segunda-feira, 10 de setembro de 2012

INTOCÁVEIS

Antonio Carlos Egypto

INTOCÁVEIS (Intouchables).  França, 2011.  Direção: Eric Toledano e Oliver Nakache.  Com François Clouzet, Omar Sy, Anne Le Ny, Audrey Fleurot.  112 min.
“Intocáveis”, novo sucesso de público do cinema francês, é uma comédia leve sobre um tema complicado: a vida de um tetraplégico que, embora riquíssimo, depende de outros para tudo.  O filme nos informa que ele é baseado em fatos de uma história real.  E que história é essa?  A do relacionamento entre Philippe (François Clouzet) e Driss (Omar Sy), seu cuidador.
Philippe é um homem culto, que foi aventureiro, mas em função do acidente que o deixou tetraplético, tem uma vida limitada por uma rotina de luxos, mas tediosa.  Apreciador de artes plásticas, clássicas ou contemporâneas, e música erudita, é um aristocrata inteligente e, apesar de tudo, bem humorado, em grande parte do tempo.
Driss é um homem forte, pobre e de parca educação, que vive do seguro-desemprego.  Tem uma família enorme, que se acotovela num cortiço.  Curte música pop, dança muito bem.  Pequenas malandragens ou um eventual furto o ajudam a sobreviver.  Além dos cigarrinhos de maconha que, certamente, contribuem para que ele se mantenha sempre alegre, apesar das poucas perspectivas que sua vida tem lhe oferecido.

Que Driss, sem qualquer preparo para isso, acabe sendo o escolhido por Philippe para contratá-lo como seu cuidador é uma surpresa.  Que isso possa dar certo, uma improbabilidade.  É do encontro entre esses dois mundos distintos que trata o filme.  Os inevitáveis confrontos e conflitos acabam sendo explorados em situações divertidas.  O que poderá uni-los será exposto também de forma cômica, mas com muita ternura.  Esse amálgama é o que faz o filme atraente para um público amplo.  Saber tratar com humor as diferenças, assim como as dores e tristezas, mantendo a sutileza, é um mérito a ser destacado.
A história não tem nada de original, inclui até alguns clichês, mas tem um ângulo de abordagem que me parece particularmente valioso.  Uma pessoa com deficiência certamente não deve gostar de ser tratada com comiseração, condescendência ou bajulação.  Nem pode se relacionar genuinamente com alguém que não a considere e trate em igualdade de condições, embora sem negar as limitações que ela possui.  Uma amizade só pode nascer da espontaneidade no tratamento, no respeito às diferenças e na descoberta mútua do outro, na vivência da alteridade.  É isso o mais interessante do filme, além do duo de atores protagonistas, que é especialmente talentoso.

François Clouzet no papel de Philippe conta apenas com o rosto, para desenvolver o seu trabalho.  E faz uma atuação brilhante, cheia de nuances, que vale o filme.  Omar Sy é também um grande ator, vibrante, elétrico, simpático.  Dá um brilho especial ao seu papel.  Vê-lo em cena é empolgante.  Com atores como esses, o filme ganha um charme todo especial, que cativa o espectador e faz com que nem se note sua narrativa um tanto convencional e previsível.

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