Antonio Carlos Egypto
O Brasil sempre foi pródigo em grandes atrizes que marcaram a nossa história no teatro, no cinema ou na TV. Da estirpe de uma Cacilda Becker, temos em atividade Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Marília Pera, só para citar algumas.
Glória Pires é uma dessas grandes atrizes, para quem o ato de representar parece tão natural e que consegue convencer em papéis muito distintos. Ela está em cartaz nos cinemas de São Paulo em dois filmes: “Lula, o filho do Brasil”, de Fábio Barreto, e “É proibido fumar”, de Ana Muylaert.
Em “Lula, o filho do Brasil”, trata-se de reconstituir a história de superação, de luta pela sobrevivência, do homem que hoje governa o país e se tornou um mito de dimensões internacionais. O filme contribui para reforçar e ampliar o mito Lula. Rui Ricardo Dias é um ator revelação que cumpre bem o papel do Lula adulto. No entanto, é dona Lindu, a mãe de Lula, vivida por Glória Pires, quem rouba a cena. O filme segue a trajetória dela de coragem e determinação, criando seus muitos filhos com poucos recursos, em todos os sentidos, e termina com sua morte. Glória convence no papel de nordestina pobre, analfabeta, que constrói uma sabedoria de vida, se valendo de provérbios populares, um tanto de resignação e muita luta. É um papel marcante, comovedor. As situações vividas pela personagem são dramáticas praticamente todo o tempo.
Já em “É Proibido Fumar”, o registro é outro, é o da comédia do cotidiano no mundo prosaico de classe média de uma professora de violão, não muito empenhada, que acaba se envolvendo e se apaixonando pelo novo vizinho do apartamento ao lado: Max (Paulo Miklos). Ela é Baby, às voltas com um sofá que herdou de uma tia e que é cobiçado por outra irmã, e que muda o seu patamar de preocupações quando um novo caso de amor entra em cena. Mas o ciúme pode colocá-la em maus lençóis. Ou não. Nunca se sabe.
A interpretação de Glória Pires aqui também é muito convincente. Ela parece mesmo aquela figura menor de um mundo sem grandes ideais, onde as pessoas fazem o que podem para ser um pouco mais felizes, um papel quase oposto ao de dona Lindu. Ela dá vida a ambos, iluminando os dois filmes, bons cada um a seu modo. E que devem muito ao talento dessa grande atriz.
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