quarta-feira, 14 de abril de 2010

AS MELHORES COISAS DO MUNDO


Antonio Carlos Egypto


AS MELHORES COISAS DO MUNDO. Brasil, 2010. Direção: Laís Bodanzky. Roteiro: Luiz Bolognesi. Com Francisco Miguez, Felipe Galvão, Gabriela Rocha, Gabriel Illanes, Denise Fraga e Caio Blat. 100 min.


Filmes para adolescentes ou sobre a temática adolescente são oportunos, necessários e raros no cinema brasileiro. Quando tratam de temas e situações que ajudam os jovens e os educadores a compreender melhor e enfrentar questões, muitas vezes difíceis, que acompanham essa faixa de idade, isso é ótimo. Portanto, é muito bem-vinda a produção “As Melhores Coisas do Mundo”, filme dirigido por Laís Bodanzky, a partir de livros de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto.

A fita procura abarcar grande parte do universo-problema do adolescente urbano de classe média. E trata de família, cidadania e coletividade, aprendizagem, paz, sexualidade, subjetividade, afeto e vida. E também trata de diversidade. Enfim, mais ou menos tudo que poderia caber num filme sério sobre adolescência está lá. Tem até um projeto educativo para que os educadores façam uso do material em sala de aula ou fora dela. Tudo muito louvável.

Por que será, então, que o filme não conseguiu me entusiasmar? Talvez por isso mesmo. Tudo parece um tanto planejado, sob medida para uma função pedagógica. Do que é preciso falar? O que é que faltou tratar? Como encaixar uma mensagem importante aqui? O que seria correto e necessário abordar? Parece que os autores dos textos de origem, mas também a diretora e o roteirista do filme, tinham coisas assim em mente. Muitas cenas me sugeriram isso. Daí uma certa artificialidade da história contada e da forma como a trama se desenvolve.

Além disso, o tratamento dramático de algumas situações me parece excessivo, desproporcional. A tentativa de suicídio, documentada via Internet, de um dos personagens, porque seu amor de criança partiu para outra, não convence. Passou do ponto. É demais.

A forma como tantos alunos da escola zombam e agridem o personagem Mano (Francisco Miguez), quando sabem que seu pai saiu de casa para viver uma relação homossexual, também é impressionante. A meninada de classe média é tão absurdamente preconceituosa a esse ponto, em pleno século XXI? E é assim tão geral esse comportamento tacanho? Custo a crer. Pelo menos não é o que registra a minha experiência de educador, trabalhando justamente com o tema da sexualidade. Preconceitos são comuns, nada excepcionais, mas a gente avança e isso é nítido nos últimos trinta anos em que testemunhei a discussão desses temas. Foi excessiva a reação do grupo de alunos porque era preciso abordar, também, a violência na escola, não é mesmo?

O professor, muito competente e adequado, vivido por Caio Blat, é demitido pela escola, a partir de rumores sem comprovação e de depoimento maldoso de um aluno enciumado. Voltará ao corpo docente, mediante abaixo-assinado dos alunos. Ora, isso mostra a fragilidade das decisões da escola. E soa um tanto inverossímil, também.

A reação da mãe de Mano, a que foi abandonada pelo marido, vivida pela ótima Denise Fraga, soa também estranha, irreal. Ela não fala, se contém, aguenta tudo, até agressões dos filhos, porque é compreensiva, inteligente, racional. E quando se emociona ou sai da linha, é na hora certa, pelas razões certas, pura cumplicidade e solidariedade com o filho sofrido.

Está tudo muito certinho. Politicamente correto . Esse é seu ponto fraco. As intenções são ótimas, os dados de pesquisa nos quais se basearam as escolhas do filme são perceptíveis e lidam com a vida real. Ou melhor, vão além, exageram. É onde o argumento perde um pouco da força. Mas, de qualquer modo, não são fantasia, escapismo ou mero entretenimento. Será que os jovens classe média das grandes cidades vão se identificar com os personagens e as vivências mostradas no filme? A conferir.

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