quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ENFIM VIÚVA


Antonio Carlos Egypto


ENFIM VIÚVA (Enfin Veuve). França, 2007. Direção: Isabelle Mergault. Com: Michèlle Laroque, Jacques Gamblin, Wladimir Yardonoff, Tom Morton, Claire Nadeau. 93 min.

Mulher tem alto padrão de vida: bela casa, muito conforto, serviçais. Tudo isso por conta de um casamento com um homem muito bem sucedido nos negócios, profundo conhecedor do que faz.

Esse casamento, no entanto, é para ela um tédio. O marido não se interessa por ela, não a valoriza, nem a respeita, mal a nota, na verdade. Embora ele dê tudo em termos materiais. Uma vida que, vista de fora, parece perfeita, um sonho, até.

Todo prazer dela está num amante que vive no porto. É uma relação de que todo mundo na cidade parece saber da existência. Menos o marido, claro.

Ela tenta se virar com as desculpas mais esfarrapadas, para ir ao encontro do amante. Mas não engana nem a própria empregada. Até que... ele morre abruptamente, num acidente. E é do que se segue a isso que trata esta comédia, que consegue extrair alguns sorrisos e risadas da plateia, explorando o inusitado da situação.

Os familiares que vivem fora da cidade, inclusive o filho casado, vêm para consolá-la. Veem tristeza e desamparo onde o que existe é alívio e uma ansiedade por uma viagem de que ninguém poderia suspeitar.

O mais interessante do filme é a constatação de que o ser humano se comporta de acordo com o que imagina que o outro sente. E interpreta as ações do outro a partir do referencial que armou para avaliá-las. Aí tudo parece completamente diferente do que de fato é.

A utilização do clichê interpretativo – aquilo que é socialmente esperado – pode nos levar a coisas absurdas, opostas às necessidades e desejos da outra pessoa. A menos que ela explicite, de forma assertiva, o que sente e o que quer, podemos atuar a léguas de distância dessas necessidades. Ou, até mesmo, bloqueá-las de forma intensa. Querendo ser solidários e ajudar, naturalmente.

A graça das situações de “Enfim Viúva” está no fato de que, em nenhuma hipótese, a protagonista poderia ser clara e assertiva no que queria ou pretendia, sem produzir um escândalo de razoáveis proporções. Então, tudo se complica. O espectador se faz cúmplice da protagonista e se diverte com isso.

“Enfim Viúva” é uma comédia sem maiores pretensões, além da diversão ligeira. Mas é possível extrair dela reflexões interessantes sobre as ações humanas e, principalmente, sobre as expectativas que regem os relacionamentos.

A produção é bem cuidada e o elenco é muito bom, tornando verossímeis cenas absolutamente improváveis, fazendo graça sem agredir a inteligência do espectador.

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