sexta-feira, 3 de outubro de 2025

SONHAR COM LEÕES

Antonio Carlos Egypto

 


SONHAR COM LEÕES.  Portugal/Brasil/Espanha, 2024.  Direção: Paolo Marinou-Blanco.  Elenco: Denise Fraga, João Nunes Monteiro, Joana Ribeiro, Sandra Faleiro.  87 min.

 

“Sonhar com Leões” é uma coprodução Portugal, Brasil, Espanha, falada em português do Brasil sem legendas, em português de Portugal e em espanhol, com legendas.  Protagonizada pela brasileira Denise Fraga e pelo português João Nunes Monteiro.   As legendas que acompanham as falas do personagem Amadeu, de João Nunes, seriam dispensáveis, o ator tem ótima dicção.  Anoto isso como curiosidade.

 

A dupla formada pelos dois é um tanto insólita.  Glória (Denise Fraga) é bem mais velha do que Amadeu e eles vivenciam uma aproximação, uma amizade em situação-limite, que vai até a manifestação do desejo e do romance.  O que, de certo modo, surpreende, mas vai bem. 

 

O filme de Paolo Marinou-Blanco, também roteirista, é uma tragicomédia sobre um tema delicado, difícil de lidar nesse registro: o suicídio.  A questão do suicídio, para além dos julgamentos morais e religiosos, que “Sonhar com Leões” praticamente não explora, é uma coisa absolutamente prática e individual.  Prática, porque escolher uma forma de se suicidar não é fácil.  Frequentemente, as tentativas são frustradas por mau planejamento, por imperícia ou por falta de um desejo real de chegar à morte, em muitos casos.  Individual, porque as razões pessoais variam enormemente, desde aqueles que, vivendo desenganados e em grande sofrimento, aspiram genuinamente por abreviar esse final de vida, até aqueles que estão desencontrados, a quem falta estímulo, tesão de viver, o que é algo passível de ser resolvido

 

Até aqui, não se trata de nada cômico, embora, sim, apresente situações que comportam ironia e até sarcasmo.  Trapalhadas, sem dúvida, fazem parte das tais tentativas frustradas.  E equívocos de avaliação também.

 

O filme explora de forma cômica uma instituição chamada Toy Transition International que foi criada para obter lucro ensinando as pessoas a se suicidar sem dor, com alegria e um sorriso forçado nos lábios, brincando, fazendo exercícios por meio de aulas, palestras, workshops. Uma coisa ridícula que mercantiliza a morte de forma capitalista, maximizando os lucros e reforçando a hipocrisia. Essa é a parte da trama menos convincente enquanto execução. A ideia é boa, mas não chega a funcionar como humor elegante. É meio apelativo. A máscara do sorriso chega a ser constrangedora como solução.

 

O approach sobre a questão da morte por suicídio, que resvala na eutanásia e na chamada morte assistida, é muito adequadamente tratada. Sua abordagem é radical, direta e seca, também fantástica, mortos falam, inclusive um cachorro. Mas o non sense não se esgota no absurdo, produz desafios e reflexões. O final, que enfatiza a diversidade e a individualidade das experiências e decisões, é perfeito.

 




 

De 03 a 15 de outubro no Cinesesc será possível ver excelentes filmes, clássicos do cinema em cópias restauradas no ciclo COLEÇÃO RESTAURADOS. Destaco uma maravilha que andava sumida: A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA, de Roberto Santos,1965, filme baseado em Guimarães Rosa, com Leonardo Vilar em grande atuação. Música de Geraldo Vandré. Dias 10/10, 17:30h e 14/10, 20h.

Mas tem muito mais coisas a ver como “Crepusculo dos Deuses” ” O Discreto Charme da Burguesia”, ”O Encouraçado Potemkin”,” As Coisas Simples da Vida”, “Sonhos”, de Kurosawa, ”Psicose”, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, ”Através das Oliveiras”, “ Bye Bye Brasil” e outros mais. Na telona. Confira a programação no Cinesesc São Paulo.

 

Para quem está no Rio de Janeiro é  hora de acompanhar o FESTIVAL DO RIO 2025, com produções de todo o mundo, 300 filmes, sendo 120 brasileiros.



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