quinta-feira, 22 de novembro de 2012

ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA

                        
Antonio Carlos Egypto

ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA.  Brasil, 2012.  Direção e roteiro: Marcelo Gomes.  Com Hermila Guedes, João Miguel, W. J. Solha, Renata Roberta, Inaê Veríssimo.  90 min.


Verônica (Hermila Guedes) acaba de se formar em Medicina e precisa enfrentar a realidade da prática profissional.  Num hospital público de Recife inicia sua carreira na psiquiatria.  Os questionamentos que tal experiência lhe proporcionará serão enormes.  Medicina social no Brasil implica encarar coisas muito difíceis e complexas: a carência muito forte da população, a falta de condições adequadas ao bom atendimento, a crença cega do paciente no poder do médico e, consequentemente, a desilusão diante de sua fraqueza, o desencanto e descrença dos pacientes, a necessidade de realizar um atendimento humanizado que passa pelo lidar com as emoções da médica, a desilusão dos próprios profissionais da saúde, a competitividade entre eles, e muito mais.  É um desafio enorme.



Para quem está vivendo um momento de mudança de vida, assumindo compromissos de adulta de fato, mais difícil.  Lidar com o lado afetivo e amoroso da relação com os homens, outra grande complicação para Verônica.  O sexo, sem amor ou maiores vínculos, pode ser uma saída? 

Acrescente-se a isso uma doença grave do pai, a figura mais importante da vida dela, e que exige sua maturidade nesse momento tão conturbado, e Verônica resolve se autoanalisar por meio de um diário ao gravador.  Seus sentimentos, suas incertezas diante da vida e da profissão, sua angústia existencial, são a matéria-prima de “Era Uma Vez Eu, Verônica”, novo trabalho do diretor Marcelo Gomes.



O cineasta pernambucano já nos deu dois grandes filmes: “Cinema, Aspirinas e Urubus”, de 2005, e “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo”, de 2009, esse último codirigido por Karim Ainouz.  Com “Verônica”, Marcelo Gomes reafirma sua condição de um dos mais importantes cineastas brasileiros contemporâneos.  Deixa sempre um gosto de quero mais e uma expectativa pelos próximos trabalhos.  Os prêmios obtidos no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no Amazonas Film Festival e no Festival de Cinema de San Sebastian, também comprovam isso.



Mas “Era Uma Vez Eu, Verônica” tem um trunfo especial a ser apontado: o desempenho de Hermila Guedes como protagonista.  Ela consegue passar por todos os poros, olhares, expressões, gestos, postura, o que acontece com a intrincada e angustiada Verônica.  O trabalho dela é essencial para que o filme esteja à altura das reflexões sobre a fragilidade e a fluidez da vida a que se propõe.  E também para mostrar o sofrimento da escolha, algo que de algum modo todo mundo vive, em muitas etapas da existência.  É da sua força que se move o personagem, em relação ao enfrentamento do que assusta, dá medo, mostra o despreparo.  A atuação de Hermila Guedes é espetacular.

“Era Uma Vez Eu, Verônica” focaliza uma vida humana em sua complexidade.  Não se preocupa em ter de contar uma história.  Não precisa, mesmo.  A humanidade do filme salta aos olhos.



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