu devido lugar, ainda que para isso se valham da ilegalidade e também da violência.  Pagando na mesma moeda.  Uma forma de feminismo imaturo e radical, sem possibilidades de maior elaboração ou reflexão.  Depois, para viver livre de amarras familiares e convenções sociais, elas lembram os hippies avant la lettre.  Roubar para poder sobreviver não é bem um ideal socialista, ou anarquista.  Pode ser, no máximo, uma tática de luta em um contexto bem específico.  Por aí, a questão fica mal colocada e soa forçada.  Já o cotidiano da experiência da gangue de meninas adolescentes é rico e revelador.



As jovens atrizes que compõem a gangue estão ótimas, mostrando o talento do diretor para lidar com estreantes e não atores.  Como seu deu, também, em “Entre os Muros da Escola”.

“Foxfire – Confissões de uma Gangue de Garotas” merece atenção e mostra um outro lado e uma outra época, embora ainda recente, em relação a “Bling Ring”, de Sofia Coppola, há pouco exibido, e que traz o consumismo e as celebridades como referências de um comportamento feminino também transgressor como este.  Meninas formando gangues, agindo fora da lei, estarão na moda? 




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