terça-feira, 28 de maio de 2013

FAROESTE CABOCLO

                          
 Antonio Carlos Egypto




FAROESTE CABOCLO.  Brasil, 2012. Direção: René Sampaio.  Roteiro: Marcos Bernstein e Víctor Atherino, com base em música de Renato Russo.  Com Fabrício Boliveira, Ísis Valverde, Felipe Abib, Marcos Paulo, Antônio Caloni, César Trancoso.  105 min.


“Faroeste Caboclo”, a música de Renato Russo, foi um rock de sucesso do Legião Urbana, dos anos 1980.  Composto em 1979, tem uma narrativa que lembra o cordel, uma letra quilométrica, de 159 versos, e a duração de 9 minutos.  Conta a saga de João de Santo Cristo, desde sua infância na Bahia à sua trajetória em Brasília, seu amor por Maria Lúcia, desejada também por Jeremias, o traficante que a engravida.  Tudo acaba num duelo, como convém aos westerns.

Uma música assim, convenhamos, já é um roteiro de cinema.  Portanto, que ela tenha virado filme pode-se até dizer que demorou para acontecer.  Segundo o diretor René Sampaio não seria possível fazer um videoclipe de 100 minutos, a partir de uma música de 9.  Foi preciso criar uma narrativa dramática apropriada à linguagem cinematográfica, o que supõe a adaptação da obra musical.  Mas ele diz que procurou, ao mesmo tempo, seguir com fidelidade a história original. 




De que se compõe o faroeste: Brasília, estertores da ditadura, cidade sem lei, sem escrúpulos, onde quem tem poder manda e a polícia executa a lei dos mais fortes.  De um lado, os políticos, representados pelo senador, pai de Maria Lúcia, papel do ator Marcos Paulo, falecido em 2012, em seu último trabalho.  De outro, os traficantes em disputa.

O anti-herói da saga, João do Santo Cristo (Fabrício Boliveira) é o protagonista marceneiro/traficante/bandido/negro/discriminado.  O que dá margem a incluir, na questão da repressão política, o problema do racismo. Maria Lúcia (Ísis Valverde) é a mocinha maconheira da alta, que ama o “bandido”, mas se casa com o playboy traficante do mesmo estrato social, Jeremias (Felipe Abib).  Uma mocinha nada convencional nas atitudes.




João do Santo Cristo vai se contrapor a Jeremias, não só por Maria Lúcia, mas numa espécie de luta de classes, tendo a disputa do tráfico de drogas como referência.  O ator uruguaio César Transcoso faz o primo traficante, que abre espaço para Santo Cristo ser alguém no jogo pesado dessa Brasília.

O filme, como a música, não tem propriamente mocinhos e bandidos.  O “Faroeste Caboclo” aqui flerta mais com a questão social e política daquele período brasileiro.  Mas o gênero tradicional do western está garantido.  Tem violência, tiroteios, mortes,  perseguições, com tudo bem dosado.  Sem exageros ou espetacularização, seja nas cenas de violência, seja nas de sexo.  Um filme equilibrado e bem dirigido, com muito empenho do elenco.  Fabrício Boliveira e Ísis Valverde compuseram personagens  com nuances e ambiguidades, fugindo dos estereótipos.  E todos os demais papéis seguem na mesma linha.  Constrói-se, assim, um filme de gênero devidamente atualizado.



Depois de “Somos Tão Jovens”, que recriou  vida e obra de Renato Russo, agora é a vez de reinventar seu grande sucesso, “Faroeste Caboclo”.  É hora e vez de homenagear Renato Russo, grande talento do rock brasileiro.  Ele teve sorte: tem dois  filmes bem produzidos, lançados praticamente ao mesmo tempo, para relembrar sua música, sua figura, seu trabalho artístico.




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