Antonio Carlos Egypto
Há mais de 30 anos, e a cada ano, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo exerce um atrativo poderoso para mim. E tem sido um elemento formador do meu gosto cinematográfico.
Dos últimos anos para cá, tenho dito a mim mesmo que é hora de usufruir com moderação do banquete fílmico. Mas tal qual chocólatra diante do desejado chocolate, acabo não conseguindo e hiberno por três semanas no cinema: 3 filmes por dia, às vezes até 4, o que é demais. E desnecessário. Mas que jeito, depois que a coisa engrena é difícil parar. Até porque o banquete é farto. Nem tudo é tão bom, mas vale conferir, sobretudo as filmografias mais distantes da nossa.
É verdade que agora muita coisa chega ao circuito comercial, e alguns filmes logo após a Mostra. Mas muitos nunca chegam, ou demoram muito a chegar. É comum filmes das Mostras de 2009 e de 2010 estarem sendo lançados agora ou estarem ainda à espera de oportunidade. Sendo assim, o melhor é não perder tempo. Desculpa de cinéfilo incorrigível. Pode ser. Mas no ano que vem será diferente...
A 35ª. Mostra foi a última planejada e coordenada por Leon Cakoff, que morreu dias antes do início do evento e que, mesmo doente, deu o tom da maratona cinematográfica ,que desde o início teve a sua cara. Renata de Almeida, que trabalhou com Cakoff na produção e administração da Mostra, nos últimos 20 anos, aproximadamente, tem todas as condições de tocar o barco para frente. Mas como será a Mostra sem Leon Cakoff ainda é uma questão em aberto.
Neste ano, a 35ª. Mostra adotou a decisão de só exibir filmes estrangeiros inéditos no país (exceto as retrospectivas, é claro). Ou seja, o que foi exibido no Festival do Rio ficou de fora. Isso não valia para os filmes brasileiros. Tal decisão – polêmica – reduziu o número de filmes da Mostra de 400 para cerca de 250. Nisso não houve perda: o número ainda é grande demais e a qualidade dos filmes exibidos continuou muito boa, como sempre. Alguns filmes esperados não passaram, como “A pele que habito”, de Almodóvar, ou “Terraferma”, do Crialese, mas chegam ao circuito comercial ou a outras Mostras menores. O essencial do que a Mostra sempre fez foi preservado.
Muito mais estrago fizeram as cópias digitais de muitos filmes exibidos com problemas, como tela reduzida, alteração nas cores, travamento durante a projeção e outras coisas do gênero. Alguns poucos filmes ficaram inassistíveis pela incompatibilidade entre o formato digital apresentado e o equipamento dos cinemas, que não dispunham da atualização tecnológica necessária. Não sei avaliar o tamanho da dificuldade ou do investimento exigido, mas, já que o futuro do cinema é mesmo o digital, está aí uma questão para ser resolvida com urgência.
As tradicionais cópias de 35 mm ainda garantem uma imagem mais bela e uniforme em todas as salas de cinema. Mas não adianta ser saudosista, estão acabando. Os problemas aqui são outros. As latas de filme não chegam a tempo, param na alfândega ou, ainda, são enviadas assim: Sao Paulo, Argentina. Arre!
Dos filmes que mais gostei de ver na Mostra, alguns devem chegar aos cinemas em exibição comercial. “O garoto da bicicleta”, de que já postei crítica no cinema com recheio, entra logo. Alguns outros títulos para lembrar são:
“Era uma vez na Anatólia”, de Nuri Bilge Ceylan, da Turquia
“Caverna dos sonhos esquecidos”, do diretor alemão Werner Herzog, em 3D, Estados Unidos
“Las Acacias”, de Pablo Giorgelli, da Argentina
“Habemus Papam”, de Nanni Moretti, da Itália
“Se não nós, quem?”, de Andres Veiel, da Alemanha
Os brasileiros:
“A alma roqueira de Noel Rosa”, de Alex Miranda
“A nave – uma viagem com a Jazz Sinfônica de SP”, de Luiz Otávio de Santi
“As canções”, de Eduardo Coutinho
“Teus olhos meus”, de Caio Sóh
“Marighela”, de Isa Grinspum Ferraz e
“Mundo invisível”, filme de episódios de vários diretores internacionais, concebido por Leon Cakoff.
Vamos esperar que belos filmes, como “Respirar”, de Karl Markovics, da Áustria, “Pater”, de Alain Cavalier, da França, ‘Elena”, de Andrey Zvyagintsev, da Rússia, “Desapego”, de Tony Kaye, dos Estados Unidos, “Sábado inocente”, de Alexander Mindadze, da Rússia, “Submarino”, de Richard Ayoade, da Inglaterra, “Veneza”, de Jan Jakub Kolski, da Polônia, “Vulcão”, de Runar Runarsson, da Dinamarca, “Loverboy”, de Catalin Mitulescu, da Romênia, “Halaw”, de Sheron Dayoc, das Filipinas, e o excelente documentário “A maleta mexicana”, de Trisha Ziff, do México, possam vir a ser exibidos.
“Toast”, de S. J. Clarkson, da Inglaterra, e “Frango com ameixas”, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, da França, têm tudo para serem lançados comercialmente também. Não devem decepcionar quem for vê-los.
EGITO, com exceção de "LAS ACACIAS" que achei uma monotonia enganadora, e "SE NÃO NOS, QUEM?", que não vi (além dos brasileiros - não vi nenhum, assisti outros, entre eles "VAI-VAI 80 ANOS", para mim um dos melhores da Mostra), parece que você leu minha mente para escrever seus comentários.
ResponderExcluirAbr, Francisco Monteagudo.