quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Biutiful



Tatiana Babadobulos

Biutiful, Espanha, México, 2010. Direção e Roteiro: Alejandro González Iñárritu. Com: Javier Bardem, Maricel Álvarez e Hanaa Bouchaib. 147 minutos.

Escancarar os dramas urbanos no cinema está na moda. E qualquer semelhança em filmes provenientes de vários países não terão sido mera coincidência, uma vez que, seja na Europa ou na Amé­rica do Sul, os dramas são pare­cidos. Basta lem­brar dos conflitos com a polícia no brasileiro “Tropa de Elite” e “Tropa de Elite 2”, de José Padilha, ou o recente “Abutres”, do argentino Pablo Trapero.

Agora, é a vez de a Espanha mostrar o drama que acontece em Barcelona, aos olhos do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, também autor do roteiro, no filme “Biutiful”, que estreia nesta sexta-feira, dia 21 de janeiro.

Conhecido por ter dirigido filmes escritos por Guillermo Arriaga, que ficou conhecido como a trilogia do caos, formada por “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”.

A trilogia tem filmes formados por sequências não-lineares, mas “Biutiful” só tem um detalhe: começa com a cena final e dá a volta para retornar ao ponto de onde parou. Na trama, Uxbal (Javier Bardem) é pai de duas crianças e detém a guarda dos filhos porque a mãe é bipolar, trai o marido e vive bêbada. Embora seja tradicional no modo como cuida da família, seu trabalho não é, digamos, muito ortodoxo. Isso porque ele é espiritualmente sensitivo e ganha dinheiro indo a velórios para ouvir o que os mortos dizem. Outra ques­tão é que ele vive do dinheiro que ganha do mercado paralelo, informal: suborna a polícia para proteger os camelôs africanos que comercializam produtos chineses e piratas, como relógios, bolsas, filmes.

Em meio a esse caos urbano do qual é apenas um sobrevivente, Uxbal quer também se reconciliar no amor, cuidar dos filhos, mas recebe o prazo de dois meses para combater o câncer de próstata que deu metástase e se espalhou para os ossos e para o fígado.

Com a câmera muitas vezes na mão para mostrar o nervosismo e a pobreza nas ruas, Iñárritu também abusa dos closes, principalmente quando mostra a vida familiar em casa, o cochicho do pai e da filha vendo o anel. Há cenas chocantes, como a do porão, mas também é emocionante ver como o pai trata os filhos; ou irritante, quando a mãe larga o filho menor em casa, de castigo, e segue para os Pirineus, na fronteira da Espanha com a França, para ver a neve. A sequência na qual os camelôs saem correndo assim que veem a polícia lembra o centro de São Paulo, tal como quando os camelô veem a polícia se aproximando e gritam: “Olha o rapa!”

Javier Bardem se entrega ao personagem e convence o espectador de seu sofrimento, de sua angústia e do seu amor aos filhos. “Biutiful” trata, sobretudo, da paternidade, mas também do medo do filho perder o pai, tal como diz a garota, em uma passagem, enquanto Uxbal começa a fazer “contagem regressiva” e a filha diz: “Deve ser horrível não ter pai”, justamente quando ele diz que o seu morreu no México, país para onde fugiu quando Franco começou a per­seguir os espanhóis.

Ah, e sobre o nome do filme ser escrito Biutiful, com I, e não com E, como é correto, aguarde para conferir na fita: a explicação é mais simples que parece...
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Vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo filme dirigido pelos irmãos Cohen, “Onde os Fracos Não Têm Vez”, Bardem também fez a comédia de Woody Allen, “Vicky Cristina Barcelona”. Durante o Festival de Cannes, no ano passado, evento no qual a fita fez a sua estreia, Bardem ganhou o prêmio de Melhor Ator. Mas o filme não levou o Globo de Ouro. Para o Oscar, o longa foi pré-selecionado na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

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