terça-feira, 24 de agosto de 2010

REFLEXÕES DE UM LIQUIDIFICADOR




Antonio Carlos Egypto


REFLEXÕES DE UM LIQUIDIFICADOR. Brasil, 2010. Direção: André Klotzel. Com Ana Lúcia Torre, Aramis Andrade, Selton Mello. 84 min.


Do diretor brasileiro André Klotzel me vêm à mente dois filmes, que achei muito bons. A “Marvada Carne”, de 1985, primeiro filme dele, era um mergulho divertido, ao mesmo tempo respeitoso e irônico, na vida caipira. Fernanda Torres brilha em momentos hilários do filme, onde ela contracena com a imagem de Santo Antonio, que não há meio de lhe arrumar casamento. Dionísio Azevedo personificava a alienação do matuto, que nunca sabia de nada, e por aí vai.

Muitos anos depois, já em 2002, o diretor lança “Memórias Póstumas”, com base na obra de Machado de Assis, e se sai muito bem, trazendo algumas cenas visualmente originais, levando o filme com leveza, enfatizando o humor do texto e obtendo ótimas interpretações.

Eis que agora André Klotzel nos apresenta “Reflexões de um Liquidificador”. O título já é completamente estranho. Mas o que o filme nos oferece é isso mesmo: o liquidificador virou personagem, melhor dizendo, protagonista de uma história, como sempre, bem humorada e cheia de ironia. Mas que tem, também, outros ingredientes, como ciúme, traição, crime e investigação. E, acreditem, o liquidificador participa ativamente de tudo isso.

O liquidificador fala, na voz de Selton Mello, e, como mói, pensa. Já vimos muito bicho falar e agir, plantas e árvores, e por que não alguns objetos? Mas liquidificador, uma máquina tão prosaica, restrita à cozinha, é uma ousadia, não é? E fazê-lo participar de tudo o que acontece – e que não é pouca coisa – exige uma trama bem montada e criativa. O resultado é ótimo. A gente se surpreende, se diverte e desfruta do ótimo desempenho de Ana Lúcia Torre e da interpretação vocal muito apropriada e irônica de Selton Mello. Sem dúvida vale uma ida ao cinema.

Cabe lembrar que o filme está sendo exibido, na cidade de São Paulo, em uma única sala: o espaço Unibanco Augusta, acompanhado de um curta-metragem, que varia conforme o horário da sessão, assim como os preços. Nos horários noturnos, a sessão é acompanhada de dez minutos de “stand-up comedy”, ao vivo. O lançamento garante um tempo de permanência em cartaz, para que o filme possa ser conhecido antes de sair meteoricamente do cinema, como acontece com muitos filmes mais elaborados ou menos comerciais, entre eles os brasileiros.

Para um filme original, como “Reflexões de um Liquidificador”, nada mais justo do que uma estratégia original de lançamento. Vida longa ao velho e simpático liquidificador, que André Klotzel colocou em primeiro plano no nosso cinema.

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