Antonio Carlos Egypto
BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR (Snow White and the Huntsman). Estados Unidos, 2011. Direção: Rupert Sanders. Com Charlize Theron, Christen Stewart, Chris Hemsworth, Bob Hoskins, Ray Winstone. 127 min.
A princesa Branca de Neve veste uma armadura e comanda um pequeno exército que vai atacar o castelo medieval fortificado, onde vive a rainha madrasta e má. Ela tem poderes sobrenaturais, é capaz de parar monstros, gigantes e horrendos, com sua força interior e seu jeito delicado. Esteve à beira da morte, tida mesmo como morta, mas um beijo salvador veio do caçador, que tinha a missão de capturá-la para a rainha má, que pretendia devorar o coração da moça, mas acabou se apaixonando por ela.
A rainha má tem um espelho que amolece e se transfigura numa forma humana dourada, que fala. A rainha é capaz de se transformar magicamente, não só numa nuvem de corvos como no irmão de Branca de Neve. Cria um exército artificial que se estilhaça em milhares de partículas negras, semelhantes aos corvos. É uma história que envolve muita violência, inúmeras brigas e combates, em que todos os personagens revelam muita coragem na ação, inclusive os anões.
Não está reconhecendo a história da Branca de Neve? Não é assim que ela passou pela sua infância? Desse jeito está se parecendo com outros blockbusters que andam por aí, esbanjando porrada para todo lado e fazendo tudo virar guerra?
Pois é isso mesmo. “Branca de Neve e o Caçador” não tem nada a ver com aquela história divertida de candura e solidariedade, em que os anõezinhos se encantavam com a Branca de Neve e encantavam a garotada, com direito a lindas canções de João de Barro, o Braguinha. “Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou...”. Esquece.
O que interessa agora são os efeitos especiais, muita ação, muita fantasia e magia, porém, explícitas, sem qualquer sutileza. Grande espetáculo, porém, vazio de ideias e humanidade.
Do ambiente onde vivem os anões transborda tamanha beleza, com o colorido das plantas e flores, cercado de animais maravilhosos e árvores de borboletas, que aí fica demais, soa falso, evidentemente. Mas para chegar a ele quanta sujeira, lama, insetos e monstros em ambiente cinzento e lúgubre temos de aguentar. A floresta negra é um horror. A maldade da rainha não está só no seu coração, mas na sua capacidade concreta de matar pessoas e dominar pela magia, submetendo todos a seus desejos. O espelho, coitado, é só um coadjuvante. A relação da madrasta com ele e a necessidade de evitar o envelhecimento e a feiura que determinariam sua perda de poder parecem uma combinação de “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, com filme de vampiro. É delirante. Excessivo.
O que me incomoda nesse tipo de produto hollywoodiano é que é tudo igual. A fórmula se repete sempre. Trate-se de “Gengis Khan”, “Os Três Mosqueteiros”, “Thor”, “Hulk” ou “Branca de Neve”, você já sabe o que vai encontrar. É sempre muita ação, efeitos em profusão, violência de videogame, monstros, elementos fantasiosos. E nada a dizer. Será que o público jovem, a quem é dirigido primordialmente esse tipo de filme, se satisfaz assim? Ou ainda não descobriu que cinema pode ser uma coisa muito diferente disso?
São esses os filmes que ocupam um colosso de salas de cinema a cada semana, impedindo que haja espaço adequado para o cinema de reflexão, que costuma nos elevar a um patamar artístico e humano superior. Ocorre que o marketing é avassalador, investem-se fortunas para levantar grandes bilheterias, e o público contribui, parecendo gostar de ver sempre variações sobre a mesma coisa, contadas do mesmo jeito.
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