Antonio Carlos Egypto
SONHAR COM LEÕES.
Portugal/Brasil/Espanha, 2024.
Direção: Paolo Marinou-Blanco.
Elenco: Denise Fraga, João Nunes Monteiro, Joana Ribeiro, Sandra
Faleiro. 87 min.
“Sonhar com Leões” é uma coprodução Portugal, Brasil, Espanha, falada em
português do Brasil sem legendas, em português de Portugal e em espanhol, com
legendas. Protagonizada pela brasileira
Denise Fraga e pelo português João Nunes Monteiro. As legendas que acompanham as falas do
personagem Amadeu, de João Nunes, seriam dispensáveis, o ator tem ótima
dicção. Anoto isso como curiosidade.
A dupla formada pelos dois é um tanto insólita. Glória (Denise Fraga) é bem mais velha do que
Amadeu e eles vivenciam uma aproximação, uma amizade em situação-limite, que
vai até a manifestação do desejo e do romance.
O que, de certo modo, surpreende, mas vai bem.
O filme de Paolo Marinou-Blanco, também roteirista, é uma tragicomédia
sobre um tema delicado, difícil de lidar nesse registro: o suicídio. A questão do suicídio, para além dos
julgamentos morais e religiosos, que “Sonhar com Leões” praticamente não
explora, é uma coisa absolutamente prática e individual. Prática, porque escolher uma forma de se
suicidar não é fácil. Frequentemente, as
tentativas são frustradas por mau planejamento, por imperícia ou por falta de
um desejo real de chegar à morte, em muitos casos. Individual, porque as razões pessoais variam
enormemente, desde aqueles que, vivendo desenganados e em grande sofrimento,
aspiram genuinamente por abreviar esse final de vida, até aqueles que estão
desencontrados, a quem falta estímulo, tesão de viver, o que é algo passível de
ser resolvido
Até aqui, não se trata de nada cômico, embora, sim, apresente situações
que comportam ironia e até sarcasmo.
Trapalhadas, sem dúvida, fazem parte das tais tentativas
frustradas. E equívocos de avaliação
também.
O filme explora de forma cômica uma instituição chamada Toy Transition International que foi criada para obter lucro ensinando as pessoas a
se suicidar sem dor, com alegria e um sorriso forçado nos lábios, brincando, fazendo
exercícios por meio de aulas, palestras, workshops. Uma coisa ridícula que
mercantiliza a morte de forma capitalista, maximizando os lucros e reforçando a
hipocrisia. Essa é a parte da trama menos convincente enquanto execução. A
ideia é boa, mas não chega a funcionar como humor elegante. É meio apelativo. A
máscara do sorriso chega a ser constrangedora como solução.
O approach sobre a questão da
morte por suicídio, que resvala na eutanásia e na chamada morte assistida, é
muito adequadamente tratada. Sua abordagem é radical, direta e seca, também
fantástica, mortos falam, inclusive um cachorro. Mas o non sense não se esgota no absurdo, produz desafios e reflexões. O
final, que enfatiza a diversidade e a individualidade das experiências e
decisões, é perfeito.
De 03 a 15 de outubro no Cinesesc será possível ver excelentes filmes,
clássicos do cinema em cópias restauradas no ciclo COLEÇÃO RESTAURADOS. Destaco
uma maravilha que andava sumida: A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA, de Roberto
Santos,1965, filme baseado em Guimarães Rosa, com Leonardo Vilar em grande
atuação. Música de Geraldo Vandré. Dias 10/10, 17:30h e 14/10, 20h.
Mas tem muito mais coisas a ver como “Crepusculo dos Deuses” ” O
Discreto Charme da Burguesia”, ”O Encouraçado Potemkin”,” As Coisas Simples da
Vida”, “Sonhos”, de Kurosawa, ”Psicose”, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, ”Através
das Oliveiras”, “ Bye Bye Brasil” e outros mais. Na telona. Confira a
programação no Cinesesc São Paulo.
Para quem está no Rio de Janeiro é hora de acompanhar o FESTIVAL DO RIO 2025, com
produções de todo o mundo, 300 filmes, sendo 120 brasileiros.
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