Tatiana Babadobulos
Carros 2 (Cars 2). Direção: John Lasseter e Brad Lewis. Roteiro: john Lasseter e Ben Queen. Com vozes na versão brasileira de Emerson Fittipaldi, Luciano do Valle, José Trajano, Claudia Leitte. Estados Unidos, 2011. 113 minutos
É verdade que um dos lançamentos da Pixar que não fizeram tanto sucesso foi “Carros”, longa-metragem lançado em 2006 e dirigido por John Lesseter, criador de “Toy Story”, o primeiro grande sucesso do estúdio. Um dos motivos para a “falta de sucesso” é o tema, claro, que é apreciado principalmente pelos meninos. Porém, com exceção do mercado interno, ou seja, os Estados Unidos, são poucos os países que se interessam por corridas de automóveis.
Mas quando se fala em pouco sucesso de um filme da Pixar, é quando comparado aos outros lançamentos do mesmo estúdio, já que foi a menor desde “Toy Story 2”. Porém, se comparado com outras produções, bem, é um sucesso total. Isso porque “Carros” rendeu, no final de semana de estreia nos Estados Unidos, mais de US$ 60 milhões. De acordo com David Price, no seu livro “The Pixar Touch: The Making of a Company”, a comparação de pouca arrecadação é relativa, porque “Carros” ainda era a segunda maior bilheteria do ano, depois do lançamento da Disney, “Piratas do Caribe: o Baú da Morte”.
Sobre as críticas, Lasseter disse: “Muita gente acha que Carros é um filme sobre carros ou que Procurando Nemo fala sobre peixes – Bolt sobre cachorro. Ok, mas esses são os personagens e parte de seu ambiente. Mas suas personalidades e histórias precisam transcender o que são, seja humano, cachorro, carro, peixe, o que for. Você precisa tocar as pessoas e eu sempre digo que é preciso fazer uma conexão com o público, mostrando a eles algo que lhes é familiar em algum nível, mas se ver diante de uma situação que nunca imaginou antes. Embora façamos pesquisa sobre todos os assuntos (carros, trailers, no caso de Bolt, ou peixes), a essência tem que atingir quem gosta, ou não, do assunto. Essa é minha filosofia.”
A continuação
Cinco anos depois do lançamento do primeiro filme, eis que Lasseter volta a dirigir o longa de continuação, ao lado do codiretor Brad Lewis. Trata-se de “Carros 2” (“Cars 2”), que desta vez está sendo lançado em cópias 2D, 3D e Imax 3D, em versões dubladas e legendadas. A que eu vi é dublada por personalidades como Emerson Fittipaldi, Luciano do Valle, José Trajano e a cantora Claudia Leitte.
Desta vez, o campeão das corridas que começou em Radiator Springs, Relâmpago McQueen, é desafiado pelo carro de corridas italiano, Francesco, cujas rodas pra fora encantam a Porsche que namora McQueen. O primeiro desafio do Grand Prix Mundial está marcado para acontecer no Japão. Mas o destaque maior da trama acaba sendo para o seu melhor amigo, o carro-guincho Mate, que se aventura como espião internacional.
A trama começa um pouco sinistra, é verdade, com espionagens, um barco no mar e de repente vários carros contra Brent Mustanburger. O excesso de personagens (ao todo, foram criados 145 novos) acaba confundindo o espectador. E o próprio enredo se torna chato, quando a referência é o combustível utilizado pelos carros de corrida...
O assunto não é nada infantil, ainda que há abordagens sobre amizade que podem cativar as crianças. Mas o que realmente chama a atenção em “Carros 2” é, sobretudo, a arte, o desenho, os detalhes que foram criados para construir a obra. Neste caso, “Carros” conquistou por conta do inusitado, o que já não ocorre desta vez. O que talvez possa chamar atenção é que a fita não se passa apenas nos Estados Unidos, além de não serem apenas carros, mas também barcos e aviões!
Há, por exemplo, referências aos locais por onde passam, ou seja, o Monte Fuji, no Japão. Em Paris, há passagens que remetem ao “Ratatouille”, que se passa na capital francesa. Mas aqui, Paris é visitada por Mate como parte de sua missão na espionagem internacional. Então, ele passa pela Pont des Arts, onde dois carros se beijam, e pela Catedral de Notre Dame. Na Itália, onde há corrida de rua (pelo menos neste filme), foi criado um visual fictício cidade costeira italiana de Porto Corsa, mas é uma combinação da pista feita nas ruas de Mônaco com a Costa Amalfitana e lá é feita homenagem aos seis irmãos Maserati (Enzo, Bindo, Carlo, Alfieri, Ettore e Ernesto).
Para finalizar, a última corrida é realizada em Londres, com destaque para alguns cartões postais, como o Big Ben, que aqui chama-se Big Bentley, além da própria rainha que aparece condecorando Mate como Sir por sua atuação.
O atrapalhado Mate, aliás, acrescenta o bom humor ao filme, principalmente quando está no Japão e se atrapalha com as letras e até mesmo confunde raiz forte com sorvete de pistache... Mesmo assim, lá pelas tantas o espectador pode se sentir entediado durante “Carros 2”, principalmente se não for um amante de carros...
Além dos dois primeiros “Toy Story”, Lasseter foi diretor de “Vida de Inseto” e produtor executivo de todos os outros filmes da Pixar. Foi dele, aliás, a ideia do filme e, para construir os personagens, passeou pela famosa Rota 66. Ele sempre conta que é orgulhoso do filme e que adora os carros, além, é claro, da animação.
Este é o 12º longa-metragem da Pixar, que está comemorando 25 anos. Em 2006, o estúdio foi comprado pela The Walt Disney Company, de modo que faz da Pixar uma subsidiária integral da empresa.
Em tempo: desde 1986, quando a Pixar Animation lançou seu primeiro curta-metragem, “Luxo Jr.”, lançou um por ano e vem apresentando um novo antes de cada longa. Ou seja, antes de “Carros 2”, o público pode conferir “Férias no Havaí”, apresentado por personagens de “Toy Story”. Provavelmente, como também já virou tradição, um novo curta deve ser acrescentado ao DVD.
Curiosidades
O nome do protagonista, Relâmpago McQueen, foi dado em homenagem a Glenn McQueen, ex-animador da Pixar que trabalhou no primeiro “Carros” e veio a falecer pouco antes de o filme ser lançado. Os pneus Lightyear de McQueen são uma referência a Buzz Lightyear, de “Toy Story”, assim como o seu número, 95, referência ao ano 1995, em que o mesmo filme foi lançado. Há ainda homenagem ao próprio Lasseter, no meio do filme, quando uma das propagandas aparecem em close, com o nome LassetAir.
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