domingo, 19 de dezembro de 2010

TRABALHO SUJO

                                                          Antonio Carlos Egypto



TRABALHO SUJO (Sunshine Cleaning). Estados Unidos, 2010. Direção: Christine Jeffs. Com Amy Adams, Emily Blunt, Alan Arkin, Jason Spevack. 91 min.


A família Norkowski, de classe média baixa, está em dificuldades financeiras para atender às suas necessidades. Rose (Amy Adams) tinha fama como chefe de torcida na escola, aspira ser corretora de imóveis, mas vive mesmo é de diarista, limpando casas. Um emprego bem melhor remunerado nos Estados Unidos do que no Brasil. Mas insuficiente para o que ela precisa. Sua necessidade mais imediata agora é poder pagar escola particular para seu filho Oscar (Jason Spevack), de 8 anos, que está sendo expulso da escola pública por seus comportamentos bizarros. Comportamentos que, por sinal, têm uma das fontes claras no jeito destrambelhado e descompromissado de Norah (Emily Blunt), sua tia e irmã de Rose.

Norah acabou de perder mais um emprego sem grandes perspectivas, num restaurante, e sua vida tem se resumido a transas eventuais e muita maconha. Ela mora com o pai, Joe (Alan Arkin), que vive em busca de ganhar dinheiro rápido, fazendo negócios de ocasião, como comprar camarões frescos a bom preço e revendê-los aos restaurantes. Quando consegue, bem entendido.

A luta pela sobrevivência já é difícil quando há competência e persistência. Com medo de se lançar, acomodação ou fantasia, fica tudo pior.

É quando surge para Rose a ideia de fazer de seu trabalho de faxineira uma profissão rentável. Ela descobre os caminhos que a levam a limpar casas ou locais onde aconteceu algum crime ou suicídio. Por esse tipo de limpeza, se paga muito bem. Ela leva Norah a trabalhar com ela e abre uma firma para isso: a Sunshine Cleaning, do título original. Esse é realmente um trabalho sujo, nojento, que exige estômago, mas dá dinheiro.

Uma atividade como essa não é algo simples de se lidar, também pelo lado emocional. Os objetos, as fotos, as lembranças, o estado das casas dos mortos, tudo isso acaba tocando-as bastante, Norah, especialmente. E é por esse lado que o filme vai mostrando a sujeira que costuma ser colocada em baixo do tapete e que acaba por exigir que se olhe para onde não se quer olhar, na vida pessoal e familiar.

Tendo que olhar e limpar o sangue e os detritos dos outros, é quase impossível não pensar em limpar sua própria sujeira escondida e resolver as coisas que estão incomodando. E por aí vai a trama, até que algumas confusões acabam entornando o caldo, exigindo novas escolhas e, talvez, novos caminhos.

A ideia é boa e o filme flui com alguma desenvoltura, mas sem conseguir aprofundar a questão. O registro de comédia acaba sendo um fator de dificuldades, já que a pretensão é de obter sorrisos e possibilitar reflexão. Mas para tentar fazer rir o filme se utiliza de situações-clichê e de cenas que transtornam a narrativa e que acabam não possibilitando uma abordagem mais rica do tema escolhido.

O próprio assunto – limpeza de locais onde se deu um crime ou suicídio – não se presta facilmente à comicidade. Encontrar o tom adequado é difícil. “Trabalho Sujo” não desanda, mas também não brilha. Fica no meio do caminho.

A produção é boa, o desempenho do elenco, também, há cenas bem construídas, que dão bem para curtir, mas o conjunto do trabalho é apenas mediano.

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