sábado, 31 de agosto de 2013

LAS ACACIAS

        

Antonio Carlos Egypto



LAS ACACIAS (Las Acacias). Argentina, 2010.  Direção e roteiro: Pablo Giorgelli.  Com German de Silva, Hebe Duarte, Nayra Calle Mamani.  85 min.



Rubén (German de Silva) é um caminhoneiro solitário, de modos simples e rudes, acostumado há anos a percorrer a estrada entre Assunção, no Paraguai, e Buenos Aires, a capital argentina, transportando madeira.  Esse acontecer repetitivo e seco de sua vida pode nem ser confortável, mas  é conhecido.

O que poderá ocorrer se, numa dessas viagens, aparecer uma mulher, Jacinta (Hebe Duarte), com uma criança de colo, a pequena Anahí, um bebê de 8 meses, para compartilhar desse trajeto?  Distância, incômodo, defesa, medo,  dificuldade de se expressar, tensão.  Mas a estrada é longa e essa relação acabará não só por nos revelar, pouco a pouco, quem são Rubén e Jacinta, mas também o que pode surgir entre eles.  Nada de bombástico ou grande revelação, apenas a humanidade que fatalmente terá de se expressar.



Trata-se de um road movie, enquanto gênero cinematográfico, embora a câmera se poste dentro da cabine do caminhão a maior parte do tempo.  É que o que muda está nos detalhes, nas sutilezas do comportamento de cada um, o bebê incluído.  O que importa não é o que está fora, mas o que está dentro, não é a ação, é mais a reação.

Um filme que, a rigor, não só não se centra na ação, como em que aparentemente nada acontece.  E, no entanto, como qualquer um que assistir ao filme poderá perceber, muita coisa acontece na vida dos personagens, durante essa viagem.  Compartilhamos o que se passa com eles e nos tornamos cúmplices dessa viagem humanizadora, a partir da perspectiva do caminhoneiro Rubén.  Um filme para lá de simples, que tenta entender a complexidade das pessoas simples.



Se você encarar com eles esse trajeto, não poderá se esquecer deles tão cedo.  São figuras marcantes, pelo silêncio, pelo não dito, pelo reprimido, pela solidão, pela carência, mas também pela possibilidade de transformação que está latente.  É um cinema de sutilezas, muito bom de se ver.

Pablo Giorgelli, o diretor, nascido em 1967, realiza aqui o seu primeiro longa-metragem e surpreende pelo talento que demonstra para criar climas e pelo minimalismo do trabalho que executa.  “Las Acacias” venceu o prêmio Câmera de Ouro no Festival de Cannes 2011 e foi apresentado na 35ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no mesmo ano.  Agora, dois anos depois, chega às salas de cinema.


 O desempenho dos dois atores que protagonizam a viagem é um trunfo do filme.  Sem essas representações compostas de pequenos gestos, falas, detalhes, não seria possível viver essa rica experiência de compartilhamento que nos une a personalidades aparentemente tão distantes e, no entanto, tão próximas.  Nada precisa ser explicado, tudo pode ser sentido.  Isso vale até para o contexto social que envolve os personagens.  Ele simplesmente está lá, faz parte da vida que levam.  E é só.  Ou melhor, é muito.


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