Antonio Carlos Egypto
A HORA MAIS ESCURA (Zero Dark Thirty). Estados Unidos, 2012. Direção: Kathryn Bigelow. Com Chris Pratt, Jessica
Chastain, Joel Edgenton, Frank Grillo, Scott Adkins, Jennifer Elvie. 157
min.
A caçada e morte de Osama Bin
Laden, o grande inimigo público dos Estados Unidos, evidentemente acabaria
sendo registrada pelo cinema americano.
Poderia trazer, entre seus elementos, a elegia da vingança, a
justificativa do assassinato, a celebração patriótica de um objetivo
prioritário do país alcançado, a purgação da dor associada à tragédia do World
Trade Center. Qualquer que fosse o
enfoque, seria passível de críticas. O
assunto é espinhoso e polêmico.
A cineasta Kathryn Bigelow parece
ter encontrado um tom apropriado para tratar do assunto: o relato seco e direto
dos eventos que,ao longo dos anos, precederam a ação da tomada da
casa-fortaleza do terrorista até a consumação de sua captura e morte. O que se fez com o corpo, após a
identificação, fica fora do filme. Mas
os métodos de tortura, utilizados pelos norte-americanos em prisões secretas ao
redor do mundo, estão lá, mostrados repetidamente, aparentemente sem nenhum
disfarce, de modo bem realista.
A contradição é óbvia: em nome da
liberdade e da democracia, pode-se torturar e matar. O que Bin Laden representava e o terror que
produziu justifica esse vale-tudo? Todos nós sabemos que esses métodos sempre
existiram, muito antes da comoção causada pelo monstruoso episódio de 11 de
setembro de 2001. Na América Latina,
ditaduras militares sangrentas, nos anos 1960 e 1970, viscejaram com o respaldo
dos governos norte-americanos de então.
O combate ao comunismo era o que justificava tudo isso, e muito
mais. Os exemplos são inúmeros, mas
basta lembrar a guerra do Vietnã.
“A Hora Mais Escura” não entra
nessa discussão, mas também não a evita, na medida em que mostra o que se faz,
sem esconder ou idealizar as coisas.
Pode-se dizer que a protagonista Maya (Jessica Chastain), agente da CIA
que conduz a narrativa do filme, é uma heroína obstinada e que a ação dos
militares americanos foi bem planejada e corajosa. No filme a ação e o suspense
se destacam. Mas o bem e o mal não estão
caracterizados como tais. O tempo dos
mocinhos e bandidos já passou. Ou fica
restrito ao terreno da fantasia, geralmente infantojuvenil. Em casos como esses, ninguém sai limpo, ileso
e puro. E se há heroísmo, em alguns
momentos, ele é anônimo. Não tem rosto,
nem nome. Vira segredo de Estado.
Com “Guerra ao Terror”, de 2009,
Kathryn Bigelow desbancou “Avatar” e levou o Oscar, surpreendendo muita
gente. “A Hora Mais Escura” também está
na disputa do Oscar 2013.
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