sábado, 10 de março de 2012

MINHA FELICIDADE

Antonio Carlos Egypto



MINHA FELICIDADE (Schastye Moe).  Ucrânia, Alemanha, 2010.  Direção: Sergei Loznitsa.  Com Victor Nemets, Olga Shuvalova, Vladimir Golovin.  127 min.


“Minha Felicidade”, o primeiro longa-metragem do diretor bielorrusso Sergei Loznitsa, é um soco no estômago.  Na verdade, é um road  movie desesperançado, que já começa ironizando desde o título.  Não há felicidade alguma, só a ausência dela.  O que mais se vê aqui é sordidez.

Georgy (Victor Nemets) é um caminhoneiro que pega uma saída errada e se perde, passeia pela área rural da Rússia, conhece tipos e figuras diversos, mas todos marcados pela lógica do homem lobo do homem.  Há violência, estupro, constantes e frequentes abusos de autoridade, enganação, roubo, prostituição infantojuvenil e por aí vai.  Uma viagem que só poderia desembocar num beco sem saída.

Pessimista demais, certamente.  Mas bem mostrado por uma câmera que registra tudo a seco, sem comentar ou se emocionar com o que mostra.  E o que se vê é terrível.  A sensação é a de que, definitivamente, a humanidade não está dando certo, pelo menos na Rússia.


Se quase não sobra nenhuma humanidade nos personagens, estão todos matando para tentar sobreviver, o que se intui é que tudo isso está inserido, e justificado, por uma história de fome, guerra, opressão, que se entranhou no tecido social e se naturalizou.  Nada mais surpreende.

Terá chegado a Rússia ao fundo do poço?  Ou, de alguma forma, sempre esteve lá?  Da opressão dos Czares, passando pelas guerras e pelo comunismo stalinista de triste memória, para chegar ás máfias e à corrupção generalizada, parece que as coisas foram perdendo todo o sentido, aos poucos.  Só restou, mesmo, o desconsolo.  Pelo menos, é o que o filme de Loznitsa nos passa.

Quanto disso é verdadeiro ou não, não sei.  Embora seja inevitável reconhecer que o filme não está delirando.  Pode estar exagerando, pode ter elevado seu pessimismo ao mais alto grau, mas a realidade está lá, de uma forma ou de outra.  E só nos resta apreciar o trabalho artístico, de cunho bem realista, por sinal, e lamentar.  Não era para ser assim, obviamente.

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